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Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag

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“I HAVE NO THOUGHT OF RETURNING TO RIO…” REVENDO AS NOTAS DO SR. CHRISTIE SOBRE O BRASIL<br />

unilateral de privilégios por parte <strong>do</strong> Brasil. No entanto, a posição brasileira<br />

em relação à presença da Grã-Bretanha no país era ambígua. O Marquês<br />

de Abrantes assinalou que uma nação, “embora comparativamente<br />

fraca em relação a outra”, não podia ser indiferente a “atos que se<br />

traduzem em humilhação de sua soberania e de sua dignidade”. Ao<br />

mesmo tempo, porém, Abrantes destacava as “importantíssimas<br />

relações que ligam a Grã-Bretanha ao Brasil”, reconhecidamente de<br />

grande relevância para a economia brasileira. 28<br />

Nesse contexto, atacar pessoalmente e demonizar a figura de<br />

Christie, ao invés de colocar a questão em termos de choque frontal e<br />

generaliza<strong>do</strong> entre os <strong>do</strong>is países, era uma forma de extravasar<br />

sentimentos nacionalistas de revolta e indignação enquanto se mantinha<br />

preservada a esfera econômica <strong>do</strong> relacionamento bilateral, claramente<br />

posta à margem da refrega. Acusa<strong>do</strong> de ser irascível, rude e insolente,<br />

Christie se transformou no bode expiatório perfeito. 29 Uma vez separadas<br />

as dimensões política e econômica, abriu-se o caminho que levaria o<br />

Ministro brasileiro em Londres, Francisco Inácio de Carvalho Moreira, a<br />

comunicar ao Foreign Office o rompimento de relações diplomáticas.<br />

O governo britânico decerto não esperava que a questão tivesse esse<br />

desfecho, o que apenas atesta o limita<strong>do</strong> grau de influência política que<br />

a Grã-Bretanha pensava então exercer sobre o Brasil, em contraste<br />

com a magnitude de seus interesses econômicos no país. 30<br />

O reatamento, como se sabe, ocorreu em 23 de setembro de<br />

1865, em meio (literalmente) à Guerra <strong>do</strong> Paraguai, quan<strong>do</strong> Edward<br />

Thornton apresentou a D. Pedro II, em Uruguaiana, a declaração<br />

solene <strong>do</strong> governo britânico de que não teria havi<strong>do</strong> a intenção de<br />

“ofender a dignidade <strong>do</strong> Império <strong>do</strong> Brasil” em 1863. Durante a fase<br />

de rompimento, os vínculos econômicos entre os <strong>do</strong>is países não<br />

sofreram interrupção e o Brasil chegou a obter <strong>do</strong>is empréstimos em<br />

Londres por intermédio <strong>do</strong> banqueiro Rothschild. Dizia-se também que<br />

28 Nota <strong>do</strong> Governo Imperial à Legação de S. M. Britânica, Rio, 29 dez. 1862. Relatório <strong>do</strong> MRE,<br />

1862, Anexo I.<br />

29 Ross Forman chamou a atenção para esse fenômeno ao assinalar que, no Brasil, Christie havia<br />

si<strong>do</strong> um “peão” usa<strong>do</strong> para externar “de mo<strong>do</strong> controla<strong>do</strong>” queixas maiores contra a Grã-Bretanha.<br />

R. G. Forman, Harbouring discontent: British imperialism through Brazilian eyes in the Christie<br />

Affair. In: Martin Hewitt (ed.), An age of equipoise? Reassessing mid-Victorian Britain. Aldershot:<br />

Ashgate, 2000. p. 234.<br />

30 A crise diplomática de 1863 foi interpretada por Manchester como um sinal claro de que a<br />

tradicional preeminência britânica no Brasil estava politicamente em declínio. Manchester, British<br />

preeminence in Brazil, p. 283.<br />

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