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História do Brasil

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1. Como eram as relações de trabalho entre europeus e<br />

índios?<br />

2. O <strong>do</strong>cumento apresenta de forma clara o choque<br />

cultural presente nas relações entre europeus e nativos?<br />

Justifique sua resposta.<br />

Das árvores... que a terra <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> produz... quero antes<br />

de descrever os costumes <strong>do</strong>s nossos selvagens (...) falar<br />

das plantas, frutos e raízes que se encontram nesse país.<br />

Devo começar pela descrição de uma das árvores mais<br />

notáveis e apregoadas entre nós por causa da tinta que<br />

dela se extrai: o pau-brasil que deu nome a essa região.<br />

Essa árvore, a que os selvagens chamam de arabutan (...).<br />

Quanto ao mo<strong>do</strong> de carregar os navios com esta<br />

merca<strong>do</strong>ria (pau-brasil), direi que tanto por causa de sua<br />

dureza, e consequente dificuldade em derrubá-la, como<br />

por não existirem cavalos, asnos nem outros animais de<br />

tiro para transportá-la, é ela arrastada por meio de muitos<br />

homens; e se os estrangeiros que por aí viajam não<br />

fossem ajuda<strong>do</strong>s pelos selvagens, não poderiam sequer,<br />

em um ano, carregar um navio de tamanho médio.<br />

Os selvagens, em troca de algumas roupas, camisas de<br />

linho, chapéus, facas, macha<strong>do</strong>s, cunhas de ferro e<br />

demais ferramentas trazidas por franceses e outros<br />

europeus, cortam, serram, racham, atoram e desbastam o<br />

pau-brasil transportan<strong>do</strong>-o nos ombros nus às vezes duas<br />

ou três léguas de distância, por montes, sítios escabrosos<br />

até a costa junto aos navios ancora<strong>do</strong>s, onde os<br />

marinheiros o recebem.<br />

Em verdade só cortam o pau-brasil depois que os<br />

franceses e portugueses começaram a frequentar o país;<br />

anteriormente, como me foi dito por um ancião,<br />

derrubavam as árvores deitan<strong>do</strong>-lhes fogo. Na Europa<br />

imaginam muitos que os toros re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s nos<br />

armazéns são da grossura natural das árvores; já observei<br />

que estas são muito grossas, por isso os selvagens<br />

desbastam os troncos e arre<strong>do</strong>ndam a fim de facilitar o<br />

transporte e o manejo <strong>do</strong>s navios (...).<br />

Os nossos tupinambás muito se admiram <strong>do</strong>s franceses e<br />

outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o<br />

seu arabutan (pau - brasil). Uma vez um velho<br />

perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e peros<br />

(franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para<br />

vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?<br />

Respondi que tínhamos muita mas não daquela<br />

qualidade, e que não queimávamos, como ele supunha,<br />

mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual e faziam<br />

eles com seus cordões de algodão e suas plumas.<br />

Retrucou o velho imediatamente: E por ventura precisais<br />

de muito?<br />

— Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem<br />

negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras,<br />

espelhos e outras merca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong> que podeis imaginar e<br />

um só deles compra to<strong>do</strong> o pau-brasil com que muitos<br />

navios voltam carrega<strong>do</strong>s.<br />

— Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas,<br />

acrescentan<strong>do</strong> depois de bem compreender o que eu lhe<br />

dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não<br />

morre? — Sim, disse eu, morre como os outros.<br />

Mas os selvagens são grandes discursa<strong>do</strong>res e costumam<br />

ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me<br />

de novo: E quan<strong>do</strong> morrem para quem fica o que<br />

deixaram?<br />

— Para seus filhos, se os têm, respondi. Na falta destes<br />

para os irmãos ou parentes mais próximos.<br />

— Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não<br />

era nenhum tolo, agora vejo que vós outros mairs sois<br />

grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes<br />

incômo<strong>do</strong>s, como dizeis quan<strong>do</strong> aqui chegais, e<br />

trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos<br />

filhos ou para aqueles que vos sobrevivem. Não será a<br />

terra que vos nutrir suficiente para alimentá-los também?<br />

Temos pais, mães e filhos a quem amamos, mas estamos<br />

certos de que depois de nossa morte a terra que nos<br />

nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem<br />

maiores cuida<strong>do</strong>s.<br />

LÉRY, Jean de. Viagem à Terra <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. In: GASMAN, Lydnéa. Documentos<br />

Históricos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: Fename, 1976. p. 25-27.<br />

TEXTO 3 - CARTA DE DUARTE COELHO<br />

Duarte Coelho<br />

Duarte Coelho era o <strong>do</strong>natário da Capitania de<br />

Pernambuco, uma das mais prósperas <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong><br />

Colonial. Juntamente com a exploração de pau-brasil,<br />

desenvolveu-se na capitania a pecuária, o cultivo de<br />

algodão e, principalmente, o cultivo da cana, devi<strong>do</strong> aos<br />

ricos solos de massapê da região.<br />

Em carta datada de 1542, o <strong>do</strong>natário solicita ao rei D.<br />

João III, negros da Guiné para os canaviais e relaciona<br />

alguns de seus problemas.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

1. Quais os sinais da prosperidade da capitania que<br />

podem ser percebi<strong>do</strong>s na carta?<br />

2. Estrangeiros e índios realmente representavam<br />

problemas para os <strong>do</strong>natários? Qual era a visão de Duarte<br />

Coelho a esse respeito?<br />

3. Como Duarte Coelho justifica o pedi<strong>do</strong> de trazer<br />

negros da Guiné para o trabalho nos canaviais?<br />

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