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JANSENISMO REGALISTA E ULTRAMONTANISMO<br />
1.º Esta These supõe que a Igreja nos manda crer a Conceição immaculada da Santa Virgem,<br />
o que he falso, porque ainda que a Igreja favorece esta pia e devota opinião, não a tem decedido por<br />
artigo da nossa Fé. O concilio de Trento somente declarou que não era da sua intenção comprehender<br />
a Senhora no decreto sobre o peccado original, declaração que só constitue hum ponto de<br />
disciplina e Providencia Eclesiastica a favor da puresa da Conceição e não hum dogma. Não prova<br />
o contrario a instituição da sua Festa, pois que a Igreja não quis tanto declarar com ella a puresa original<br />
de Maria, quanto honrar a sua santificação e a escolha que Deus fez della para Mãy de seu<br />
Filho, que por isso em outro tempo se chamava a Festa da Santificação, e não da Conceiçao da<br />
Senhora.<br />
2.º Nesta These taxa-se de insolentisima audacia a opinião contraria, sendo ao revez temeridade<br />
marcalla com similhante ferrete, e por hum vergão injurioso na reputação de Padres e de<br />
varões muito pios e muito doutos que a seguirão, maiormente depois que Xisto IV na sua bulla<br />
Grave nimis de 1486 confirmada na sessão do concilio de Trento sobre o peccados original, prohibio<br />
expressamente sob pena de excomunhão reservada à Santa Sé, que se tratassem não já como<br />
hereges, mas nem ainda como reos de peccado grave, os que não defendessem a puresa da Conceição<br />
da Santa Virgem.<br />
Proposição XII<br />
(No original These III. pag. 21)<br />
Neque duas (Christum) habere Personas Divinam et Humanam nec inter utramque Moralem<br />
esse unionem, fide credendum, cum dogma catholicum nos doceat unam in Christo Divinam tantum<br />
esse Personam.<br />
A censura do Ordinario a esta These tem duas partes: na 1.ª mandou omittir as palvras fide<br />
credendum e substituir lhe asserendum, o que he bem fundado.<br />
Elle não reprovou a doutrina desta These, mas só a maneira restricta e limitada de a ennunciar;<br />
huma vez que he dogma que em Christo não há mais do que huma só Pessoa, segue-se que de<br />
nenhum modo se deve crer, não só de Fé Divina, mas nem ainda de Fé Humana, que há nelle duas<br />
Pessoas. (por quanto há doutrinas, que posto se não devão crer como dogma por não estarem defenidas,<br />
podem todavia seguir-se como opiniões theologicas); por isso não bastava dizer restrictamente<br />
Nec fide credendum, mas sim absolutamente e sem alguma limitação ou distinção Nec asserendum,<br />
histo he, nullo modo asserendum, nec (sic) como dogma, nem ainda como opinião theologica.<br />
Por se não alcançar esta rasão, ou motivo da censura episcopal, se apregoou a emenda do<br />
Bispo de Nestoriano, não sem temeraria e escandalosa imputação e manifesta calumnia e falsidade;<br />
sendo pelo contrario, que parece deixar livre a cada hum seguir a doutrina das duas Pessoas em<br />
Christo, contanto que não seja por motivo de Fé Divina e a emenda do Bispo tão providente e<br />
orthodoxa que tira toda a duvida nesta materia e cerra todas as portas ao Nestorianismo.<br />
Com effeito elle diz que de nenhum modo se deve affirmar que em Christo há duas Pessoas,<br />
o que exclue absolutamente todo o erro dos Nestorianos; o Repetente diz que isto se não há de crer<br />
de Fé Divina, deixando entender que se pode seguir de Fé Humana, como huma opinião theologica.<br />
Reconhece que a Proposição do Repetente combina com as palavras da oração, que se lhe segue cum<br />
catholicum dogma pode ter hum sentido catholico, mas basta que tambem possa ter outro, que o não<br />
seja, para se haver por mal soante.<br />
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