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Jansenismo e antijansenismo nos finais do antigo regime<br />

ainda h ~ ua difficuldade me resta, e vem a ser, se alem dessa liberdade que hé inseparavel da vontade<br />

e lhe hé essencial, existe em nós também essa que se chama de indifferença?<br />

Filopista. Se por liberdade de indifferença se entender h ~ ua liberdade, pella qual a nossa vontade<br />

possa inclinar-se ou para hum ou para outro objecto, à proporção do modo com que lhe são<br />

propostos pella razão ou da maior ou da menor impressão que nella fazem; ninguém poderá negar<br />

que em todos os hom ~ es emquanto viverem neste mundo no meio dos bens e dos males que os cercão<br />

e sujeitos à inconstância que lhes faz querer ora h ~ ua coiza, ora outra, exista essa liberdade<br />

Teotimo. E em que consiste essa liberdade de indifferença que não recuzaes reconhecer? Hé<br />

acazo differente daquella que por modo nenhum quereis admittir, que consiste em podermos sempre<br />

escolher entre dois objectos aquelle que quizermos?<br />

Filopista. Hé grandissima a differença que há entre estas duas liberdades. Porque a liberdade<br />

ou poder que h ~ ua creatura tem de amar hum objecto para que propende; ou seja pello modo com<br />

que a razão o propõe à vontade ou pella impressão que nella forma (cauza) esse objecto; não exige<br />

nem suppõe que no mesmo ponto em que elle se determina a amar esse objecto, possa de repente e<br />

ao mesmo tempo deixar de o amar e amar outro opposto; de sorte que sempre hé livre, ainda<br />

mesmo quando a sua vontade o determina seja ao bem, seja ao mal. Porem a outra liberdade suppõe<br />

e pertende que ainda mesmo existindo ainda (sic) todos os motivos que nos movem a obrar; e<br />

no mesmo momento em que a vontade vai a determinar-se a querer h ~ ua coiza; possa ella absolutamente<br />

determinar-se a querer outra, não obstante os motivos que ainda existem para querer a primeira.<br />

O que de modo nenhum se pode concordar nem com a Graça, a qual nos faz querer o bem,<br />

nem com a concupiscencia que nos leva a querer o mal.<br />

Teotimo. Pois não nos diz o Concilio de Trento que o homem ainda quando hé movido pella<br />

Graça, pode, se quizer, rezistir-lhe e fazer o mal? Assim como por mais forte que seja a paixão que<br />

o puxe (arraste), sempre elle pode não obedecer-lhe e fazer o bem?<br />

Filopista. Sim, e hé isso h ~ ua verdade conforme ao que nos dizem os Santos Padres que o<br />

homem por mais forte que seja a Graça, que o previna e faça querer o bem, conserva sempre o poder<br />

de fazer o mal immediatamente que a Graça cesse de o mover; mas não no acto em que ainda lho<br />

faz querer. E hé também indubitavel que nos podemos, se quisermos, rezisitir sempre á Graça, por<br />

mais forte que ella seja; pois que se não lhe rezistimos hé porque não queremos; e se o não queremos<br />

hé porque a Graça no-lo não deixa querer, fazendo-nos querer o bem. Ora e pode-se acazo não<br />

querer actualmente h ~ ua coiza, hum bem, que actualmente se quer e se deseja? Com o que fica sendo<br />

igualmente certo que por mais forte que seja a paixão que nos arrasta ao mal, nós podemos não a<br />

seguir e praticar o bem, se a Graça vier em nosso socorro, e for tão forte que vença essa paixão.<br />

Porem dizer que sem o socorro da Graça isto possa ser, seria h ~ ua impiedade Pelagiana, assim como<br />

seria h ~ ua extravagancia o acreditar que a Graça não falta a h ~ ua pessoa que hé dominada pella sua<br />

concupiscencia e por ella arrastrada (sic).<br />

Teotimo. Confesso com effeito que hé tanto mais fácil de concordar com a Graça efficaz e com<br />

a cubiça dominante a primeira liberdade de indifferença seguida pellos Discipulos de S. Thomas, do<br />

que a outra defendida por Molina e seos sectarios, com a qual os Pelagianos combatião a doutrina<br />

de Santo Agostinho sobre a concupiscencia e a Graça. Porem não deixo de confessar tambem que<br />

esta segunda liberdade hé mais natural e mais propriamente lhe compete o nome de liberdade de<br />

indifferença, do que a primeira da qual parece improprio hum semelhante nome.<br />

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