Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag
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UM OLHAR BRASILEIRO SOBRE AS REPÚBLICAS DO PACÍFICO. MEMÓRIA DE DUARTE DA PONTE RIBEIRO – 1832<br />
preferência a outro. A extraordinária e rápida fortuna de alguns mineiros,<br />
fascina o empreende<strong>do</strong>r, e não lhe deixa ver a miséria em que vive a<br />
maior parte: consumin<strong>do</strong> o primeiro capital sem resulta<strong>do</strong> efetivo, forçoso<br />
é contrair dívidas para continuar os trabalhos; e se sobrevêm o grande,<br />
e muito comum, inconveniente de inundar-se a mina, a ruína é certa.<br />
Nesse esta<strong>do</strong> estão quase todas as <strong>do</strong> Cerro de Pasco. Pode dizer-se<br />
que esta ramificação <strong>do</strong>s Andes é um monte de prata; porém as<br />
minas se inundam facilmente, porque chove ali muito, e tem encima<br />
um vão. Para remediar este mal, man<strong>do</strong>u o Governo espanhol principiar<br />
uma grande vala horizontal que devia penetrar a base <strong>do</strong> Cerro para a<br />
filtração se fazer por ali. Muito tempo e dinheiro se gastou nesta obra,<br />
que a revolução veio interromper; e o Governo patriota não poden<strong>do</strong><br />
continuá-la, também por falta de outros recursos, vendeu estas minas<br />
a diversos. Para esgotá-las se organizaram em Londres duas diferentes<br />
sociedades de ingleses e peruanos: uma e outra remeteu máquinas<br />
calculadas sobre teoria e inadaptáveis à configuração irregular das minas;<br />
que a cada passo mudam de direção, tanto horizontal como<br />
perpendicular, porque o mineiro segue sempre a beta ou veio <strong>do</strong> metal.<br />
É por estas escabrosas e escusas tortuosidades, que o índio conduz à<br />
superfície o material escava<strong>do</strong>.<br />
Depois de muitas desordens, e desenganos, convencionaram os<br />
diretores das duas companhias e outros proprietários, em formar uma<br />
sociedade por ações, para abrir no meio <strong>do</strong> cerro um poço de 160<br />
palmos de profundidade e 20 de diâmetro, para receber a água das<br />
minas, e esgotá-la dalí com máquina de vapor. Se a filtração destas<br />
não fosse bastante e precisassem rasgos de comunicação, este trabalho<br />
seria à custa de cada proprietário. A sociedade tem a receber por esta<br />
empresa, a décima parte <strong>do</strong> metal que se extrair. A obra principiou em<br />
1827; e ten<strong>do</strong> o terreno apresenta<strong>do</strong> mil dificuldades, só agora pôde<br />
concluir-se. Quase não há filtração; as minas estão no mesmo esta<strong>do</strong><br />
que antes; são necessários os rasgos de comunicação; e estes além<br />
de dispendiosos, hão de levar muito tempo. Entretanto continuará<br />
sem utilização este foco da riqueza peruana. Cusco, e Puno, têm<br />
também minas de prata, porém menos produtivas: por toda a parte<br />
há de ouro; mas só no Departamento de Arequipa se trabalham com<br />
vantagem. Nem to<strong>do</strong>s os índios são próprios para trabalhar as minas,<br />
particularmente as de prata; a cujo duro exercício só resistem os<br />
acostuma<strong>do</strong>s a ele desde pequenos. Ainda que tenham minas de<br />
cobre, não se ocupam delas.<br />
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