Clareira Flamejante - O Norte do Paraná antes e depois do advento da energia elétrica
No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. Lançado em 2007.
No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. Lançado em 2007.
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Em propriedades
rurais, era comum
o uso de “batatões”,
colhidos no mato,
para que fossem
usados como suporte
à iluminação
caseira. Para isso,
um pano embebido
em querosene era
colocado em um
buraco na “batata”
e, a seguir, aceso,
provocando uma
chama que
durava horas.
Assim iam vivendo.
Acostumados a enfrentar desafios, os Romagnolo não imaginavam que sofreriam
tanto na selva do Paraná. A começar pelas condições em que viviam. As tarimbas,
onde dormiam, eram feitas com varas de madeira. Sobre elas, dispunham colchões
forrados de palha de milho e travesseiros recheados com penas de aves.
Quando vinha a temporada de chuvas, tudo virava um imenso lamaçal, tornando
impossível sair da fazenda, ante a precaridade das estradas. Para complicar, eram
tempos de Segunda Guerra Mundial, o que provocou escassez de gêneros como
açúcar, farinha de trigo, sal e óleo diesel.
Porém, à sua maneira, eles davam jeito em tudo. Para poder saborear um café
“adocicado”, por exemplo, a família tinha que moer cana e ferver o caldo. O pó de
café, então, era passado na garapa. E, como não havia combustível para as
lamparinas, a única maneira era queimar óleo de mamona, colhida e moída no
próprio quintal. A combustão produzia tufos de fumaça preta, mas, pelo menos,
ninguém ficava no escuro.
Só depois de seis meses é que a propriedade, enfim, começava a ganhar cara e
jeito de fazenda. Milhares de pés de café - e foram 100 mil no total - cresciam em
meio a lavouras de subsistência, onde se colhia o alimento diário. Com as coisas já
mais organizadas e definidas, era o momento de construir uma casa melhor para a
família, pois a vida no ranchinho de palmito, com chão de terra batida, já não
justificava tamanho sacrifício. Nessa época, muitos portugueses especialistas em
construções de madeira, matéria-prima abundante no Norte do Paraná, tinham
vindo em busca de trabalho e eram disputados tanto nas cidades quanto nas propriedades
rurais.
Com madeira extraída das imediações, a casa ampla e confortável ficou pronta, o
que premiou os Romagnolo. Era a recompensa após tantas privações.
Natalina, enfim, teria um lugar mais seguro para criar os filhos e, junto
com o marido, ter força e ânimo para continuar acreditando em
prosperidade. Aquela casa seria apenas a primeira. Para formar uma
colônia de trabalhadores, que cuidaria do cafezal, outras duas dezenas
de moradias foram levantadas com caprichosa mão-de-obra portuguesa.
Mesmo sob condições tão inóspitas, a família não deixaria de
continuar crescendo. Na Fazenda, Francisco e Natalina tiveram mais dois
filhos paranaenses: Maria Cecília e Armindo. Cecília, a última das
Marias. Ambos, autênticos “pés vermeios”.
O tempo foi correndo e as coisas, enfim, pareciam ajustar-se.
As lavouras iam bem e, no terceiro ano, a fazenda começou a
receber famílias para ocupar as casas da colônia e trabalhar no
café. Era gente que resultava da mistura de várias raças, geral-
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