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Contornos do Indizível: o estilo de Clarice Lispector - Fale - UFMG

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Em Tese, Belo Horizonte, v. 10, p. 178-182, <strong>de</strong>z. 2006<br />

capitalismo tardio. Já o alemão Jürgen Habermas empenha-se no resgate <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

emancipatório da razão iluminista, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o projeto inacaba<strong>do</strong> da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. O<br />

embate teórico permanece em plena efervescência, pois se trata <strong>do</strong> momento<br />

histórico, ou “pós-histórico”, pelo qual estamos passan<strong>do</strong>. Como diz Lúcia Santaella<br />

(CHALHUB, 1994, p. 24), “Não há como ‘separar o dançarino da dança’.”<br />

Um possível teatro pós-mo<strong>de</strong>rno está liga<strong>do</strong> às questões intrincadas ao <strong>de</strong>bate<br />

teórico a respeito <strong>do</strong> prefixo pós. No entanto, observamos que alguns aspectos <strong>do</strong><br />

teatro contemporâneo, como a recusa à linearida<strong>de</strong> narrativa, em prol da<br />

<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> e da interposição <strong>de</strong> linguagens, se fortaleceram, enquanto que outras<br />

características, como a primordialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um texto dramático como ponto <strong>de</strong> partida<br />

para a criação cênica, por exemplo, estão sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong> la<strong>do</strong>.<br />

A Performance Art, que ganhou <strong>de</strong>staque a partir <strong>do</strong>s anos 60, representa em<br />

gran<strong>de</strong> medida uma forte expressão <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> teatro que busca romper com<br />

espaços físicos e teóricos, através <strong>do</strong> intercâmbio entre as artes visuais, a música, o<br />

corpo <strong>do</strong> intérprete e suas relações interativas com o especta<strong>do</strong>r. A palavra<br />

performance vem sen<strong>do</strong> incorporada, cada vez mais, por diversos setores da socieda<strong>de</strong><br />

e a<strong>do</strong>tada nos países <strong>de</strong> língua latina sem uma tradução literal. Esse termo, longe <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>finição enquadrada, trata <strong>de</strong> um espaço intermediário, on<strong>de</strong> obras em processo<br />

abrem novos e amplos caminhos nos mais diversos campos <strong>de</strong> conhecimento<br />

(sociologia, antropologia, lingüística, psicologia, artes visuais, música, dança,<br />

literatura, teatro, etc.). “Para vários críticos, acadêmicos e artistas no mun<strong>do</strong>,<br />

performance seria o teatro pós-mo<strong>de</strong>rno ou teatro contemporâneo <strong>de</strong> vanguarda.”<br />

(VILLAR, 2003, p. 76). Ou seja, o caráter transdisciplinar, que rompe os limites <strong>de</strong><br />

diversas mídias, permite, através <strong>do</strong>s novos conceitos, que o teatro esteja em<br />

processo permanente <strong>de</strong> negociação e intercâmbio com outras manifestações<br />

performáticas. Vale a pena ressaltar que, numa socieda<strong>de</strong> contraditória como a<br />

brasileira, por exemplo, a arte apresenta aspectos pós-mo<strong>de</strong>rnos que estão à frente <strong>de</strong><br />

outros setores, como o político, o econômico ou o administrativo, uma vez que<br />

trabalha multiculturalmente, in<strong>do</strong> das raízes eruditas e populares aos avanços<br />

tecnológicos, dialogan<strong>do</strong> com a fome, a miséria, a globalização, o excesso e a falta <strong>de</strong><br />

informação e formação humanas.<br />

O teatro pós-mo<strong>de</strong>rno ou o teatro performático, como tem si<strong>do</strong> explora<strong>do</strong> por<br />

vários grupos e artistas <strong>de</strong> diversos lugares, é caracteriza<strong>do</strong> por um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

elaboração <strong>do</strong> espetáculo teatral que utiliza a parataxe (processo <strong>de</strong> justaposição <strong>de</strong><br />

blocos), a collage, a multireferencialida<strong>de</strong>, a transversalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas, a dramaturgia<br />

<strong>do</strong> espaço, da luz e <strong>do</strong> som, além <strong>de</strong> relações provocativas com o especta<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> uso<br />

<strong>de</strong> outras mídias. É <strong>de</strong>sta forma que o GOM, a meu ver, caminha em direção a um<br />

teatro pós-mo<strong>de</strong>rno, que lida com o texto literário <strong>de</strong> forma mais livre, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

revisitar os clássicos, realizan<strong>do</strong> releituras e mo<strong>do</strong>s mais intrinca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> montagem.<br />

Há, no palco, uma relação <strong>de</strong> jogo entre os elementos, que se equivalem numa<br />

encenação.<br />

Pelo jogo entre o imaginário e o cotidiano, real e ficcional, a pesquisa <strong>do</strong> GOM<br />

caminha margeada pela imprevisibilida<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>terminação. “No jogo, tu<strong>do</strong> está<br />

prestes a per<strong>de</strong>r seu equilíbrio. Isso é indício <strong>de</strong> que o jogo não é pré-<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>,<br />

mas que se origina <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>terminação básica.” (ISER, 1996, p. 242) O imaginário,<br />

para Iser, está numa relação entre a consciência e o jogo, reconhecen<strong>do</strong>-se neste a<br />

imprevisibilida<strong>de</strong> como característica imanente.<br />

A mesma in<strong>de</strong>terminação que caracteriza a produção artística <strong>de</strong> um trabalho<br />

experimental como o <strong>do</strong> GOM se esten<strong>de</strong> aos processos <strong>de</strong> recepção e análise <strong>do</strong>s<br />

Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />

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