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JANSENISMO FRANCÊS NUM CÓDICE DA BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL<br />

Santos Padres nos ensinão, nada vejo que deve causar-vos embaraço. Tão bem se têm elles explicado<br />

sobre esta materia!<br />

Teotimo. Eu sei mui bem que a Igreja muitas vezes tem já declarado que a doutrina de Santo<br />

Agostinho a respeito da Graça e do livre arbitrio hé a mesmissima sua, e a que todos os seus Filhos<br />

devem abraçar. Reconheço por consequência que no estado de corrupção em que nos achamos<br />

para o bem, necessitamos absolutamente de h ~ ua Graça que em nós opere o querer e o fazer; e que<br />

seria fazer injuria à Graça de Jesus Christo submetella à nossa vontade. Porem, o que não sei hé<br />

concordar isto com a liberdade da nossa vontade, e com o merecimento das acções que a Graça nos<br />

faz fazer.<br />

Filopista. Não me admira que vos custe a concordar a Graça, que invencivelmente nos attrahe<br />

ao bem, com a liberdade e com o merecimento das nossas acções. Santo Agostinho mesmo confessa<br />

que bem poucos sabem comprehender de que modo nós sejamos livres quando Deus nos excita e<br />

move efficasmente a fazer o bem. Hoc pauci penetrare valent. Mas nem por isso devemos deixar de<br />

crêr h ~ ua verdade porque a não comprehendemos.<br />

Teotimo. A fé, sim, nos obriga a crêr ainda o que não comprehendemos: mas não prohibe<br />

que procuremos esclarecer-nos sobre as difficuldades que fazem com que não entendamos o que<br />

cremos.<br />

Filopista. Tendes razão. Assim como seria mao querer comprehender para crêr: assim também<br />

pelo contrario hé bom trabalhar por entender o que se crê.<br />

Teotimo. Não se pode logo entender de que modo a Graça por mais victoriosa que seja, se<br />

concorde com a liberdade da nossa vontade, e com o merecimento das nossas boas acções?<br />

Filopista. Sim, pode. Por isso mesmo que a difficuldade de concordar essa Graça com o livre<br />

arbitrio era o que mais difficuldade punha aos Pelagianos para confessarem a verdadeira Graça de<br />

Jesus Christo: assim tambem sobre coisa nenh ~ ua trabalhou Santo Agostinho com mais efficacia do<br />

que sobre essa concordia.<br />

Teotimo. Vós sempre receaes que esta difficuldade diminua a minha fé, e me obrigue a não<br />

reconhecer a Graça victoriosa. São isso effeitos da vossa charidade, mas por esta mesma vos peço me<br />

não recuseis as luzes que vehementemente vos imploro.<br />

Filopista. Toda a difficuldade que o nosso espirito acha em concordar a Graça com a liberdade<br />

vêm da falsa idea que ordinariamente fazemos de liberdade e livre arbitrio.<br />

Teotimo. Pois a liberdade do homem não consiste em hum poder igual, que todos temos, de<br />

querer e de não querer, ou de querer h ~ ua coisa ou outra; de sorte que dependa unicamente da nossa<br />

escolha o fazer ou não fazer; e o fazer h ~ ua coisa ou outra?<br />

Filopista. Essa idea parece-me mais digna de hum Pagão, que não conhece a liberdade que<br />

Jesus Christo nos mereceo pella sua morte que de hum Christão, que sabe que todo o homem nasce<br />

escravo do pecado, e que só à Graça de Jesus Christo devemos toda a liberdade que possuimos para<br />

querer ou fazer o bem.<br />

Teotimo. Pello contrario me parece tanto mais justa e Christãa quanto com ella mais facilmente<br />

concorde o livre arbitrio com a Graça.<br />

Filopista. E chamais vós Christaã h ~ ua idea de liberdade que não se concorda com a Graça<br />

senão destruindo-a?<br />

Teotimo. Quê? Esta idea de liberdade destroe a Graça? Explicae-me como.<br />

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