05.06.2013 Views

Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag

Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag

Cadernos do CHDD Nº 01 - Funag

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“I HAVE NO THOUGHT OF RETURNING TO RIO…” REVENDO AS NOTAS DO SR. CHRISTIE SOBRE O BRASIL<br />

persistia um estranhamento sur<strong>do</strong>, alimenta<strong>do</strong> por ressentimentos<br />

históricos e incompreensões de parte a parte.<br />

Além de to<strong>do</strong>s esses fatores, as origens da Questão Christie podem<br />

ser analisadas também <strong>do</strong> ponto de vista mais geral das peculiaridades<br />

<strong>do</strong> imperialismo britânico no século XIX e da ameaça de coerção sempre<br />

presente em relações marcadas pelas disparidades de poder. A Grã-<br />

Bretanha vitoriana nutria uma auto-imagem benevolente, confiante<br />

em seu papel de nação líder <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, baluarte <strong>do</strong> livre comércio e da<br />

civilização, dedicada a sua missão imperial de educar os povos atrasa<strong>do</strong>s<br />

e ensinar-lhes o caminho <strong>do</strong> progresso e <strong>do</strong> adiantamento moral. Muitos<br />

acreditavam sinceramente no caráter salutar de intervenções destinadas<br />

ao “melhoramento” daqueles que estavam sen<strong>do</strong> precisamente o objeto<br />

dessas medidas corretivas.<br />

Existia, porém, uma distância considerável entre as causas nobres<br />

que os britânicos diziam perseguir e a percepção que os demais povos<br />

tinham das ações realizadas contra eles em nome daqueles mesmos<br />

ideais. Como bem assinalou um estudioso nigeriano, o que se<br />

convencionou chamar de “palmerstonianismo” representava aos olhos<br />

<strong>do</strong>s outros países uma política de expansão <strong>do</strong>s interesses britânicos<br />

no exterior “pela força sempre que necessário”, justificada internamente<br />

por apelos a “imperativos morais”. 16<br />

Com efeito, Lord Palmerston notabilizou-se por sua defesa<br />

intransigente <strong>do</strong>s interesses britânicos e pelo recurso freqüente e sem<br />

remorsos <strong>do</strong>s instrumentos de poder à sua disposição para fazer valer<br />

esses interesses em qualquer circunstância. O caso Dom Pacífico foi<br />

um típico exemplo. Em 1850, à frente <strong>do</strong> Foreign Office, Palmerston<br />

enviou navios da Marinha Real para bloquear o porto de Atenas e exigir<br />

indenização <strong>do</strong> governo grego por danos à propriedade sofri<strong>do</strong>s por<br />

um cidadão britânico, nasci<strong>do</strong> em Gibraltar, que havia pedi<strong>do</strong> a proteção<br />

<strong>do</strong> governo de Sua Majestade. Palmerston aproveitou a ocasião para<br />

fazer uma ampla justificação de sua política na Câmara <strong>do</strong>s Comuns,<br />

comparan<strong>do</strong> os direitos de um súdito britânico em qualquer lugar <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> com a presumida proteção que um indivíduo na Roma Antiga<br />

teria se exclamasse: Civis Romanus sum (“Sou um cidadão romano”). 17<br />

16 Martin Lynn, British policy, trade, and informal empire in the mid-nineteenth century. In:<br />

Andrew Porter (ed.), The Oxford history of the British Empire, vol. III, The nineteenth century.<br />

Oxford: Oxford University Press, 1999. p. 106.<br />

17 Muriel E. Chamberlain, ‘Pax Britannica’? British foreign policy, 1789-1914. Lon<strong>do</strong>n: Longman,<br />

1988. p. 98.<br />

127

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!