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Jansenismo e antijansenismo nos finais do antigo regime<br />
R. Não. Porque ainda que Deos não os tenha escolhido por cauza das boas obras que elles houvessem<br />
de fazer, escolheo-os contudo e predestinou-os para fazerem essas boas obras, e fazendo-as,<br />
salvarem-se; de sorte que as boas obras são effeito e não cauza da sua predestinação.<br />
D. Porem se Deos elegeo huns e não outros, tanto para a graça como para a gloria não se vê<br />
nisso h ~ ua accepção de pessoas? E não hé isso contrario ao que diz o Apostolo – Non est apud Deum<br />
personarum acceptio.<br />
R. Não se pode dizer que haja accepção de pessoas, quando se não deve nada nem a huns nem<br />
a outros, assim como tambem quando não em consideração da pessoa, mas por pura bondade e<br />
liberalidade se faz a h ~ ua alg ~ ua graça que a outra se não faz; de outro modo nunca poderia hum Rei<br />
perdoar a morte a hum criminoso, sem a perdoar também a todos os outros que merecessem a<br />
mesma pena.<br />
D. Applicai isso ao nosso ponto.<br />
R. Peccarão todos os hom ~ es em Adão, e pello seu peccado merecerão que Deos os condemnasse<br />
eternamente e para sempre os privasse de todas as graças e da gloria: Não sendo portanto Deos<br />
obrigado a dar a ninguem a sua graça e gloria, e podendo com justiça condemnar a todos sem excepção<br />
e deixallos na sua desgraça, não há nelle accepção de pessoas quando por hum puro effeito da<br />
sua bondade e misericordia escolhe a alguns para os salvar e livrar da condemnação que todos houverão<br />
incorrido, deixando nella os outros.<br />
D. Hé logo falso que Deos queira salvar todos os hom ~ es e que a todos sem excepção dê as graças<br />
precisas com que possão salvar-se, se quiserem; dependendo só delles o salvar-se e que aquelles<br />
que se não salvão, hé porque não querem?<br />
R. Sim, tudo quanto até aqui temos dito abona essa consequencia e prova ser ella conforme à<br />
Scriptura Santa.<br />
D. E não tendes mais alg ~ ua prova que sensivelmente demonstre ser verdadeira essa doutrina?<br />
R. Basta só o numero quasi infinito de meninos que todos os dias vemos morrer sem Baptismo;<br />
e os quaes por consequencia se não salvão, para invencivelmente provar que hé falso que<br />
Deos queira salvar geralmente a todos os hom ~ es, porque a todos dê graças para se salvarem e que<br />
dependa do homem salvar-se, se quiser.<br />
D. Qual então o motivo que impellio(moveo) a Deos a usar de misericordia com alguns, salvando-os<br />
e predestinando-os para a sua gloria?<br />
R. Nenhum outro senão a sua bondade infinita, que quis fazer resplandecer as riquezas infinitas<br />
da sua misericordia sobre aquellas creaturas a quem livra do castigo que merecido havião e a<br />
quem predestinou para h ~ ua gloria que já não podião merecer.<br />
D. E por que se não estendeo a sua vontade a salvar todos?<br />
R. Como todos peccarão em Adão, e peccando se constituirão reos de condemnação eterna;<br />
Deos uza de misericórdia para com aquelles a quem lhe apraz.<br />
D. E Deos não rejeita creatura nenh ~ ua senão pelos seos peccados?<br />
R. Sem duvida.<br />
D. Mas sendo Deos tão misericordioso porque razão não quiz elle salvar tanto huns como<br />
outros e não elegeo a todos sem distinção?<br />
R. Deos assim como hé misericordioso hé também justo. Assim como creou o Paraíso creou<br />
também o Inferno. Portanto assim como para com huns faz resplandecer as riquezas e a força da sua<br />
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