Contornos do Indizível: o estilo de Clarice Lispector - Fale - UFMG
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Resumo<br />
Em Tese, Belo Horizonte, v. 10, p. 22-28, <strong>de</strong>z. 2006<br />
Leituras da Mimese<br />
Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />
Alexandrina Angela da Silva Neta<br />
Análise da mimese na obra <strong>de</strong> Platão e Barthes, a partir <strong>de</strong> O<br />
<strong>de</strong>mônio da teoria, <strong>de</strong> Antoine Compagnon, <strong>de</strong> cujas idéias se<br />
discorda parcialmente. Associação da subversão/repressão,<br />
supostamente inserida na concepção <strong>de</strong> mimese <strong>de</strong>sses<br />
autores, a um discurso notadamente retórico.<br />
Palavras-chave: Representação. Argumentação. Subversão. Repressão.<br />
Tem-se como ponto <strong>de</strong> partida, neste trabalho, uma discordância com relação à<br />
leitura que Antoine Compagnon faz, em seu livro O <strong>de</strong>mônio da teoria, da mimese em<br />
Platão e Barthes. Compagnon diz que a mimese em Platão é consi<strong>de</strong>rada subversiva e,<br />
em Barthes, repressiva e também que para receber qualificativos tão distancia<strong>do</strong>s não<br />
se trata da mesma noção, que <strong>de</strong> Platão a Barthes essa noção foi invertida. O autor<br />
propõe, ainda, sair da alternativa entre a literatura falar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ou da própria<br />
literatura, ou seja, estabelece o caminho da aporia (COMPAGNON, 1999, p. 98-99).<br />
Quanto a Platão, concorda-se com Antoine Compagnon com relação à mimese<br />
ser consi<strong>de</strong>rada subversiva, mas discorda-se das colocações que justificam essa<br />
consi<strong>de</strong>ração. Compagnon diz que Platão é tão normativo que expulsa os poetas da<br />
cida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> contextualizada, porém, essa expulsão po<strong>de</strong> tomar um senti<strong>do</strong> muito<br />
diferente <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> vista isoladamente. Então, talvez não se <strong>de</strong>va simplesmente<br />
pensá-la em si, mas sim consi<strong>de</strong>rar os motivos que a condicionam. E o que parece é<br />
que havia três gran<strong>de</strong>s grupos — poetas, retores, filósofos — sem limites <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s,<br />
mas possuin<strong>do</strong> (to<strong>do</strong>s eles) o lógos como matéria <strong>de</strong> ofício. Venha daí, talvez, a<br />
insistência <strong>de</strong> Platão em <strong>de</strong>nominar a sua prática <strong>de</strong> filosofia, estabelecen<strong>do</strong> esta como<br />
superior à poesia e à retórica, ou seja, tornan<strong>do</strong> o seu lógos autoriza<strong>do</strong>. A necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> legitimar esse lógos faz-se ainda maior ante a consciência da fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le. Se a<br />
limitação humana é em muito estabelecida pela astenia <strong>do</strong> próprio lógos, pela sua<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer o mun<strong>do</strong> sensível (estabelecer, sem falhas, a relação<br />
palavra/coisa), no caso específico <strong>de</strong> Platão, o lógos é, além disso, impossibilita<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
alcançar o mun<strong>do</strong> inteligível e, portanto, a verda<strong>de</strong> das coisas. Mas, se, por um la<strong>do</strong>, o<br />
lógos não permite um acesso completo à idéia, por outro, é no seu espaço que se<br />
vislumbra a verda<strong>de</strong>. O que parece é que é ele o media<strong>do</strong>r <strong>de</strong> to<strong>do</strong> um processo <strong>de</strong><br />
construção em vários níveis <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong> filósofo, <strong>do</strong>s quais cumpre trazer à luz pelo<br />
menos <strong>do</strong>is: habilitar para o exercício autoriza<strong>do</strong> <strong>do</strong> uso da palavra um certo indivíduo<br />
que pretendia fazer <strong>de</strong>sta um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida pauta<strong>do</strong> pela moral e busca da virtu<strong>de</strong>, ou<br />
seja, construir o lugar <strong>do</strong> filósofo e prover a or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> cuja