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História do Brasil

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A Mineração no <strong>Brasil</strong> Colônia<br />

Na gravura Solda<strong>do</strong>s Índios de Curitiba, de Jean Baptiste Debret (1768-1848),<br />

pintor e desenhista francês que esteve no <strong>Brasil</strong> entre 1816 e 1831, vê-se uma<br />

representação <strong>do</strong> aprisionamento de indígenas. Autor <strong>do</strong> livro Voyage<br />

Pittoresque au Brésil, Debret registrou, de maneira bastante detalhada, cenas <strong>do</strong><br />

cotidiano, tipos humanos, festas, flora, fauna e atividades econômicas. A obra de<br />

Debret é, em seu conjunto, portanto, um importante registro por apresentar<br />

evidencias históricas que permitem aos estudiosos uma melhor compreensão de<br />

um determina<strong>do</strong> contexto histórico.<br />

Em fins <strong>do</strong> século XVII e início <strong>do</strong> século XVIII, com a<br />

descoberta das minas, iniciou-se o ciclo da mineração,<br />

que mais tarde iria possibilitar a articulação direta entre<br />

duas regiões — São Paulo e Minas Gerais —, cujos<br />

contatos, até então, eram pouco significativos.<br />

A descoberta e a exploração das minas possibilitaram,<br />

também, um relativo enriquecimento e aumento<br />

populacional da própria região de São Paulo e áreas<br />

próximas, com destaque para Sorocaba e Taubaté. Essa<br />

maior riqueza <strong>do</strong>s sujeitos históricos que se dedicaram ao<br />

bandeirantismo e, num segun<strong>do</strong> momento, à própria<br />

exploração aurífera pode ser percebida por meio da<br />

leitura <strong>do</strong> texto de José de Alcântara Macha<strong>do</strong>, autor <strong>do</strong><br />

livro Vida e Morte <strong>do</strong> Bandeirante, no qual são cita<strong>do</strong>s<br />

os nomes de alguns bandeirantes que tiveram<br />

participação expressiva nesse processo:<br />

“Transposta a segunda metade <strong>do</strong> século XVII,<br />

chegamos ao tempo em que vivem Fernão Dias Paes<br />

Leme, Pedro Vaz de Barro (...) à era <strong>do</strong>s (...) poderosos<br />

em armas, homens de grande séquito. Já então, os<br />

inventários se tornam menos precisos e minuciosos e os<br />

avalia<strong>do</strong>res nomeiam somente o que lhes parece digno de<br />

estimativa (...). No arranjo e adereço <strong>do</strong>mésticos se<br />

reflete o aumento da riqueza privada, aumento que mais<br />

e mais se pronuncia à medida que se aproxima o ciclo da<br />

mineração.”<br />

MACHADO, José de Alcântara. Vida e Morte <strong>do</strong> Bandeirante. São Paulo:<br />

Martins, Brasília: INL, 1972. p. 62.<br />

No século XVIII, na região atualmente compreendida<br />

pelos esta<strong>do</strong>s de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás,<br />

iniciou-se a extração de ouro e de diamantes.<br />

Dezenas de milhares de pessoas de várias regiões da<br />

Colônia, principalmente de São Paulo, São Vicente, Rio<br />

de Janeiro, Bahia e Pernambuco, além de um número<br />

extremamente expressivo de portugueses, dirigiam-se<br />

rapidamente para a região aurífera à medida que a notícia<br />

da descoberta <strong>do</strong> ouro nas Minas Gerais se espalhava. A<br />

vinda de portugueses foi tão intensa que a Coroa<br />

estabeleceu rigorosa legislação, dificultan<strong>do</strong> a vinda de<br />

colonos.<br />

A exploração aurífera foi, portanto, decisiva não apenas<br />

na alteração <strong>do</strong> perfil demográfico da Colônia, mas<br />

também no próprio aumento populacional.<br />

Se em 1690, época em que ocorreu o início da descoberta<br />

das minas, a população total da Colônia era de<br />

aproximadamente 242 mil habitantes, excluí<strong>do</strong>s os povos<br />

indígenas, em fins <strong>do</strong> século XVIII, o “século <strong>do</strong> ouro”, a<br />

população havia ultrapassa<strong>do</strong> 3,2 milhões habitantes.<br />

Desse total, aproximadamente 500 mil habitantes<br />

concentravam-se nos povoa<strong>do</strong>, vilas e cidades que<br />

surgiram nas Minas Gerais.<br />

A exploração aurífera revitalizou a economia colonial,<br />

bastante comprometida em função <strong>do</strong> declínio da<br />

agromanufatura açucareira <strong>do</strong> Nordeste, consequência da<br />

expulsão <strong>do</strong>s holandeses em 1654.<br />

A economia portuguesa, debilitada desde a época da<br />

Restauração, em 1640, quan<strong>do</strong> Portugal recuperou sua<br />

independência em relação à Espanha, sofreu grandes<br />

transformações em função da descoberta <strong>do</strong> ouro.<br />

A ruptura <strong>do</strong>s vínculos comerciais com a Holanda havia<br />

fragiliza<strong>do</strong> ainda mais a economia portuguesa, já abalada<br />

pelos custos decorrentes da luta contra os holandeses no<br />

Nordeste brasileiro.<br />

É importante considerar que, para fazer frente às<br />

permanentes ameaças da Espanha à sua soberania,<br />

Portugal aproximara-se diplomática e politicamente da<br />

Inglaterra, com o intuito de obter apoio militar, se<br />

necessário. Essa aproximação consoli<strong>do</strong>u-se exatamente<br />

no momento em que se iniciou a exploração aurífera no<br />

<strong>Brasil</strong> e levou à assinatura <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Methuen<br />

(1703) entre Portugal e Inglaterra.<br />

Pode-se perceber, por meio da leitura de alguns <strong>do</strong>s<br />

termos <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong>, o seu significa<strong>do</strong> para a economia<br />

portuguesa:<br />

“Art. 1º:: Sua sagrada Majestade EI-Rei de Portugal<br />

promete, tanto em Seu próprio Nome, como no de Seus<br />

Sucessores, admitir para sempre daqui em diante, no<br />

Reino de Portugal, os panos de lã e mais fábricas de<br />

lanifício de Inglaterra, como era costume até o tempo em<br />

que foram proibi<strong>do</strong>s pelas leis, não obstante qualquer<br />

condição em contrário.

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