A Filosofia no Brasil Sílvio Romero

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Todos os desenganos, pois, e é este o ponto a
que anhelammos chegar, todas as decepções que haja
o paiz de saborear no correr da lide que atravessa,
eBe não deve por á conta. de seus agentes, eliminando-se,
d'est'arte, dOa porção de responsabilidade
que lhe cabe.
'
Lembra-nos a expressão do hegeliano Vera, criticando
de Strauss: "não quero ser o censor de meu
tempo, porque eu tambem sou de meu tempo."
Sein receio da applicação que possam ter as palavras
do philosopho lÍquelies que dizem ...mal de seu
paiz, sendo elles tambem de seu paiz, julgamos que o
·italiano enganou-se algum tanto.' .
É uma razão de mais para sermos acoimados de '
veracidade quando profligamos nosso tempo ou nossa'
patria, porque não podemos ser tomados por suspeitos.
Faliamos contra nós mesmos pela força suprema da
verdade.
Digamol-o, portanto, francamente: o povo brasileiro,
por seu viver historico, e por todas as maculas
que actualmente desfiguram-lhe o semblante, é um
PO\'O mediocre, sem alto alToubamento moral, que não
deve ter a pretenção esteril e infantil, de exigir o impossivel
para si. É uma nação sem cultura, eivada de
caduoos. prejuizos, que tem a habilidade de crear pro­
.blemas epygonos justamente proprios para serem resolvidos
por seus estadistas pygmeus. Uns e ontros
se comprehendem e se completam. O paiz está envolto
em sombras. Pode-se-Ihe applicar O' estygma
theologico de Job: Et cÚ·cumded·it eltm Deus teneb1·is.
Estadistas e povo estão em equação adequadissima." *)
É ainda uma ligeira citação pessoal reclamada
pela natureza d'este escripto.
Para assignalar, porém, e estygmatisar, como merece,
a profunda miseria de nosso abatimento theologico,
a ignorancia, sem nome, 'que nos estraga e deprime,
vou cumprir o penoso encargo de denunciar aos
*) Da Tribuna do Povo, pequeno periodico outr'ora existente
na cidade da Estancia. .,