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História do Brasil

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de 20 milhões de brasileiros, numa população total de 90<br />

milhões, viviam abaixo da linha de pobreza;<br />

• 75% da população não tinha acesso a água encanada;<br />

• aproximadamente 30% da população morava em<br />

favelas ou nas periferias das grandes cidades;<br />

• a mortalidade infantil apresentava índices alarmantes.<br />

Na década de 70 <strong>do</strong> século XX, aproximadamente 115<br />

crianças morriam antes de completarem 1 ano em cada<br />

grupo de 1000 nasci<strong>do</strong>s vivos. Em 1964, essa proporção<br />

era de 70 para cada 1000. Para se ter ideia da dimensão<br />

desses números, considere-se que, no ano 2000, de<br />

acor<strong>do</strong> com o Censo 2000 <strong>do</strong> ISGE, essa relação era de<br />

35 para 1000.<br />

Paralelamente à contenção salarial, os trabalha <strong>do</strong>res<br />

também perderam antigos direitos, como a estabilidade<br />

no emprego, que foi substituída pela contribuição ao<br />

FGTS (Fun<strong>do</strong> de Garantia por Tempo de Serviço).<br />

Evidenciava-se, assim, a preocupação da área econômica<br />

<strong>do</strong> regime militar em romper com o modelo trabalhista<br />

construí<strong>do</strong> à época de Vargas. Ao mesmo tempo, a<br />

sistemática repressão aos trabalha<strong>do</strong>res rurais e a plena<br />

consolidação de uma estrutura fundiária concentra<strong>do</strong>ra<br />

acentuaram o êxo<strong>do</strong> rural, provocan<strong>do</strong> o inchaço das<br />

periferias das grandes cidades. Sem dúvida, em grande<br />

parte, as raízes da atual violência que permeia os grandes<br />

centros urbanos brasileiros no início <strong>do</strong> século XXI<br />

encontram-se nessas graves distorções socioeconômicas.<br />

A partir de 1973, no contexto de uma nova crise <strong>do</strong><br />

capitalismo mundial desencadeada a partir <strong>do</strong> “choque<br />

<strong>do</strong> petróleo” e da elevação <strong>do</strong>s juros no sistema<br />

financeiro internacional, a economia brasileira conheceu<br />

uma nova fase de recessão.<br />

Chegou-se ao fim <strong>do</strong> “milagre econômico”, cujos limites<br />

estruturais ficaram evidencia<strong>do</strong>s. Os países que, como o<br />

<strong>Brasil</strong>, baseavam a infraestrutura de seu desenvolvimento<br />

na utilização maciça de petróleo, até então importa<strong>do</strong> a<br />

baixo preço, viram suas contas externas deteriorarem-se<br />

rapidamente, impactan<strong>do</strong> a já grave questão da dívida<br />

externa.<br />

Em um suplemento especial organiza<strong>do</strong> pelo jornal O<br />

Globo, essa crise foi assim analisada:<br />

“No dia 16 de outubro de 1973, em plena guerra <strong>do</strong> Yom<br />

Kippur(entre uma coalizão de países árabes e Israel), os<br />

países árabes descobriram um mo<strong>do</strong> menos violento de<br />

atingir seus objetivos. A Organização <strong>do</strong>s Países<br />

Exporta<strong>do</strong>res de Petróleo (OPEP), controlada pela<br />

Arábia Saudita, rã, Iraque e Kuwait, aumentou o preço<br />

<strong>do</strong> barril de US$ 3 para USS 5. Logo em seguida os<br />

países árabes decretaram boicote aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e<br />

Holanda, alia<strong>do</strong>s de Israel. No começo de novembro, os<br />

produtores da região cortaram sua produção em 25% e,<br />

na véspera <strong>do</strong> Natal, a OPEP fixou um novo preço para o<br />

barril: USS 11,60. Era o começo de uma crise que iria<br />

provocar recessão de alcance mundial, entre países ricos<br />

e pobres, com direito a inflação galopante e elevação<br />

absurda <strong>do</strong>s déficits públicos.”<br />

Suplemento especial O Globo 2000. Rio de Janeiro: O Globo. 2000, p. 613.<br />

Em 15 de março de 1974, assumiu um novo generalpresidente:<br />

Ernesto Geisel. Em seu governo, que se<br />

estendeu até 15 de março de 1979, o núcleo militar que<br />

detinha o poder, perceben<strong>do</strong> que o regime já não mais<br />

contava com o apoio da maioria da sociedade — em<br />

função da elevação <strong>do</strong> custo de vida, <strong>do</strong> arrocho salarial,<br />

sobretu<strong>do</strong> para as camadas trabalha<strong>do</strong>ras mais humildes,<br />

e pelo conhecimento, ainda que precário, <strong>do</strong>s excessos<br />

cometi<strong>do</strong>s pelos órgãos de repressão —, elaborou uma<br />

nova estratégia política.<br />

Iniciou-se um tími<strong>do</strong> processo de “distensão”, isto é, de<br />

abertura política, que deveria ser executada de forma<br />

“lenta, segura e gradual”, acompanhada de retrocessos<br />

políticos sempre que o regime entendeu serem<br />

necessários.<br />

As vitórias <strong>do</strong> MDB nas eleições legislativas de 1974,<br />

que refletiram o desencanto da classe média com os<br />

governos militares, fizeram com que o núcleo central <strong>do</strong><br />

poder se dividisse em duas tendências: a primeira,<br />

formada pelos militares da “Sorbonne”, grupo mais bem<br />

articula<strong>do</strong> intelectualmente, entendeu o reca<strong>do</strong> das urnas<br />

e percebeu ser necessário uma maior flexibilização<br />

política; a segunda, representada pelos militares da<br />

chamada “linha dura”, procurou agir no senti<strong>do</strong> de<br />

reprimir as expectativas de abertura política.<br />

O governo Geisel teve que se equilibrar entre essas duas<br />

tendências, ora fazen<strong>do</strong> concessões politicas, ora<br />

atenden<strong>do</strong> aos “duros” e seus retrocessos políticos. As<br />

dificuldades foram significativas.<br />

Afinal, conforme assinalou Elio Gaspari:<br />

“Dez anos depois da saída <strong>do</strong> marechal Castello Branco<br />

de sua casa de Ipanema para o palácio Laranjeiras o<br />

general Ernesto Geisel preparava-se para ocupar a<br />

Presidência da República. Receberia uma ditadura militar<br />

que apoiara, saben<strong>do</strong> que dentro dela está montada uma<br />

máquina de extermínio das ‘lideranças esquerdistas. Não<br />

havia mais guerrilha, muito menos terrorismo. Sobrara a<br />

máquina.”<br />

GASPARI Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.<br />

p. 464.<br />

Foi essa “máquina” citada por Elio Gaspari que, por<br />

diversas vezes, ao longo <strong>do</strong> governo Geisel e mesmo <strong>do</strong><br />

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