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História do Brasil

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174<br />

costuma matar durante o policiamento. São homens que<br />

respeitam a lei.<br />

Mesmo muitas vezes envolvi<strong>do</strong>s em situações de risco da<br />

própria vida, por necessidade de repressão ao crime,<br />

costumam cumprir a sua obrigação: atirar só em último<br />

caso. A prioridade da imensa maioria é a prisão <strong>do</strong><br />

suspeito, leva-lo a julgamento da Justiça. Matar em<br />

supostos tiroteios, como vamos ver, é coisa de uma<br />

minoria. (...)<br />

Os policiais militares e colabora<strong>do</strong>res da Oban<br />

(Operação Bandeirantes) formam a força auxiliar de<br />

repressão política, em apoio aos tiras civis <strong>do</strong> Dops e<br />

agentes <strong>do</strong> Exército. São homens da chamada linha de<br />

frente. Usam trajes civis, metralha<strong>do</strong>ras, bombas, walkietallcies,<br />

Veraneios com chapa fria. Às vezes se infiltram nas<br />

organizações de esquerda para investigar.<br />

Mesmo nas operações tidas como regulares (...)<br />

costumam agir de forma sigilosa, sem respeitar os<br />

mínimos direitos de seus inimigos. (...)<br />

Muitos PMs são contemporâneos, portanto, aos agentes<br />

da repressão política, que costumavam forjar histórias,<br />

através de notas oficiais distribuídas à imprensa, para<br />

esconder a verdadeira circunstância em que matavam<br />

seus inimigos. No caso <strong>do</strong> jornalista Luiz Eduar<strong>do</strong> da<br />

Rocha Melino, por exemplo, várias pessoas<br />

testemunharam sua morte sob tortura nas dependências<br />

da Oban. Mas o histórico oficial registra “segun<strong>do</strong><br />

consta, vítima de atropelamento”. Há dezenas de<br />

exemplos semelhantes. (...)<br />

Uma observação mais detalhada (...) mostra que os<br />

mata<strong>do</strong>res da PM herdaram os méto<strong>do</strong>s <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Vencida a guerra contra a guerrilha, passaram a usar os<br />

mesmos méto<strong>do</strong>s contra os suspeitos da prática de crimes<br />

comuns. (...)<br />

Os supostos tiroteios deste ano de 75, se examina<strong>do</strong>s<br />

através das versões oficias da PM, têm uma grande<br />

semelhança com os tiroteios <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, em que as<br />

vítimas eram os guerrilheiros. A narrativa <strong>do</strong> histórico<br />

<strong>do</strong>s fatos tem geralmente a mesma sequência. O PM<br />

desconfia de alguém na escuridão. O suspeito foge<br />

disparan<strong>do</strong> a arma. O policial revida e atinge o suspeito.<br />

Socorri<strong>do</strong>, o feri<strong>do</strong> morre a caminho <strong>do</strong> hospital. A<br />

condição de vítima ou de agressor geralmente é invertida<br />

(...). O morto é o culpa<strong>do</strong> pela morte dele. (...)<br />

Minha investigação mostra que os PMs são alunos que<br />

aprenderam o pior <strong>do</strong>s seus professores <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Além de terem copia<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> brutal da repressão —<br />

o fuzilamento - ainda conseguem a proeza de<br />

desrespeitar a lei <strong>do</strong> direito à vida de forma mais insana.<br />

Enquanto os policiais da repressão política se baseavam<br />

em uma investigação para selecionar o inimigo a ser<br />

morto, os mata<strong>do</strong>res da PM agem espontaneamente, sem<br />

nenhum critério prévio. Escolhem suas vítimas a partir<br />

de uma simples desconfiança.<br />

Consigo fazer essa afirmação com segurança depois de<br />

ter examina<strong>do</strong> 33 tiroteios ocorri<strong>do</strong>s em 1975.<br />

Mas teriam os policiais de fato pratica<strong>do</strong> um crime? O<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> levantamento mostra, por exemplo, que<br />

cinco suspeitos, que não portavam <strong>do</strong>cumentos ao serem<br />

mortos, foram enterra<strong>do</strong>s como indigentes. Significa que<br />

foram fuzila<strong>do</strong>s sem se saber se eram criminosos ou não.<br />

Do total de 33 vítimas, apenas onze eram registra<strong>do</strong>s<br />

como ladrões nos arquivos da polícia. A grande maioria<br />

tinha ficha limpa: dezessete não eram criminosos. Cinco<br />

eram operários. Foram fuzila<strong>do</strong>s também um mecânico,<br />

um cozinheiro, um motorista, um sapateiro, um<br />

comerciante, um vigilante, um carpinteiro, um<br />

industriário, <strong>do</strong>is desemprega<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>is estudantes.<br />

To<strong>do</strong>s esses dezessete foram mortos sem terem si<strong>do</strong><br />

presos uma única vez na vida. (...)<br />

De imediato percebi que a falta de testemunhas — uma<br />

característica comum à maioria <strong>do</strong>s casos — seria o<br />

primeiro grande obstáculo. Com exceção <strong>do</strong>s três<br />

estudantes mora<strong>do</strong>res da região rica <strong>do</strong>s Jardins, todas as<br />

outras vítimas eram pobres, mortos em lugares ermos,<br />

geralmente durante a madrugada.<br />

BARCELLOS, caco. Rota 66. 25. ad. São Paulo: Globo, 1994. p. 68-75.<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (UFMG) Os cinco anos o governo JK promoveram<br />

enormes mudanças na economia e na sociedade<br />

brasileira. Todas as alternativas apresentam<br />

características desse perío<strong>do</strong>, exceto:<br />

a) A dinamização <strong>do</strong> ISEB como o órgão responsável<br />

pelo delineamento de uma nova sociedade,<br />

comprometida com o progresso e com o<br />

desenvolvimento industrial.<br />

b) A intensa formulação de prolíficas econômicas, com<br />

ênfase na política cambial e no planejamento.<br />

c) A mudança no papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que se lança como<br />

empresário, financian<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />

econômico e preparan<strong>do</strong> quadros para<br />

desempenharem novas funções econômicas.<br />

d) O entendimento, pelos agentes culturais vigentes, de<br />

que a essência <strong>do</strong> caráter popular deve ser<br />

preservada na modernidade.<br />

e) O investimento maciço na recuperação da rede de<br />

transporte ferroviário, entendi<strong>do</strong> como decisivo para<br />

o desenvolvimento industrial.

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