História do Brasil
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Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />
seguinte questão:<br />
• Quais passagens <strong>do</strong> texto comprovam a tentativa de<br />
uma associação entre a moral cristã e a escravidão?<br />
A posição da Igreja frente à escravidão foi dupla: por um<br />
la<strong>do</strong> combateu vigorosamente em favor da liberdade <strong>do</strong>s<br />
índios; por outro, aceitou pacificamente a escravidão <strong>do</strong>s<br />
africanos importa<strong>do</strong>s para o <strong>Brasil</strong>.<br />
O presente estu<strong>do</strong> não aborda por inteiro o tema Igreja e<br />
Escravatura no <strong>Brasil</strong>. Aborda apenas a posição <strong>do</strong><br />
Síno<strong>do</strong> (assembléia de padres convocada por um bispo)<br />
da Bahia de 1707 - através das Constituições Primeiras<br />
<strong>do</strong> Arcebispa<strong>do</strong> da Bahia nele promulgadas — com<br />
relação aos escravos negros. Essas Constituições foram<br />
a<strong>do</strong>tadas posteriormente pelas demais dioceses<br />
brasileiras, de mo<strong>do</strong> que representam, de mo<strong>do</strong> geral, a<br />
atitude oficial da Igreja no século XVIII e grande parte<br />
<strong>do</strong> século XIX.<br />
As Constituições contêm cerca de 40 cânones (normas,<br />
regras especiais) que tratam especificamente <strong>do</strong>s<br />
escravos. Deles podemos tirar as seguintes conclusões<br />
com relação à posição da Igreja:<br />
1º) Quanto à escravatura em si: A Igreja a aceita como<br />
uma instituição legítima, como parte integrante da<br />
estrutura social <strong>do</strong> seu tempo.<br />
2º) Quanto ao tratamento <strong>do</strong>s escravos: A Igreja quer um<br />
tratamento bom <strong>do</strong>s escravos. Denuncia abusos no<br />
tratamento por parte <strong>do</strong>s senhores. Não são, porém,<br />
denúncias tão enérgicas como a dura realidade exigiria.<br />
Limitam-se as Constituições quase só a denunciar os<br />
abusos que impedissem o cumprimento <strong>do</strong>s deveres<br />
religiosos <strong>do</strong>s escravos, como o trabalho aos <strong>do</strong>mingos e<br />
dias santos.<br />
3º) Quanto à catequese <strong>do</strong>s escravos: É grande o<br />
empenho em catequizar os escravos e introduzi-los na<br />
Igreja pelo batismo. Devi<strong>do</strong> à sua rudeza, exige-se deles<br />
menos <strong>do</strong> que <strong>do</strong>s fiéis em geral.<br />
4º) Quanto à recepção <strong>do</strong>s sacramentos: A principal<br />
insistência é posta ao batismo. É pelo batismo que a<br />
pessoa é incorporada à Igreja. Daí a grande preocupação<br />
em trazer to<strong>do</strong>s os escravos ao batismo, após um mínimo<br />
de instrução na <strong>do</strong>utrina cristã. Defende-se o direito de<br />
os escravos contraírem matrimônio, contra os abusos <strong>do</strong>s<br />
senhores nesta matéria.<br />
Conclusão: A Igreja aceitou como legítima a instituição<br />
da escravatura <strong>do</strong>s negros. Não a questiona, considera-a<br />
elemento integrante da sociedade colonial.<br />
A Igreja não deixou, porém, de advogar um tratamento<br />
humano para o escravo. Contu<strong>do</strong>, esperar-se-ia da<br />
autoridade eclesiástica uma atitude mais vigorosa neste<br />
particular.<br />
A maior preocupação da Igreja - como transparece das<br />
Constituições Primeiras - estava em promover a<br />
catequização, embora não muito aprofundada, <strong>do</strong>s<br />
escravos; em integrá-los na Igreja, como membros dela,<br />
pelo batismo; em procurar dar-lhes toda a assistência<br />
religiosa possível; em denunciar, ao menos em parte, os<br />
abusos <strong>do</strong>s senhores.<br />
TITTON, Gentil Avelino. O Síno<strong>do</strong> da Bahia (1707) e o escravatura. [s.n.t.].<br />
TEXTO 6 - A INQUISIÇÃO NO BRASIL COLÔNIA<br />
Caio César Boschi<br />
Em alguns momentos <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> Colonial, o Tribunal da<br />
Inquisição se transferiu para o <strong>Brasil</strong> a fim de<br />
empreender um minucioso levantamento das “mazelas<br />
espirituais” e da “devassidão moral” <strong>do</strong>s súditos de Sua<br />
Majestade portuguesa. Por meio de interrogatórios,<br />
torturas, técnicas de persuasão e terror, o Tribunal<br />
obtinha depoimentos que devassavam a intimidade <strong>do</strong>s<br />
colonos. Feitiçaria, discriminação racial, perversões<br />
sexuais e heresias foram denunciadas, confessadas e<br />
punidas pelas “visitações” que ocorreram na Bahia, em<br />
Pernambuco e em Belém <strong>do</strong> Grão-Pará (durante a década<br />
de 60 <strong>do</strong> século XVIII). O texto <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r Caio<br />
César Boschi revela a atuação inquisitorial na Capitania<br />
de Minas Gerais e cita alguns <strong>do</strong>s “motivos De<br />
denúncia” que deveriam ser considera<strong>do</strong>s.<br />
Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />
seguinte questão:<br />
Explique a seguinte afirmação: “o controle social<br />
consolidava o <strong>do</strong>mínio colonial”.<br />
O cumprimento à norma disciplina<strong>do</strong>ra tridentina<br />
(referência às decisões <strong>do</strong> Concilio de Trento, no século<br />
XVI) de que cabia ao bispo a responsabilidade e o<br />
empenho em realizar as visitas diocesanas nem sempre<br />
podia ser respeita<strong>do</strong> (...).<br />
Dessa forma, no impedimento ou na impossibilidade de o<br />
titular <strong>do</strong> bispo proceder às visitas aqui relatadas, tal<br />
como previsto na legislação ordinária, elas se realizavam<br />
por intermédio <strong>do</strong> Vigário Geral ou de sacer<strong>do</strong>tes<br />
virtuosos e qualifica<strong>do</strong>s, criteriosamente escolhi<strong>do</strong>s pelos<br />
prela<strong>do</strong>s titulares (...).<br />
Transforman<strong>do</strong>-se, enquanto nelas permaneciam, em<br />
suprema autoridade eclesiástica das localidades nas quais<br />
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