História do Brasil
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Senhor:<br />
Pelo Capitão <strong>do</strong>s navios que daqui mandei o mês de<br />
setembro passa<strong>do</strong>, dei conta a Vossa Alteza de minha<br />
viagem e chegada a esta Nova Lusitânia e <strong>do</strong> que aqui<br />
era passa<strong>do</strong>.<br />
Depois meti-me, Senhor, a dar ordem ao sossego e paz<br />
da terra, com dádivas a uns e apaziguan<strong>do</strong> a outros<br />
porque tu<strong>do</strong> é necessário. E assim dei ordem a se<br />
fazerem engenhos de açúcares que de lá trouxe<br />
contrata<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> quanto me reque eram e dan<strong>do</strong><br />
tu<strong>do</strong> o que me pediram, sem olhar a proveito nem<br />
interesse algum meu, mas a obra ir avante, como desejo.<br />
Temos grande soma de canas plantadas, to<strong>do</strong> o povo,<br />
com to<strong>do</strong> trabalho que foi possível, e dan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s a<br />
ajuda que a mim foi possível, e ce<strong>do</strong> acabaremos um<br />
engenho muito grande e perfeito, e an<strong>do</strong> ordenan<strong>do</strong> a<br />
começar outros. Praza ao Senhor Deus que me ajude<br />
segun<strong>do</strong> Sua grande misericórdia e minha boa intenção.<br />
Quanto, Senhor, às coisas <strong>do</strong> ouro, nunca deixo de<br />
inquirir e procurar sobre elas, e cada dia se esquentam<br />
mais as novas; mas, como sejam longe daqui pelo meu<br />
sertão adentro, e se há de passar por três nações de muito<br />
perversa e bestial gente e todas contrárias umas das<br />
outras, há de realizar-se esta jornada com muito perigo e<br />
trabalho, para a qual me parece, e assim a toda minha<br />
gente, que se não pode fazer sen<strong>do</strong> in<strong>do</strong> eu; e ir como se<br />
deve ir e empreender tal empresa, para sair com ela<br />
avante, e não para ir fazer aventuras, como os <strong>do</strong> Rio da<br />
Prata, onde se perderam mais de mi homens castelhanos,<br />
ou como os <strong>do</strong> Maranhão, que se perderam setecentos, e<br />
o pior é ficar a coisa prejudicada.<br />
E por isso, Senhor, espero a hora <strong>do</strong> Senhor Deus, na<br />
qual praza a Ele que me confie esta empresa, para seu<br />
santo serviço, e de Vossa Alteza, que este será o maior<br />
contentamento e ganho que eu disso queria ter.<br />
Isto, Senhor, tenho assenta<strong>do</strong> e manda<strong>do</strong> aí buscar coisas<br />
necessárias para a jornada e alguns bons homens, porque<br />
é necessário deixar aqui tu<strong>do</strong> provi<strong>do</strong> e a bom reca<strong>do</strong>,<br />
por todas as vias, em especial por os franceses, os quais,<br />
se sentirem não estar eu na terra, começaram a fazer suas<br />
velhacarias, pois há quatorze dias aqui quiseram fazer o<br />
que costumavam, mas não puderam. Man<strong>do</strong> a Vossa<br />
Alteza a notícia disso para que a veja, se for necessário.<br />
Em tu<strong>do</strong>, Senhor, eu tenho o cuida<strong>do</strong> que se deve ter nas<br />
coisas de seu serviço e Deus me ajude e me dê a Sua<br />
hora para tu<strong>do</strong> ir a bom fim.<br />
Pero de Góis e Luís de Góis, que ora por aqui passam,<br />
darão a Vossa Alteza as mais novas de mim e da terra e<br />
não me alargo porque para as coisas de tanta importância<br />
há necessidade de muitos grandes gastos e eu estou<br />
muito gasta<strong>do</strong> e endivida<strong>do</strong>, e não posso suportar tanta<br />
gente de sol<strong>do</strong> como até aqui suportei.<br />
Há já três anos que pedi a Vossa Alteza me fizesse mercê<br />
de me dar licença a maneira de haver alguns escravos de<br />
Guiné por resgate, e o ano passa<strong>do</strong> respondeu-se-me que<br />
até se acabar o cor trato que era feito nada se podia fazer,<br />
dan<strong>do</strong>-se-me a entender que, acaba<strong>do</strong>, seria provi<strong>do</strong>, pelo<br />
que já escrevi a Vossa Alteza sobre isso. Não sei se me<br />
fez esta mercê, porque os navios não são ainda chega<strong>do</strong>s.<br />
Peço a Vossa Alteza que, se me não concedeu esta<br />
licença, olhe quanto isto é <strong>do</strong> ser serviço e quão pouco<br />
dano e estorvo faz dar-me licença para obter alguns<br />
escravos para o servir melhor.<br />
A Dom Pedro de Moura e a Manuel de Albuquerque<br />
mande Vossa Alteza dar a provisão para isto.<br />
Desta Vila de Olinda, a 27 de abril de 1542.<br />
Servo de Vossa Alteza<br />
Duarte Coelho<br />
Carta de Duarte Coelho. In: GASMAN. Lydinéa. Documentos Históricos<br />
<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: Fename, 1976. p. 51.<br />
TEXTO 4 - O OURO BRASILEIRO E A<br />
REVOLUÇÂO INDUSTRIAL<br />
Manuel Maurício de Albuquerque<br />
Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII, um dito popular, muito<br />
conheci<strong>do</strong> na Metrópole portuguesa, revelava, de<br />
maneira irônica, a crescente dependência de Portugal em<br />
relação à Inglaterra: “De todas as colônias inglesas, a<br />
melhor é o reino de Portugal”. Esse dito popular revela a<br />
situação em que se encontrava a economia portuguesa<br />
naquela época, em especial a enorme dependência em<br />
relação à economia inglesa. O historia<strong>do</strong>r Manuel<br />
Maurício de Albuquerque salienta, no texto a seguir, essa<br />
dependência, apresentan<strong>do</strong> também as mudanças<br />
ocorridas nas diretrizes econômicas durante a<br />
administração <strong>do</strong> Marquês de Pombal, na segunda<br />
metade <strong>do</strong> século XVIII.<br />
Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />
seguinte questão:<br />
Que relação existiu entre a mineração brasileira e a<br />
Revolução Industrial?<br />
A partir de 1750-60, a produção minera<strong>do</strong>ra começou a<br />
declinar. Tal mudança, articulada a outros elementos,<br />
determinou uma revisão da política mercantilista durante<br />
a administração <strong>do</strong> Marquês de Pombal, secretário de<br />
Esta<strong>do</strong> de D.José I.<br />
Com o objetivo de libertar a economia portuguesa da<br />
<strong>do</strong>minação britânica e tornar mais autônomo o Esta<strong>do</strong><br />
português1 Pombal tomou medidas muito severas para<br />
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