História do Brasil
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costuma matar durante o policiamento. São homens que<br />
respeitam a lei.<br />
Mesmo muitas vezes envolvi<strong>do</strong>s em situações de risco da<br />
própria vida, por necessidade de repressão ao crime,<br />
costumam cumprir a sua obrigação: atirar só em último<br />
caso. A prioridade da imensa maioria é a prisão <strong>do</strong><br />
suspeito, leva-lo a julgamento da Justiça. Matar em<br />
supostos tiroteios, como vamos ver, é coisa de uma<br />
minoria. (...)<br />
Os policiais militares e colabora<strong>do</strong>res da Oban<br />
(Operação Bandeirantes) formam a força auxiliar de<br />
repressão política, em apoio aos tiras civis <strong>do</strong> Dops e<br />
agentes <strong>do</strong> Exército. São homens da chamada linha de<br />
frente. Usam trajes civis, metralha<strong>do</strong>ras, bombas, walkietallcies,<br />
Veraneios com chapa fria. Às vezes se infiltram nas<br />
organizações de esquerda para investigar.<br />
Mesmo nas operações tidas como regulares (...)<br />
costumam agir de forma sigilosa, sem respeitar os<br />
mínimos direitos de seus inimigos. (...)<br />
Muitos PMs são contemporâneos, portanto, aos agentes<br />
da repressão política, que costumavam forjar histórias,<br />
através de notas oficiais distribuídas à imprensa, para<br />
esconder a verdadeira circunstância em que matavam<br />
seus inimigos. No caso <strong>do</strong> jornalista Luiz Eduar<strong>do</strong> da<br />
Rocha Melino, por exemplo, várias pessoas<br />
testemunharam sua morte sob tortura nas dependências<br />
da Oban. Mas o histórico oficial registra “segun<strong>do</strong><br />
consta, vítima de atropelamento”. Há dezenas de<br />
exemplos semelhantes. (...)<br />
Uma observação mais detalhada (...) mostra que os<br />
mata<strong>do</strong>res da PM herdaram os méto<strong>do</strong>s <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />
Vencida a guerra contra a guerrilha, passaram a usar os<br />
mesmos méto<strong>do</strong>s contra os suspeitos da prática de crimes<br />
comuns. (...)<br />
Os supostos tiroteios deste ano de 75, se examina<strong>do</strong>s<br />
através das versões oficias da PM, têm uma grande<br />
semelhança com os tiroteios <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, em que as<br />
vítimas eram os guerrilheiros. A narrativa <strong>do</strong> histórico<br />
<strong>do</strong>s fatos tem geralmente a mesma sequência. O PM<br />
desconfia de alguém na escuridão. O suspeito foge<br />
disparan<strong>do</strong> a arma. O policial revida e atinge o suspeito.<br />
Socorri<strong>do</strong>, o feri<strong>do</strong> morre a caminho <strong>do</strong> hospital. A<br />
condição de vítima ou de agressor geralmente é invertida<br />
(...). O morto é o culpa<strong>do</strong> pela morte dele. (...)<br />
Minha investigação mostra que os PMs são alunos que<br />
aprenderam o pior <strong>do</strong>s seus professores <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />
Além de terem copia<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> brutal da repressão —<br />
o fuzilamento - ainda conseguem a proeza de<br />
desrespeitar a lei <strong>do</strong> direito à vida de forma mais insana.<br />
Enquanto os policiais da repressão política se baseavam<br />
em uma investigação para selecionar o inimigo a ser<br />
morto, os mata<strong>do</strong>res da PM agem espontaneamente, sem<br />
nenhum critério prévio. Escolhem suas vítimas a partir<br />
de uma simples desconfiança.<br />
Consigo fazer essa afirmação com segurança depois de<br />
ter examina<strong>do</strong> 33 tiroteios ocorri<strong>do</strong>s em 1975.<br />
Mas teriam os policiais de fato pratica<strong>do</strong> um crime? O<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> levantamento mostra, por exemplo, que<br />
cinco suspeitos, que não portavam <strong>do</strong>cumentos ao serem<br />
mortos, foram enterra<strong>do</strong>s como indigentes. Significa que<br />
foram fuzila<strong>do</strong>s sem se saber se eram criminosos ou não.<br />
Do total de 33 vítimas, apenas onze eram registra<strong>do</strong>s<br />
como ladrões nos arquivos da polícia. A grande maioria<br />
tinha ficha limpa: dezessete não eram criminosos. Cinco<br />
eram operários. Foram fuzila<strong>do</strong>s também um mecânico,<br />
um cozinheiro, um motorista, um sapateiro, um<br />
comerciante, um vigilante, um carpinteiro, um<br />
industriário, <strong>do</strong>is desemprega<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>is estudantes.<br />
To<strong>do</strong>s esses dezessete foram mortos sem terem si<strong>do</strong><br />
presos uma única vez na vida. (...)<br />
De imediato percebi que a falta de testemunhas — uma<br />
característica comum à maioria <strong>do</strong>s casos — seria o<br />
primeiro grande obstáculo. Com exceção <strong>do</strong>s três<br />
estudantes mora<strong>do</strong>res da região rica <strong>do</strong>s Jardins, todas as<br />
outras vítimas eram pobres, mortos em lugares ermos,<br />
geralmente durante a madrugada.<br />
BARCELLOS, caco. Rota 66. 25. ad. São Paulo: Globo, 1994. p. 68-75.<br />
VESTIBULAR/ENEM<br />
01. (UFMG) Os cinco anos o governo JK promoveram<br />
enormes mudanças na economia e na sociedade<br />
brasileira. Todas as alternativas apresentam<br />
características desse perío<strong>do</strong>, exceto:<br />
a) A dinamização <strong>do</strong> ISEB como o órgão responsável<br />
pelo delineamento de uma nova sociedade,<br />
comprometida com o progresso e com o<br />
desenvolvimento industrial.<br />
b) A intensa formulação de prolíficas econômicas, com<br />
ênfase na política cambial e no planejamento.<br />
c) A mudança no papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que se lança como<br />
empresário, financian<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />
econômico e preparan<strong>do</strong> quadros para<br />
desempenharem novas funções econômicas.<br />
d) O entendimento, pelos agentes culturais vigentes, de<br />
que a essência <strong>do</strong> caráter popular deve ser<br />
preservada na modernidade.<br />
e) O investimento maciço na recuperação da rede de<br />
transporte ferroviário, entendi<strong>do</strong> como decisivo para<br />
o desenvolvimento industrial.