Contornos do Indizível: o estilo de Clarice Lispector - Fale - UFMG
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Em Tese, Belo Horizonte, v. 10, p. 80-84, <strong>de</strong>z. 2006<br />
A Crônica da Memória:<br />
uma leitura <strong>de</strong> A menina sem estrela, <strong>de</strong> Nelson Rodrigues<br />
Resumo<br />
Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />
Giselle Vitor da Rocha<br />
Este ensaio investiga as formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos <strong>do</strong> texto<br />
memorialístico encontradas em A menina sem estrela, <strong>de</strong><br />
Nelson Rodrigues, através <strong>do</strong>s fragmentos <strong>de</strong> memória<br />
construí<strong>do</strong>s pelo narra<strong>do</strong>r. Para isso, estruturamos os conceitos<br />
<strong>de</strong> memória, <strong>de</strong> texto memorialístico e <strong>de</strong> crônica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa<br />
obra.<br />
Palavras-chave: Nelson Rodrigues. Memória. Texto memorialístico. Crônica.<br />
Analisar a obra <strong>de</strong> Nelson Rodrigues me trouxe muitas inquietações,<br />
principalmente, relacionadas à escrita das crônicas. Com tantos atributos da<strong>do</strong>s à sua<br />
produção — dramaturgo, jornalista, contista, romancista e cronista — pensar o <strong>estilo</strong><br />
<strong>de</strong> suas crônicas causaram em mim um gran<strong>de</strong> interesse, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a minha formação<br />
que abrange tanto o <strong>estilo</strong> jornalístico como o literário. Esse artigo procura pensar as<br />
peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um livro que abrange o factual e o poético, além <strong>do</strong> conceito<br />
memorialístico.<br />
Além <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scritas acima, Nelson foi também memorialista.<br />
Em 1967 foi pedi<strong>do</strong> pelo jornal Correio da Manhã ao escritor que escrevesse suas<br />
memórias. Essas seriam publicadas diariamente em formato <strong>de</strong> crônica. As memórias<br />
começaram a ser veiculadas em 18 <strong>de</strong> fevereiro, porém, em 31 <strong>de</strong> maio (<strong>do</strong>is meses e<br />
meio <strong>de</strong>pois) a série é encerrada, por <strong>de</strong>sentendimentos entre ele e o jornal. Pouco<br />
<strong>de</strong>pois, o jornal reúne em um livro, As memórias <strong>de</strong> Nelson Rodrigues — a menina sem<br />
estrela, conten<strong>do</strong> as primeiras 39 crônicas. Somente em 1993, as oitenta crônicas<br />
foram reunidas em livro, pela Companhia das Letras, intitula<strong>do</strong> A menina sem estrela.<br />
Segun<strong>do</strong> Ruy Castro, em O anjo pornográfico (1992) — livro autobibliográfico<br />
sobre Nelson Rodrigues — as memórias <strong>de</strong>sse foram anunciadas na primeira página <strong>do</strong><br />
Correio da Manhã, durante semanas, com indisfarça<strong>do</strong> orgulho <strong>do</strong> jornal. Essas seriam<br />
publicadas na primeira página <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> ca<strong>de</strong>rno, um local muito privilegia<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>sses veículos <strong>de</strong> comunicação. Apesar <strong>de</strong> ter como título, durante sua publicação no<br />
jornal Correio da Manhã, “Reminiscências autobiográficas”, “nada impedia que Nelson,<br />
se quisesse, comentasse também os assuntos da atualida<strong>de</strong>.” (CASTRO, 1992, p. 353).<br />
Esse é o livro que será a base <strong>de</strong>sse artigo, principalmente, porque essas<br />
crônicas memorialísticas fizeram um enorme sucesso junto ao público, culminan<strong>do</strong> na<br />
reunião posterior em livro. Ruy Castro (CASTRO, 1992, p. 353) complementa: