Contornos do Indizível: o estilo de Clarice Lispector - Fale - UFMG
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Em Tese, Belo Horizonte, v. 10, p. 91-97, <strong>de</strong>z. 2006<br />
Problemas Hermenêuticos em um Texto Técnico Antigo:<br />
o De architectura <strong>de</strong> Vitrúvio<br />
Resumo<br />
Este trabalho apresenta algumas consi<strong>de</strong>rações sobre o esta<strong>do</strong><br />
atual da recepção <strong>do</strong> De architectura <strong>de</strong> Vitrúvio, caracteriza<strong>do</strong><br />
por sérias divergências entre os estudiosos, as quais,<br />
geralmente, transcen<strong>de</strong>m as dificulda<strong>de</strong>s lingüísticas e po<strong>de</strong>m<br />
ser explicadas pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> processo hermenêutico<br />
ao longo <strong>do</strong>s séculos em que a obra tem si<strong>do</strong> estudada.<br />
Palavras-chave: Vitrúvio. De architectura. Recepção. Leitura.<br />
Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />
Júlio César Vitorino<br />
O léxico <strong>de</strong> Vitrúvio constitui um conjunto <strong>de</strong> palavras muito peculiar. De um<br />
total <strong>de</strong> aproximadamente cinco mil palavras, bem mais da meta<strong>de</strong> são termos<br />
técnicos, a maioria <strong>do</strong>s quais conheci<strong>do</strong>s somente através <strong>do</strong> autor ou atesta<strong>do</strong>s<br />
apenas em sua obra no senti<strong>do</strong> por ele utiliza<strong>do</strong>. Isso vale também para as palavras<br />
gregas, ou <strong>de</strong> origem grega, que constituem aproximadamente <strong>de</strong>z por cento <strong>do</strong> total,<br />
o que permite afirmar que o autor é importantíssimo para o conhecimento <strong>de</strong> uma<br />
parte conspícua <strong>do</strong> vocabulário grego e latino. Esse fato meritório nos coloca um<br />
gran<strong>de</strong> problema: como ler, como compreen<strong>de</strong>r o texto <strong>de</strong> Vitrúvio?<br />
Um texto técnico como o De architectura reduz bastante a liberda<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
intérprete, mas não a elimina totalmente. O senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> um hápax, por exemplo,<br />
geralmente é uma questão problemática, pois o seu significa<strong>do</strong>, sugeri<strong>do</strong> pelas<br />
afinida<strong>de</strong>s etimológicas, só se esclarece no contexto. Quan<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> geral <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> da palavra obscura toda a compreensão fica prejudicada. Nesse ponto,<br />
cabe ao intérprete encontrar um senti<strong>do</strong> que concilie as duas exigências, ou seja, a<br />
formação da palavra e o significa<strong>do</strong> no passo em que se apresenta. Outras vezes, o<br />
significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma palavra comum não dá senti<strong>do</strong> à leitura e se presume tratar-se <strong>de</strong><br />
uma corrupção; nesse momento, a crítica textual <strong>de</strong>ve ser acionada para corrigir a<br />
forma transmitida, substituin<strong>do</strong>-a por outra que justifique a transformação ocorrida.<br />
Em linha geral, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as lições transmitidas, sempre que ofereçam<br />
algum senti<strong>do</strong> possível, respeitan<strong>do</strong> a regra da lectio difficilior. No âmbito da tradição<br />
hermenêutica, entretanto, essa prática, mesmo se programaticamente respeitada, é<br />
aban<strong>do</strong>nada com muita freqüência, prevalecen<strong>do</strong> quase sempre o senti<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>. Há<br />
mesmo uma certa tendência em polir <strong>de</strong>mais o texto vitruviano, que acaba per<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
algumas das suas características essenciais. A ina<strong>de</strong>quação da tradição manuscrita <strong>do</strong><br />
De architectura em relação às meto<strong>do</strong>logias lachmanianas e pós-lachmanianas abre<br />
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