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Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag

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“I HAVE NO THOUGHT OF RETURNING TO RIO…” REVENDO AS NOTAS DO SR. CHRISTIE SOBRE O BRASIL<br />

Claro está que os <strong>do</strong>is incidentes, toma<strong>do</strong>s isoladamente, não<br />

seriam capazes de produzir a incrível celeuma criada em torno <strong>do</strong><br />

assunto, culminan<strong>do</strong> no rompimento de relações diplomáticas, em 25<br />

de maio de 1863, depois que Londres havia recusa<strong>do</strong> a dar satisfações<br />

pela violação da soberania territorial brasileira durante as represálias<br />

levadas a cabo por navios de guerra britânicos em águas jurisdicionais<br />

<strong>do</strong> Império. O jornal The Morning Herald, por exemplo, usan<strong>do</strong> de<br />

certa ironia, acusou o governo britânico de ir à guerra contra o Brasil<br />

por conta de “três marinheiros bêba<strong>do</strong>s e a abertura de algumas<br />

caixas lançadas ao litoral por um naufrágio”. 6 É lícito supor que não<br />

teria havi<strong>do</strong> uma Questão Christie se não fosse o longo histórico de<br />

atritos e frustrações nas relações entre os <strong>do</strong>is países.<br />

O problema da escravidão era central nesse contexto. Christie<br />

defendia a liberdade tanto <strong>do</strong>s escravos trazi<strong>do</strong>s ilegalmente ao Brasil<br />

desde 1831 quanto <strong>do</strong>s emancipa<strong>do</strong>s, africanos livres que por vários<br />

motivos ainda viviam em regime de maus-tratos e servidão. O caso<br />

mais comum era o <strong>do</strong>s escravos encontra<strong>do</strong>s a bor<strong>do</strong> de navios<br />

negreiros e posteriormente declara<strong>do</strong>s “livres” pelo tribunal da comissão<br />

mista no Rio de Janeiro, criada por Convenção de 1826. Já nas primeiras<br />

páginas de Notes on Brazilian questions, ansioso por mostrar que um<br />

deputa<strong>do</strong> brasileiro também via a “questão servil” sob o mesmo ângulo<br />

visto de Londres, Christie inseriu uma nota de destaque à edição de<br />

Cartas <strong>do</strong> Solitário, de autoria de Tavares Bastos, político e escritor<br />

alagoano sensível ao destino <strong>do</strong>s africanos livres, estima<strong>do</strong>s naquela<br />

época em torno de 10 mil no Brasil.<br />

Para Christie, o Brasil agia na questão <strong>do</strong>s emancipa<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong><br />

as mesmas táticas protelatórias empregadas anteriormente no caso<br />

<strong>do</strong> tráfico negreiro. Além disso, na sua opinião, o direito britânico de<br />

ingerência teria si<strong>do</strong> assegura<strong>do</strong> por trata<strong>do</strong> com o Brasil:<br />

The course of the Brazilian Government about the emancipa<strong>do</strong>s has<br />

been like that which it pursued about the slave-trade. Left to itself, it did<br />

nothing; it treated for a long time with neglect representations of the<br />

English Government; it did not answer notes. When obliged to reply, it<br />

protested that its dignity did not allow it to act while pressed by a foreign<br />

Government; it resented interference, and claimed to be left free to execute<br />

its own laws, forgetting that treaty-stipulations gave a right to England to<br />

interfere. At last, after force had been used, and the English Government<br />

6 Ibid. p. XVII.<br />

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