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História do Brasil

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longo de três séculos. Isso significa dizer que subsistem<br />

as grandes propriedades de terra, poucos trabalha<strong>do</strong>res, e<br />

a criação extensiva de ga<strong>do</strong>.”<br />

GANCHO, cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena de. Caminhos <strong>do</strong> Boi -<br />

Pecuária Bovina no <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1990, p. 18.<br />

Em 1681, o jesuíta italiano André João Antonil (1649-<br />

1716) veio para o <strong>Brasil</strong> e escreveu o livro Cultura e<br />

Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, que foi publica<strong>do</strong> em Lisboa, em<br />

1711. A edição, no entanto, foi destruída por ordem da<br />

Coroa portuguesa, temerosa da divulgação na Europa das<br />

riquezas existentes no <strong>Brasil</strong> Colonial, que foram muito<br />

bem detalhadas na obra de Antonil.<br />

No texto a seguir, extraí<strong>do</strong> dessa obra, o jesuíta cita as<br />

áreas criatórias <strong>do</strong> sertão nordestino, o número<br />

aproxima<strong>do</strong> de cabeças de ga<strong>do</strong> e a articulação entre os<br />

núcleos da pecuária e os centros litorâneos:<br />

“As fazendas e os currais de ga<strong>do</strong> se situam onde há<br />

largueza de campo e água (...), por isso os currais da<br />

Bahia estão postos na borda <strong>do</strong> rio de São Francisco (...).<br />

E, posto que sejam muitos os currais da parte da Bahia,<br />

chegam a muito maior número os de Pernambuco (...).<br />

Os currais desta parte hão de passar de oitocentos, e de<br />

to<strong>do</strong>s estes vão boiadas para o Recife, Olinda e suas vilas<br />

para o fornecimento das fábricas <strong>do</strong>s engenhos (...). Só<br />

no rio de Iguaçu estão hoje mais de trinta mil cabeças de<br />

ga<strong>do</strong>. As da parte da Bahia se tem por certo que passam<br />

de meio milhão, e mais de oitocentas mil hão de ser as<br />

partes de Pernambuco.”<br />

ANTONIL. André João. Cultura e Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> 3. ed. Belo Horizonte:<br />

Itatiaia, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1982. p. 199.<br />

A pecuária no <strong>Brasil</strong> Colônia:extremo-sul<br />

Durante o século XVIII, a pecuária expandiu-se também<br />

no extremo-sul, mais precisamente na Capitania de São<br />

Pedro (Rio Grande <strong>do</strong> Sul), sen<strong>do</strong> o centro dispersor a<br />

Capitania de São Vicente. Essa expansão implicou a<br />

ruptura <strong>do</strong>s limites impostos pelo meridiano imaginário<br />

de Tordesilhas e na incorporação de regiões pertencentes<br />

à Espanha, segun<strong>do</strong> o trata<strong>do</strong> assina<strong>do</strong> em 1494.<br />

O interesse da Coroa portuguesa no efetivo povoamento<br />

de tais regiões se explica pelo fato de ser também uma<br />

área de fronteira — inclusive, esse interesse é anterior à<br />

expansão da pecuária.<br />

Já em 1680, o governo português fun<strong>do</strong>u a Colônia de<br />

Sacramento, nas margens <strong>do</strong> Rio da Prata, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto<br />

a Buenos Aires. Esse interesse também explica uma<br />

experiência única em to<strong>do</strong> o Perío<strong>do</strong> Colonial: o<br />

incentivo à vinda de famílias açorianas para ocupar as<br />

áreas litorâneas <strong>do</strong> extremo-sul.<br />

Na segunda metade <strong>do</strong> século XVIII, a criação de ga<strong>do</strong><br />

atingiu sua maior expansão na região durante o Perío<strong>do</strong><br />

Colonial, quan<strong>do</strong> a “indústria <strong>do</strong> charque” (carne seca),<br />

alcançou seu momento mais expressivo em função da<br />

necessidade de abastecer as regiões das minas, já<br />

densamente povoadas. A esse respeito, escreveram as<br />

professoras Cândida Gancho e Vera Vilhena:<br />

“A atividade minera<strong>do</strong>ra, nos primeiros anos <strong>do</strong> século<br />

XVIII, criou, nas regiões de Minas, Mato Grosso e<br />

Goiás, um grande merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r de carne. Por<br />

isso, muitos paulistas dedicaram-se a levar para lá<br />

boiadas <strong>do</strong>s campos de Curitiba ou de mais ao sul (<strong>do</strong><br />

Rio Grande). O ga<strong>do</strong> era aprisiona<strong>do</strong>, amansa<strong>do</strong>,<br />

quedan<strong>do</strong>-se algum tempo rias invernadas, numa espécie<br />

de estágio. Após a engorda, seguia andan<strong>do</strong> até Laguna,<br />

núcleo populacional mais importante <strong>do</strong> Sul. Dali era<br />

embarca<strong>do</strong> para o Rio de Janeiro e Santos, a fim de<br />

abastecer as regiões minera<strong>do</strong>ras. Em 1727, com a<br />

abertura da estrada que ligava Sorocaba (São Paulo) ao<br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul, foi possível transportá-lo andan<strong>do</strong>.”<br />

GANCHO, cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena de. Caminhos <strong>do</strong> Boi:<br />

Pecuária Bovina no <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1990. p. 24.<br />

Assim como no Sertão Nordestino, a pecuária <strong>do</strong><br />

extremo-sul repetiu a estrutura latifundiária, valen<strong>do</strong>-se,<br />

inclusive, da utilização <strong>do</strong> trabalho escravo de origem<br />

africana.<br />

O movimento bandeirantista<br />

Desde o início da colonização, foram organizadas<br />

expedições que, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> litoral, buscavam o interior<br />

com o objetivo de encontrar metais preciosos. A partir da<br />

segunda metade <strong>do</strong> século XVII, o processo de<br />

interiorização tornou-se mais intenso com o movimento<br />

bandeirantista. Em relação a essa questão, é importante<br />

considerar a existência de três focos básicos <strong>do</strong><br />

bandeirantismo:<br />

Apresamento de índios (ou caça ao índio), pratica<strong>do</strong>,<br />

principalmente, no extremo-sul e na Região<br />

Amazônica;<br />

Sertanismo de contrato, particularmente intenso no<br />

Nordeste açucareiro, objetivan<strong>do</strong> a captura de<br />

escravos fugitivos;<br />

Pesquisa mineral (ou ciclo da mineração), que,<br />

partin<strong>do</strong> de São Paulo, dirigiu-se à região das minas,<br />

transpon<strong>do</strong> a Serra da Mantiqueira.<br />

Em relação ao movimento de apresamento de índios,<br />

Antônio Vieira, jesuíta português, manifestou seu<br />

repúdio a essa prática em uma carta datada de 1653:<br />

“Na primeira carta disse a V. Rev. a grande perseguição<br />

que padecemos índios, pela cobiça <strong>do</strong>s portugueses em<br />

os cativarem. Nada há de dizer de novo, senão que ainda<br />

continua a mesma cobiça e perseguição, a qual cresceu<br />

ainda mais. No ano de 1649 partiram os mora<strong>do</strong>res de

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