A Filosofia no Brasil Sílvio Romero

141
com aquella gente, estes ultimos nada ganharam, si é
que não perder~m muito. É evidente que os primeiros
tambem não lhe devem cousa alguma. Quanto a08
filhos d'aquelle torrão, que se distinguiram por alguma
digna qualidade politica ou inwllectual, são ainda de
duas cathegorias: ou se educaram nas provincias, ou
adquiriram suas ideias na Europa. Nada conquistaram
alli, a não ser, talvez, o habito das transacções e o
desperdicio dos nobres incentivos. A nossa vida economica
é tambem eloquente em denunciar os abusos
da grande lad1'a que se chama - a Côrte.
Fôra util que o que existe de fecundo e aproveitavél
na mocidade brasileira de hoje, nas provincias,
se unisse, em crusada sancta, contra as más tendencias
de nossa capital, e, pensando por si, repellisse, de
ijma vez, o jugo vergonhoso. Não se tracta de uma
acção politica, e sim de uma mudança no curso das
ideia. O joven Brasil, tal deve ser o titulo dos novos
voluntarios da intelligencia, á semelhança da joven
Allema,nlta, e da joven I'l,glaten'a, conhecidas na historia
litteraria d'e&.te seculo, só se occuparà da reforma
do pensamento. Seu primeiro grito de alarma deve
ser contra a fallencia da metropole no terreno das
lettras e das sciencias, contra aquella cousa ainda sem
um,nome em ismo, ma~ que bem se podéra 'denominar
o alenca,1-1.srnO ou o macedismo, do nome dos dous
coryphêos que mais hão contribuido para o estrago
fluminense, Alguns francezes da decadencia, infatuados
por não sei que novo orgulho diante de sua capital,
diziam: a F1'ança é Pa1'is!
Esta phrase vergonhosa, uma das causas da derrota
d'aquelle povo, ha tido repetidores entre nÓs. O Brasil
é o Rio de Janei·ro, dizem os insensatos, incapazes de
compreh'ender o espírito de uma nação, e que o inclausuram
nas vidraças da'rua do Ouvidor! .. ,
O Dr. Tobias Barreto já se pronunciou alguma
COusa u'este sentido.*)
*) Veja-se, entre outros, o seu artigo Miserias do lmperio
e Sua Côrte, publicado no periodico .A Comarca, da Escada de
10 dE.' Junho de 1875,