Contornos do Indizível: o estilo de Clarice Lispector - Fale - UFMG
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Resumo<br />
Em Tese, Belo Horizonte, v. 10, p. 53-59, <strong>de</strong>z. 2006<br />
Do Texto à Cena<br />
Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit<br />
Daniel Furta<strong>do</strong> Simões da Silva<br />
A partir das noções <strong>de</strong> tradução e <strong>de</strong> transtextualida<strong>de</strong><br />
examinamos a transposição <strong>de</strong> textos literários <strong>de</strong> Caio<br />
Fernan<strong>do</strong> Abreu para a cena teatral. Essa transposição<br />
estrutural e estilística configura diferentes regimes da<br />
narrativida<strong>de</strong>, que implicam em <strong>de</strong>slocamentos <strong>do</strong> eixo da<br />
narrativa teatral, a qual se apóia alternadamente em vários<br />
sistemas semiológicos à disposição <strong>do</strong> encena<strong>do</strong>r.<br />
Palavras-chave: Caio Fernan<strong>do</strong> Abreu. Tradução intersemiótica. Texto cênico.<br />
Regime <strong>de</strong> narrativida<strong>de</strong>.<br />
Ao longo <strong>de</strong>ste ensaio, examinamos algumas questões que surgem quan<strong>do</strong> da<br />
tradução <strong>de</strong> um texto literário para um espetáculo teatral, observan<strong>do</strong> características e<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes da passagem da linguagem escrita para o palco. Essa<br />
tradução é um processo que se move entre semelhanças e diferenças e que aponta,<br />
por um la<strong>do</strong>, para a autonomia <strong>do</strong>s produtos finais — texto e encenação —, e, por<br />
outro, para a <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> tradução quanto às características, às<br />
singularida<strong>de</strong>s e aos objetivos <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas concretizações artísticas.<br />
A discussão sobre o que norteia a tradução intersemiótica realizada nessa<br />
passagem 1 , através da concretização <strong>do</strong> espetáculo teatral, se dá através da análise <strong>de</strong><br />
espetáculos que tem como hipotexto 2 contos e novelas <strong>de</strong> Caio Fernan<strong>do</strong> Abreu: Pela<br />
noite, dirigi<strong>do</strong> por Marcos Marinho, basea<strong>do</strong> na novela homônima, publicada<br />
originalmente no livro Triângulo das águas; Rua das flores, dirigi<strong>do</strong> por Tarcísio Ramos<br />
Homem, inspira<strong>do</strong> no conto "Réquiem para um fugitivo", <strong>do</strong> livro O ovo apunhala<strong>do</strong>; e<br />
Os dragões não conhecem o paraíso, dirigi<strong>do</strong> por Kalluh Araújo, que utilizou<br />
fragmentos <strong>de</strong> vários textos <strong>de</strong> Caio Fernan<strong>do</strong> Abreu.<br />
Examinan<strong>do</strong> a trajetória literária <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> autor, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu primeiro livro,<br />
Inventário <strong>do</strong> irremediável, publica<strong>do</strong> em 1970, até Ovelhas negras, <strong>de</strong> 1995, o último<br />
que veio a público quan<strong>do</strong> o escritor ainda era vivo, e incluin<strong>do</strong> aqueles lança<strong>do</strong>s após<br />
sua morte, em 1996, <strong>do</strong>is aspectos das narrativas ficam claros. Primeiro, a íntima<br />
relação entre as experiências vividas por Caio e seus textos. Em entrevista concedida<br />
em 1970, Caio Fernan<strong>do</strong> Abreu afirmava possuir uma "paixão <strong>do</strong>ida por existir", e, por<br />
força <strong>de</strong>ssa paixão, não se recusava nenhuma experiência, sem se furtar a "expressar<br />
cruamente essas experiências" (TROSS, 1970, p. 3) no seu trabalho. Essa relação, o<br />
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