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História do Brasil

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Durante o governo Médici, verificou-se o acirramento da<br />

luta armada por parte <strong>do</strong>s grupos de esquerda. Ao mesmo<br />

tempo, intensificou-se a repressão às ações desses<br />

grupos, tanto por parte <strong>do</strong>s aparelhos oficiais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

quanto por parte <strong>do</strong>s grupos paramilitares de direita:<br />

prisões arbitrárias, inquéritos policiais-militares,<br />

violência contra lideranças estudantis e sindicais e contra<br />

entidades que lutavam pelos direitos humanos, torturas,<br />

assassinato depois da edição <strong>do</strong> Al-5, ao extermino da<br />

guerrilha e desaparecimentos de presos políticos.<br />

O cantor e compositor Gilberto Gil, também vítima da<br />

repressão, foi obriga<strong>do</strong> a exilar-se na Inglaterra. Ele<br />

denunciou a violência que se abateu sobre tantos que<br />

ousaram questionar a “nova ordem” que havia si<strong>do</strong><br />

implantada no país pelos militares. Na versão que fez da<br />

música de Bob Marley, No Woman, no 0% intitulada<br />

“Não Chore Mais”, em 1977, ele cita os bons tempos que<br />

haviam foca<strong>do</strong> para trás. O compositor, no entanto, deixa<br />

antever a sua esperança de que, apesar de tu<strong>do</strong>, “tu<strong>do</strong>,<br />

tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> vai dar pé”. Ela fornece evidências históricas<br />

importantes sobre esse perío<strong>do</strong> e possibilita uma melhor<br />

compreensão sobre esses tempos sombrios:<br />

“Bem que eu me lembro<br />

Da gente senta<strong>do</strong> ali<br />

Na grama <strong>do</strong> aterro, sob o sol<br />

Ob-observan<strong>do</strong> hipócritas<br />

Disfarça<strong>do</strong>s, rodan<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r<br />

Amigos presos<br />

Amigos sumin<strong>do</strong> assim<br />

Prá nunca mais<br />

Tais recordações<br />

Retratos <strong>do</strong> mal em si<br />

Melhor é deixar prá trás<br />

Não, não chore mais<br />

Não, não chore mais<br />

Bem que eu me lembro<br />

Da gente senta<strong>do</strong> ali<br />

Na grama <strong>do</strong> aterro, sob o céu<br />

Ob-observan<strong>do</strong> estrelas<br />

Junto à fogueirinha de papel<br />

Quentar o frio<br />

Requentar o pão<br />

E comer com você<br />

Os pés, de manhã, pisar o chão<br />

Eu sei a barra de viver<br />

Mas se Deus quiser<br />

Tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> vai dar pé (...)<br />

Não, não chore mais<br />

Não, não chore mais”<br />

GIL, Gilberto. Realce. Gilberto Gil. São PauLo: Warner Music, 1979. (LP). Gege<br />

Edições Musicais Ltda (<strong>Brasil</strong> e América <strong>do</strong> SuL)/Preta Music (Resto <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>).<br />

Em relação ao modelo econômico, os governos militares<br />

optaram pela política recomendada pelo Fun<strong>do</strong><br />

Monetário internacional, tentan<strong>do</strong> combater<br />

energicamente a inflação, ao mesmo tempo em que<br />

mantinham os salários em patamares baixos. Isso causou<br />

uma fase recessiva na economia, que se prolongou até o<br />

governo Médici, quan<strong>do</strong> ocorreu um crescimento<br />

considera<strong>do</strong> notável, ao qual se denominou “milagre<br />

brasileiro”, financia<strong>do</strong> em grande parte pelo capital<br />

externo.<br />

O Plano de Ação Econômica <strong>do</strong> Governo (Paeg),<br />

elabora<strong>do</strong> logo após o golpe, previa metas ambiciosas:<br />

elevar o <strong>Brasil</strong> à categoria de grande potência no espaço<br />

de uma geração; duplicar a renda per capita até 1980;<br />

permitir o crescimento <strong>do</strong> PIB em torno de 8 a 10%.<br />

O historia<strong>do</strong>r Eval<strong>do</strong> Vieira assim analisou esse<br />

processo:<br />

“O crescimento econômico <strong>do</strong> país repousava, em grande<br />

parte, no desempenho <strong>do</strong> setor industrial. Mas não foi<br />

apenas e principalmente o parque industrial que se<br />

responsabilizou pelo crescimento <strong>do</strong> Produto Interno<br />

Bruto. Houve também aumento <strong>do</strong> total de investimentos<br />

estrangeiros e estatais no <strong>Brasil</strong>. Este fato acabou<br />

provocan<strong>do</strong> a rápida subida da dívida externa, que<br />

passou de 3,9 bilhões de dólares em 1968, para além de<br />

12,5 bilhões de dólares em 1973.”<br />

VIEIRA, Eval<strong>do</strong>. A República brasileira. 1964-1984. São Paulo: - Moderna,<br />

1985. p. 38.<br />

Em relação à distribuição das riquezas, falava-se muito,<br />

na ocasião, em “fazer crescer o bolo, para depois repartilo”,<br />

segun<strong>do</strong> expressão <strong>do</strong> ministro da Fazenda <strong>do</strong><br />

governo Médici, Delfim Netto. Na realidade, o discurso<br />

passou a encobrir o mais violento processo de<br />

concentração de renda até então observa<strong>do</strong> no país,<br />

conforme se pode perceber pelos números a seguir:<br />

• o 1 % da população brasileira mais rica que, em 1960,<br />

detinha 11,7% da renda nacional, aumentou sua<br />

participação para 1 7,8% em 1970;<br />

• os 5% mais ricos aumentaram sua participação na<br />

renda, de 27,69% (1960) para 39% (1976);<br />

• os 50% mais pobres que, em 1960, detinham 27,8% da<br />

renda passaram, a deter apenas 13,1% em 1970, em<br />

plena época <strong>do</strong> “milagre”.<br />

Não por acaso, a esses indica<strong>do</strong>res econômicos<br />

somaram-se desastrosos indica<strong>do</strong>res sociais:<br />

• em 1970, momento de grande euforia no país em<br />

função das vitórias da Seleção na Copa <strong>do</strong> México, mais<br />

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