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Clareira Flamejante - O Norte do Paraná antes e depois do advento da energia elétrica

No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. Lançado em 2007.

No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. Lançado em 2007.

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das carências mais acusadas por aqueles que adotavam Maringá para viver. Na escala

de prioridades, estava entre as primeiras. Por isso mesmo, era pauta inadiável a ser

enfrentada pelos primeiros dirigentes públicos do município, eleitos em 1952.

Aliás, no último comício da campanha de Inocente Villanova Jr., que se tornaria o

primeiro prefeito de Maringá, a carência desse serviço gerou um saboroso episódio

político. Quando ele se preparava para discursar, “sabotaram a luz, cortando os fios

que a levavam ao palanque”. O candidato não deixou barato. Manteve o discurso e

bradou que “a escuridão significava a mentalidade dos seus adversários”.[7]

Testemunhos da época sugerem, entretanto, que foi uma artimanha de sua

coordenação de campanha. Simulando preocupação, um dirigente de seu partido

teria dito aos adversários da UDN: “se acabar a luz na hora do discurso do Villanova,

será um desastre”. A isca teria sido mordida pelos udenistas.[8] Qualquer que seja a

origem da idéia, o fato é que os cabos da bateria foram desligados e o discurso de

Villanova, extraindo dividendos políticos da situação, foi concluído com uma

promessa: “eu lhes garanto: se eleito, vou instalar a energia elétrica em Maringá”.

Mal tomou posse, Inocente Villanova Jr. começou a enfrentar o problema. Na

primeira sessão da Câmara Municipal, um vereador da base de apoio do prefeito

informou a seus pares quais eram as providências que o Executivo vinha adotando a

respeito da questão da eletricidade. No relatório de gestão de Inocente Villanova

Jr., lê-se: “instalação de quatro motores para o fornecimento de energia elétrica”.[9]

A solução definitiva, evidentemente, ocorreu em processo. Por muito tempo, a

cidade, mesmo com a expansão dos serviços de energia elétrica, conviveu com a

presença de lamparinas e lampiões, especialmente nas regiões de população de baixa

renda. Em um período em que a fronteira entre o campo e a cidade não era tão

rígida, as pessoas costumavam se referir a essa novidade de seu cotidiano com um

vocabulário repleto de permanências do universo rural. Assim, uma lâmpada de 100

watts era referida como uma “lâmpada de 100 velas”. Solução original e criativa.

Em Clareira Flamejante, o jornalista e escritor Rogério Recco faz um relato rico

e denso dessa epopéia, tendo como foco a história de Maringá e região. Sua

narrativa abarca tanto o período em que o clarão vinha dos troncos que ardiam em

brasa, imagem traduzida no próprio título do livro, quanto o processo de

implantação dos serviços de energia elétrica. Seu trabalho tem o mérito inicial de

propor um tema que, em um primeiro contato, poderia até parecer técnico e

desinteressante. Basta, porém, que se leia cada página para verificar quanto o tema

é fascinante. Afinal, a relação de homens e mulheres com o controle e o uso de

energias, independentemente da época e dos padrões tecnológicos vigentes, diz

respeito a tudo que envolve a sua vida.

Atento às múltiplas dimensões do fenômeno, Rogério Recco acerta ao analisar a

repercussão da questão da energia elétrica, seja pela presença ou pela ausência, no

cotidiano da população, onde a relação se torna concreta. Traz à tona, com isso,

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