História do Brasil
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
se instalassem, esses visita<strong>do</strong>res deviam tu<strong>do</strong> observar,<br />
vigiar, anotar e punir (se fosse o caso), em relação a tu<strong>do</strong><br />
o que encontrassem no percurso de seus trajetos entre<br />
uma e outra freguesia, capelas, oratórios (...) e<br />
sacer<strong>do</strong>tes, bem como usos, costumes e comportamentos<br />
da população (...).<br />
A visita se iniciava com o seu anúncio à comunidade <strong>do</strong>s<br />
fiéis da freguesia na qual se desenvolveria. (...)<br />
O edital explicitava os parâmetros pelos quais a visita se<br />
pautaria: “em virtude de Santa Obediência e sob pena de<br />
excomunhão (...) man<strong>do</strong> a todas as pessoas (...) que<br />
souberem de peca<strong>do</strong>s públicos e escandalosos, venham<br />
perante mim denunciar em termo de vinte e quatro horas<br />
e para que o faça como convém ao serviço de Deus os<br />
admoesto para que a denunciação que fizerem não seja<br />
movida por ódio, vingança (...).<br />
Cada um <strong>do</strong>s Reveren<strong>do</strong>s lerá aos seus fregueses na<br />
missa os interrogatórios seguintes:<br />
1º - Se sabem ou ouviram dizer que alguma pessoa<br />
cometeu o gravíssimo crime de heresia (...), ten<strong>do</strong>,<br />
cren<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong> ou fazen<strong>do</strong> alguma coisa contra a nossa<br />
Santa Fé Católica em to<strong>do</strong> ou em algum artigo dela (...);<br />
2º - se alguma pessoa tem ou lê livros de hereges, ou<br />
quaisquer outros defesos sem licença da Sé Apostólica<br />
(...);<br />
4º- se sabem que alguma pessoa seja feiticeira, faça<br />
feitiços ou uso deles para crer bem ou mal, para ligar ou<br />
desligar, para saber coisas secretas ou adivinhas ou para<br />
outro qualquer efeito, invoque os demônios ou com eles<br />
tenha pacto (...);<br />
6º - se algum homem está casa<strong>do</strong> com duas mulheres<br />
vivas ou mulheres com <strong>do</strong>is mari<strong>do</strong>s, ainda que disso não<br />
haja fama;<br />
7º - Se algum clérigo de ordens sacras, religioso ou<br />
religiosa professa estão casa<strong>do</strong>s, ainda que não haja fama<br />
pública <strong>do</strong> caso (...);<br />
14º - Se alguma pessoa usa de alcovitar mulheres ou<br />
escravas para homens (...);<br />
23º - Se alguns estão prometi<strong>do</strong>s de casar e co-habitam<br />
como se fossem recebi<strong>do</strong>s em face de Igreja; (...)<br />
25º - se há alguma pessoa que seja acostuma da a comer<br />
carne em dias proibi<strong>do</strong>s sem legítima causa ou licença ou<br />
seja costumada a não ouvir missa ou jejuar nos dias de<br />
obrigação (...);<br />
34º - se há alguma pessoa que não se confessasse e<br />
comungasse na quaresma passada ou seja acostumada a<br />
trabalhar nos <strong>do</strong>mingos e dias santos;<br />
35º - se há algumas pessoas que não pagam às igrejas ou<br />
aos ministros delas os dízimos, primícias (parte das<br />
colheitas) e benesses inteiramente como são obrigadas<br />
(...);<br />
40º - e finalmente se sabem de qualquer peca<strong>do</strong> público e<br />
escandaloso nos venha dizer.<br />
Observa-se assim que os interrogatórios da visita<br />
diocesana cobriam um amplo e diversifica <strong>do</strong> elenco de<br />
delitos, passan<strong>do</strong> em revista toda a vida social e cristã de<br />
cada paróquia, tanto quanto possível sondan<strong>do</strong> a fun<strong>do</strong> a<br />
pureza da fé, da religião e <strong>do</strong>s costumes de cada igreja e<br />
freguesia visitadas. (...)<br />
Quer seja para revigorar a fé, quer para redenção e alivio<br />
<strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s, quer ainda para garantir a sua salvação e a<br />
proteção divina livran<strong>do</strong>-se da terrível excomunhão, o<br />
homem colonial, particularmente aquele que vivia em<br />
uma sociedade tão promíscua como a da região<br />
minera<strong>do</strong>ra, diante <strong>do</strong> tom ameaça<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s editais de<br />
visita, não titubeava em cumprir prontamente os<br />
ordenamentos prescritos naqueles termos. Apresentavase<br />
ao visita<strong>do</strong>r, reconhecia-se culpa<strong>do</strong> ao lhe confessar<br />
seus peca<strong>do</strong>s ou seus delitos, nem por isso se isentan<strong>do</strong><br />
de, naquela oportunidade, denunciar outros faltosos ou<br />
peca<strong>do</strong>res.<br />
Não se pode desprezar o fato de que era grande o<br />
interesse <strong>do</strong> inculpa<strong>do</strong> em assumir de imediato a<br />
responsabilidade pelos seus erros, dentre outros motivos<br />
porque a sua antecipação em parte poderia neutralizar o<br />
des<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong> seu processo. (...)<br />
Aliás, não é irrelevante o caráter nítida mente<br />
fiscaliza<strong>do</strong>r dessas visitas, porquanto periodicamente<br />
elas percorriam e palmilhavam o território da capitania,<br />
conhecen<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong> de perto a realidade de cada<br />
uma das freguesias, averiguan<strong>do</strong> e punin<strong>do</strong> delitos tanto<br />
de natureza espiritual como temporal.<br />
É no conjunto dessas características que elas se impõem<br />
como partícipes diretas da política coloniza<strong>do</strong>ra,<br />
principalmente, insista-se, ao exercerem um rígi<strong>do</strong> e<br />
contínuo controle sobre o corpo social da região, ou, em<br />
outras palavras, exercen<strong>do</strong> uma forma de controle social<br />
e das consciências que só fazia consolidar o <strong>do</strong>mínio<br />
colonial.<br />
BOSCHI, Caio César. As visitas diocesanas e a Inquisição na Colónia. In: Revista<br />
<strong>Brasil</strong>eira de <strong>História</strong>. n. 14. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, 1987. p. 152, 157,<br />
164-6.<br />
TEXTO 7 - A EXCEPCIONALIDADE DO<br />
ARTISTA<br />
Sylvio de Vasconellos<br />
O professor e arquiteto Sylvio de Vasconcellos foi<br />
durante muitos anos diretor <strong>do</strong> antigo Serviço <strong>do</strong><br />
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em<br />
Minas Gerais. O seu livro Vida e Obra de Antônio<br />
Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é uma referência<br />
47