A Filosofia no Brasil Sílvio Romero

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simples funcção de um orgão. Li e reli muitas vezes
as obra.s do pnilosopho celebre que me servio de mestre;
só sentia praser em ler obras, cuja doutrina sé assemelhava
á sua, e as. outras me desgostavam e pouca
attenção me mereciam. Tendo, porém, de abandonar
esses estudos para me entregar áquelle, que tinha por
fim .dar-me a profissão de medico, deixaudo de ler os
philosophos, não deixei de pensar sobre o objecto de
que se occupavam. Materialista, encontrava em mim
um vasio, andava inquieto, afflicto até; comecei então
a reflectir, e minhas reflexões me fiseram duvidar de
mlútas cousa,s que tinha como verdades demonstradas,
e pouco a pouco fui conhecendo que não eramos só
mate];a, mas que eramos pr;1J.cipalmente uma cousa
muito difi'erente d'ella. Procurava nas minhas reflexões
examinar o que ep era na realidade, observava que
muitos phenomenos não eram explicaveis pela unica
existencia da materia: e assim progressivamente fui
examinando as minhas opiniões, até que, passados alguns
annos, e tornando ao estudo dos philosopho.s,
fui lendo aquelles, que ao principio me haviam desgostado,'
e encontrei um praser indefinivel, e o profundo
Maine de Biran contribuio especialmente para
esclarecer a minha intelligencia," *)
Este pedaço é um echo rouco e debil da celebre
confissão de Jouffroy, distanciado enormemente da pagina
fulgurante do romantico francez pelas a:grlli'as
de um estylo incorrecto. Raro foi, até certa epoca,
o eclectico qU'e se não julgou obrigado a abrir os recessos
d'alma para fazer-nos revelações de luctas e
discrenças, que, graças á sua philosophia, acabaram
por apaziguar-se.
Este espectaculo, pouco edificante, era um fillio
da fé, que procurava salvaguardar-se; uma philosophia,
pouco segura, firmada em phrases e transacções, dava
logar a essas queixas de confessionario. A sciencia
era para- ena uma que~tão de sentimento; devia respeitar
os prejuisos da educação. Joufti'oy, é verdade,
~ .
•) Tomo l0, Prefacio, pago VI.