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Contornos do Indizível: o estilo de Clarice Lispector - Fale - UFMG

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128<br />

Em Tese, Belo Horizonte, v. 10, p.128-132, <strong>de</strong>z.2006<br />

“A Bela e a Fera ou a Ferida Gran<strong>de</strong> Demais”, <strong>de</strong> <strong>Clarice</strong><br />

<strong>Lispector</strong>: transtextualida<strong>de</strong> e transcriação<br />

Resumo<br />

Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />

Luciene Guimarães <strong>de</strong> Oliveira<br />

A partir <strong>do</strong> corpus literário constituí<strong>do</strong> pelos contos “A Bela e a<br />

Fera ou a ferida gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais”, <strong>de</strong> <strong>Clarice</strong> <strong>Lispector</strong>, “Uma<br />

xícara <strong>de</strong> chá” <strong>de</strong> Katherine Mansfield, <strong>do</strong> conto <strong>de</strong><br />

encantamento “La Belle et la Bête”, e <strong>do</strong> filme <strong>de</strong> Jean Cocteau<br />

A Bela e a Fera, articula-se a teoria da transtextualida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>senvolvida pelo francês Gérard Genette, com o conceito <strong>de</strong><br />

transcriação, <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> <strong>de</strong> Campos.<br />

Palavras-chave: <strong>Clarice</strong> <strong>Lispector</strong>. Katherine Mansfield. Jean Cocteau.<br />

Transtextualida<strong>de</strong>. Transcrição.<br />

Numa crônica publicada no livro A <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a escritora <strong>Clarice</strong><br />

<strong>Lispector</strong>, indagada sobre qual seria o primeiro livro <strong>de</strong> sua vida, diz que prefere falar<br />

sobre o “primeiro livro <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong> minhas vidas” (LISPECTOR, 1999, p. 425). Um<br />

primeiro gosto literário foi experimenta<strong>do</strong> com alguns contos <strong>de</strong> encantamento. Em<br />

outra vida que teve, aos 15 anos, <strong>Clarice</strong> se <strong>de</strong>para com o texto da escritora<br />

neozelan<strong>de</strong>za Katherine Mansfield e, a partir <strong>de</strong> então, não consegue <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

exprimir uma admiração pela vida e obra <strong>de</strong>ssa escritora. Uma afinida<strong>de</strong> literária<br />

manifestada em cartas, entrevistas, <strong>de</strong>poimentos, além da crônica citada. No último<br />

ano <strong>de</strong> vida, <strong>Clarice</strong> parece resgatar algumas <strong>de</strong>ssas “vidas” ao escrever seu último<br />

conto, em 1977, publica<strong>do</strong> em 1979, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> organiza<strong>do</strong> por Olga Borelli: “A Bela e a<br />

Fera ou a ferida gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais”.<br />

A partir <strong>do</strong> título, já se indicia um conto <strong>de</strong> encantamento: “A Bela e a Fera” ou<br />

“La Belle et la Bête”, <strong>de</strong> Jeanne-Marie Leprince <strong>de</strong> Beaumont. Avançan<strong>do</strong> um pouco<br />

mais na leitura <strong>do</strong> conto <strong>de</strong> <strong>Clarice</strong>, outro texto se insinua, quan<strong>do</strong> se entrevêem<br />

traços <strong>do</strong> conto <strong>de</strong> Katherine Mansfield “A cup of tea”, traduzi<strong>do</strong> no Brasil em seu<br />

senti<strong>do</strong> literal: “Uma xícara <strong>de</strong> chá”. <strong>Clarice</strong> retoma, então, em seu último conto,<br />

textos das “vidas” que teve: o conto <strong>de</strong> encantamento e um texto da escritora<br />

naturalizada inglesa, uma rara afinida<strong>de</strong> assumida no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua carreira.<br />

O teórico francês Gérard Genette associa a retomada a outros textos à imagem<br />

<strong>de</strong> um palimpsesto: um pergaminho utiliza<strong>do</strong> na antigüida<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong><br />

escrita fazia-se por superposição. Nas camadas <strong>de</strong> um palimpsesto, “uma primeira<br />

inscrição foi raspada para se traçar outra, que não a escon<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que se<br />

po<strong>de</strong> ler por transparência, o antigo sob o novo” (GENETTE, 2005, p. 5). Na concepção

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