Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag
Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag
Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
122<br />
CADERNOS DO <strong>CHDD</strong><br />
lately a<strong>do</strong>pted by the Admiral [Reynolds] in concert with yourself [Hudson],<br />
have produced precisely the sort of pressure which is calculated to<br />
counterbalance and overcome the influence of the slave-traders. 4<br />
A correspondência selecionada por Christie traça um retrato<br />
amplamente desfavorável ao Brasil. Entre os assuntos aborda<strong>do</strong>s podem<br />
ser cita<strong>do</strong>s os seguintes: efeitos econômicos e morais da escravidão,<br />
“conivência” das autoridades brasileiras com o tráfico de escravos,<br />
tratamento desumano dispensa<strong>do</strong> aos africanos livres, acusações de<br />
corrupção de funcionários alfandegários, “violação contínua” pelo Brasil<br />
de compromissos assumi<strong>do</strong>s em trata<strong>do</strong>s com a Grã-Bretanha,<br />
desconfiança britânica em relação às promessas <strong>do</strong> governo brasileiro,<br />
defesa da continuidade da Lei Aberdeen e importância da “ajuda” de<br />
cruza<strong>do</strong>res britânicos na supressão <strong>do</strong> comércio ilegal de escravos.<br />
ORIGENS DA QUESTÃO CHRISTIE<br />
As razões mais imediatas da Questão Christie são bem conhecidas.<br />
Primeiro, o naufrágio em 1861 da barca mercante Prince of Wales em<br />
local ermo da costa <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, cuja carga havia si<strong>do</strong> pilhada<br />
e os tripulantes encontra<strong>do</strong>s mortos, vítimas de afogamento ou, segun<strong>do</strong><br />
o lau<strong>do</strong> das autoridades brasileiras (contesta<strong>do</strong> pelo Cônsul Vereker),<br />
“asfixia por submersão”. As perdas sofridas e suspeitas de assassinato<br />
(nunca comprovadas) motivaram um pedi<strong>do</strong> britânico de indenização<br />
pecuniária pela “dilapidação <strong>do</strong>s salva<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s corpos”, que o governo<br />
brasileiro depois pagaria, sob protesto, encaminhan<strong>do</strong> ao Foreign Office<br />
um cheque nominal ao Banco da Inglaterra no valor de 3.200 libras.<br />
Segun<strong>do</strong>, o desentendimento em junho de 1862 com a polícia <strong>do</strong><br />
Rio de Janeiro e a subseqüente prisão por curto perío<strong>do</strong> de tempo de<br />
três oficiais da fragata H.M.S. Forte, entre eles o capelão <strong>do</strong> navio,<br />
to<strong>do</strong>s à paisana e sob efeito de álcool. Christie exigiu a punição das<br />
autoridades e <strong>do</strong>s policiais envolvi<strong>do</strong>s, bem como uma retratação pelo<br />
ocorri<strong>do</strong>, sob a alegação de que teria havi<strong>do</strong> ofensa à Marinha britânica.<br />
O caso seria posteriormente leva<strong>do</strong> ao arbitramento <strong>do</strong> Rei <strong>do</strong>s Belgas,<br />
Leopol<strong>do</strong> I, que apresentou lau<strong>do</strong> favorável ao Brasil. 5<br />
4 Palmerston a Hudson, Londres, 15 out. 1850. Ibid. p. 193-195.<br />
5 A correspondência apresentada ao Parlamento britânico sobre os <strong>do</strong>is incidentes foi publicada<br />
em 1863 com uma introdução escrita por Christie: The Brazil correspondence in the cases of the<br />
‘Prince of Wales’ and officers of the ‘Forte’ (Lon<strong>do</strong>n: William Ridgway, 1863).