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Jansenismo e antijansenismo nos finais do antigo regime<br />
«deplorável ignorância». A maior parte ignora o que é útil e necessário a um perfeito eclesiástico.<br />
Uns, por falta de capacidade, outros por falta de aplicação e estudo, quase todos,<br />
porém, « porque foram nutridos com as doutrinas corruptas de um Corpo» que, particularmente<br />
nestes Reinos, procurou arredar os livros bons e substituí-los por livros maus e<br />
prejudiciais. Deste modo os que podiam iluminar os outros eram mantidos em profunda<br />
ignorância. A política metodicamente desenvolvida por este «Corpo infecto» pretendia<br />
dominar as consciências e obteve o seguinte resultado: os eclesiásticos deste Reino, e<br />
mesmo os de Espanha, nada ou pouco sabem do que é útil à Igreja e ao Estado. E os que<br />
sabem alguma coisa, melhor fora que o não soubessem, porque é prejudicial 17 .<br />
D. Fr. Inácio refere-se aos jesuítas cuja política, doutrina e moral obstavam a que os<br />
fiéis fossem solidamente instruídos.<br />
Assim, pela sua política, não convinha que alguém fosse instruído a fundo na Religião,<br />
porque um homem instruído pela Escritura, pela Tradição, pelos Concílios e pelos<br />
Padres da Igreja, dava logo com os seus erros. Tinham por isso os jesuítas todo o interesse<br />
em que se não lesse a Escritura nem as outras fontes puras da Teologia.<br />
Além disso, de acordo com a sua doutrina, o homem não é obrigado a praticar senão<br />
o que conhece. Para quê ilustrar-se mais? Alguns dos mais instruídos nos seus princípios,<br />
como o Cardeal Sfrondato, foram ao ponto de dizer que era um favor particular para<br />
alguns homens ignorar que há Deus. E assim, seguindo a lógica dos seus princípios, a ignorância<br />
das obrigações pode ser vantajosa e útil à salvação.<br />
Finalmente, as exigências da sua moral não demandavam grande instrução, porquanto<br />
a Religião se limitava a um culto exterior ao qual eram reservados apenas alguns<br />
intervalos da vida. A Deus basta conhecê-lo de maneira superficial e amá-lo raramente. Por<br />
outro lado, cultivar a ignorância produz fanáticos disponíveis para uma obediência cega –<br />
o que servia a política dos jesuítas. Que utilidade trazem aos párocos os La-Croix, Castros<br />
Palaos, Mazotas, Casnedos, Buzembaus e os seus livros que são herança deixada pelos jesuítas?<br />
A doutrina dos seus livros é oposta às máximas do Evangelho. É necessário erradicar<br />
toda a influência jesuítica. O método a seguir é o de iluminar o clero. Nesse sentido tem<br />
trabalhado Sua Majestade por meio da Real Mesa Censória, que elimina os livros com doutrinas<br />
perversas e promove a entrada no Reino da boa literatura. Toda a Europa reconhece<br />
já hoje que «o bom e o melhor está entre nós».<br />
Todavia, é escasso o proveito dos eclesiásticos, porque não conhecem línguas estrangeiras,<br />
sobretudo a francesa, na qual estas matérias são tratadas com profundidade. Para<br />
ajudar, tanto quanto é possível, as «piíssimas intenções do nosso Ministério», D. Fr. Inácio<br />
propõe-se escrever um livro na nossa língua, e contribuir para a instrução dos párocos nas<br />
doutrinas sólidas e verdadeiras 18 .<br />
17 Ibidem, Advertência,p.VI.<br />
18 Ibidem, Advertência, p. XII.<br />
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