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Jansenismo e antijansenismo nos finais do antigo regime<br />
Insistia, por isso, na rápida impressão.<br />
Porém, a necessária licença tardava a chegar. «Não há dúvida que já me vai tardando<br />
a saída da Dissertação da Real Mesa Censória (carta de 28 de Maio de 1772). E o Arcebispo<br />
apontava o dedo a algumas pessoas que, mesmo cultas, ainda «se lhes faz novo muitas coisas».<br />
Pressentia que reinava grande preocupação. Continuava, apesar de tudo, confiante.<br />
A verdade é que a pretendida reforma nunca veio a efectivar-se.<br />
Com efeito, a Dissertação do célebre oratoriano foi contestada, quer pelo Cabido de<br />
Braga, quer pelo Bispo de Penafiel e também deputado da Real Mesa Censória, D. Fr. Inácio<br />
de S. Caetano. A este se devem duas dissertações das quais uma foi impressa e outra<br />
ficou manuscrita, embora licenciada para publicação. Em 1773, D. Fr. Inácio, sob o pseudónimo<br />
de Lusitano Philopátrio, publica uma Dissertação Crítica e Apologética da authenticidade<br />
do 1.º concílio bracarense, celebrado em 411, vindicada contra os vãos esforços que,<br />
para provar a sua supposição, fizeram vários autores, e recentemente um sábio moderno.<br />
O P. Pereira de Figueiredo no capítulo X da sua dissertação negava a autenticidade do<br />
concílio bracarense de 411. Porque nele se dava um testemunho autêntico da existência e<br />
santidade de S. Pedro de Rates, primeiro Bispo de Braga, D. Fr. Inácio procura demonstrar<br />
a boa-fé de Bernardo de Brito na sua publicação (Monarquia Lusitana) contra o que dizia<br />
ser a má-fé do P. Pereira 45 .<br />
Na prefação da sua obra sobre o mesmo concílio, o Bispo de Penafiel assumia a autoria<br />
de «outra mui dilatada Dissertação a qual talvez ainda verá a luz pública» na qual defende a<br />
existência de S. Pedro de Rates, «com fundamentos irrefragáveis e com huma tradição constante<br />
desde os primeiros séculos do cristianismo até aos nossos tempos» esperando «reduzir<br />
a pó as objecções e fundamentos negativos com que se quiz impugnar» 46 .<br />
Também esta Dissertação não chegou a ver a luz pública. A de Pereira de Figueiredo<br />
nunca saiu da Mesa Censória, quer dizer, nunca foi licenciada, contra a expectativa certamente<br />
do autor, mas também do Arcebispo D. Gaspar. Diz Aragão Morato que foi o amor<br />
excessivo à glória nacional, a resistência às tradições modernas, revestidas da especiosa<br />
capa de antiguidade, e ainda motivos particulares que inviabilizaram a sua impressão 47 .<br />
A argumentação do Bispo de Penafiel com a qual triunfantemente julgava «reduzir a<br />
pó» as razões de Pereira, a quem chama «sapientíssimo crítico», é curiosa. Diz que os<br />
argumentos do sábio crítico para provar a suposição de S. Pedro de Rates, a quem venera<br />
a igreja de Braga, como discípulo de S. Tiago e seu primeiro prelado, e como a Santo as<br />
Igrejas do Porto, de Évora e agora as de Beja e Penafiel, a de Tui, Toledo e outras muitas,<br />
são puramente negativos. E se fossemos a negar todos os factos, só porque não falam neles<br />
45 Monarquia Lusitana, P. II, Livro V, cap. IV.<br />
46 Dissertação Crítica e Apologética da Authenticidade do Primeiro Concilio Bracharense celebrado em 411… vindicada contra<br />
os vãos esforços que para provar a sua suposição fizerão Gaspar Estaço.(…), Autor Lusitano Philopatrio. Lisboa: Na Off. Typ.,<br />
1773 (p. 6-7).<br />
47 Compendio da Vida e Escritos de António Pereira de Figueiredo, Biblioteca Nacional de Portugal, Fundo Geral, cod. 9842, p. 163.<br />
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