História do Brasil
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protestos. E, finalmente, convenceram o ministro a<br />
liberar a canção.<br />
Talvez por causa <strong>do</strong> longo perío<strong>do</strong> de hibernação, a letra<br />
da música não é conhecida em sua totalidade, até mesmo<br />
seu nome modificou-se, passan<strong>do</strong> a ser “Caminhan<strong>do</strong>”.<br />
Para os que ainda desconhecem, a letra original é esta:<br />
(Geral<strong>do</strong> Vandré)<br />
Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção<br />
Somos to<strong>do</strong>s iguais, braços da<strong>do</strong>s ou não.<br />
Nas escolas, nas ruas, campos, construções.<br />
Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção.<br />
Vem, vamos embora, que esperar não é saber.<br />
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.<br />
Pelos campos a fome em grandes plantações.<br />
Pelas ruas, marchan<strong>do</strong> indecisos cordões.<br />
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão.<br />
E acreditam nas flores vencen<strong>do</strong> o canhão.<br />
Vem, vamos embora...<br />
Aos solda<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s, ama<strong>do</strong>s ou não.<br />
Quase to<strong>do</strong>s perdi<strong>do</strong>s de armas na mão.<br />
Os quartéis lhes ensinam antigas lições.<br />
De morrer pela pátria e viver sem razão.<br />
Nas escolas, nas ruas, campos, construções.<br />
Somos to<strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s, arma<strong>do</strong>s ou não.<br />
Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção.<br />
Os amores na mente, as flores no chão.<br />
A certeza na frente, a história na mão.<br />
Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção.<br />
Aprenden<strong>do</strong> e ensinan<strong>do</strong> uma nova lição.<br />
Vem, vamos embora...<br />
IstoÉ, São Paulo: Três, p. 80, 30 maio 1980.<br />
TEXTO 3 - CARTA AO MARECHAL ARTHUR DA<br />
COSTA E SILVA<br />
Sobral Pinto<br />
Sobral Pinto é considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores juristas<br />
brasileiros de to<strong>do</strong>s os tempos. Defensor incansável <strong>do</strong>s<br />
direitos humanos e da legalidade, assumiu uma postura<br />
crítica em relação aos governos militares pós-1964,<br />
denuncian<strong>do</strong> atos ilegais em artigos nos jornais,<br />
defenden<strong>do</strong> aqueles que eram enquadra<strong>do</strong>s na Lei de<br />
Segurança Nacional e, até mesmo, envian<strong>do</strong> telegramas e<br />
escreven<strong>do</strong> cartas aos presidentes e ministros de Esta<strong>do</strong>.<br />
Uma de suas cartas mais emocionantes foi a escrita ao<br />
então presidente Costa e Silva, quan<strong>do</strong> da decretação <strong>do</strong><br />
AI-5. O seu conteú<strong>do</strong> reflete to<strong>do</strong> o inconformismo <strong>do</strong><br />
jurista diante da atitude <strong>do</strong> governo, que a partir de então<br />
passou a assumir um maior controle sobre a sociedade<br />
brasileira. Para Sobral Pinto, em 1968 o povo assistiu ao<br />
“golpe dentro <strong>do</strong> golpe”. O AI-5 conferiu poderes<br />
excepcionais ao governo. Para se ter uma idéia <strong>do</strong><br />
alcance <strong>do</strong> ato, o presidente da República poderia, por<br />
exemplo, decretar o recesso <strong>do</strong> Congresso Nacional, que<br />
só voltaria a funcionar por convocação <strong>do</strong> presidente.<br />
Outros aspectos <strong>do</strong> ato são apresenta<strong>do</strong>s pelo jurista em<br />
sua carta.<br />
Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />
seguinte questão:<br />
Qual é o ponto central das críticas <strong>do</strong> jurista<br />
Heráclito Fontoura Sobral Pinto?<br />
Exmo. Sr. Presidente da República, Marechal Arthur da<br />
Costa e Silva.<br />
Cumprimentos devi<strong>do</strong>s à sua alta dignidade e, também, à<br />
sua ilustre pessoa.<br />
Li, em Goiânia, o ATO INSTITUCIONAL Nº5, que V.<br />
Exa., substituin<strong>do</strong>-se indevidamente ao povo brasileiro,<br />
que não conferiu ao Chefe de Esta<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro Poder<br />
Constituinte, baixou para tirar as garantias <strong>do</strong> Poder<br />
Judiciário, proibir a concessão <strong>do</strong> habeas corpus, e tornar<br />
possível a subtração da liberdade de toda e qualquer<br />
pessoa que resida no território nacional, brasileira e<br />
estrangeira.<br />
Através <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> Ato, V. Exa. instituiu, em nossa<br />
Pátria, a ditadura militar, contra a qual ninguém pode, no<br />
momento, lutar eficientemente.<br />
Fui, sou e serei homem <strong>do</strong> Direito, da Lei, da Justiça e da<br />
Ordem. Jamais conspirarei. Lutarei, porém, pela palavra,<br />
verdadeira, enérgica e vibrante, contra a opressão que<br />
desceu sobre a minha Pátria. Palavra franca, leal e<br />
desinteressada, que não quer Poder, posição e qualquer<br />
Dignidade, administrativa e eletiva. Quero, apenas,<br />
Ordem Jurídica decente, digna e respeita<strong>do</strong>ra da<br />
dignidade da pessoa humana, da liberdade individual, e<br />
das liberdades públicas, princípios estes que estão<br />
varri<strong>do</strong>s, presentemente, da minha e da Pátria de V. Exa<br />
(...)<br />
Com efeito, atente V. Exa., com serenidade e isenção de<br />
espírito, para o que fez com o referi<strong>do</strong> ATO<br />
INSTITUCIONAL Nº5: V. Exa., suprimiu, com a<br />
liberdade de opinião, também a garantia da Magistratura<br />
<strong>Brasil</strong>eira. Pouco importa que um cidadão seja honra<strong>do</strong>,<br />
decente e leal. Se ele cair no desagra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s governantes<br />
atuais, por que lhes disse a verdade a que estava<br />
obriga<strong>do</strong>, poderá ir imediatamente para o cárcere, sem<br />
que lhe reste meio e mo<strong>do</strong> de readquirir a sua liberdade.