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Nomadismo camelô<br />

A grande maioria dos camelôs vai parar no comércio ambulante<br />

por causa da necessidade de trabalhar (auferir uma renda para si e para<br />

suas famílias). Assim, mães, filhos, pais e simples conhecidos vão para<br />

as ruas inicialmente por necessidade. Uma vez ali, se deparam com<br />

uma realidade de autonomia do trabalho e flexibilidade de horários e<br />

locais, e também de ganhos maiores que aqueles reservados aos pobres<br />

no mercado formal, acabam optando por permanecer ali mesmo<br />

diante da repressão (inclusive policial) e da insegurança que o meio<br />

lhes reserva. A grande virada − a opção em estar nas ruas, portanto,<br />

aparece como uma decisão em driblar o destino de pobre-trabalhador<br />

assalariado com um longo futuro de subordinação pela frente: da necessidade<br />

(do emprego) à potência (do trabalho) por meio da luta para<br />

tomar para si as rédeas da própria vida.<br />

Seu trabalho consiste, entre outras coisas, em articular uma rede<br />

de fornecedores e consumidores, em mapear os territórios locais − em<br />

geral, urbanos − em busca de melhores condições de trabalho e renda<br />

sendo necessário para isso construir relações humanas baseadas na cooperação<br />

e na confiança mútua. A renda, que varia muito de caso a caso,<br />

e principalmente de uma região para outra, é quase que invariavelmente<br />

maior que a auferida pelos mesmos grupos no mercado de trabalho<br />

formal, com a vantagem de que a atividade de ambulante praticamente<br />

não impõe restrições quanto à idade e à condição dos trabalhadores<br />

(classe, cor, gênero etc), passando ao largo da normatividade / regulação<br />

biopolítica do emprego. As dificuldades − que são muitas − também são<br />

bastante conhecidas: as principais são a repressão governamental e de<br />

empresas que os vêm como concorrentes, quase sempre materializada<br />

em violência policial e tudo o que isso implica (perda das mercadorias,<br />

prisão e incontáveis agressões); as dinâmicas de hierarquização internas<br />

ao meio que fazem com que os pobres muitas vezes explorem outros<br />

pobres; e a precariedade quase total em que conduzem suas atividades<br />

(ausência de direitos específicos e impossibilidade de participar dos direitos<br />

destinados aos trabalhadores empregados). No entanto, a maior<br />

delas, no sentido de que abarca e reorganiza todas as outras, está na captura<br />

do trabalho desenvolvido pelos camelôs por parte de atores governamentais<br />

[o Estado] e/ou empresariais [o mercado]. Trata-se, da gestão<br />

complexa do trabalho informal feita no intuito de enfraquecer os elos<br />

orgânicos existentes entre os trabalhadores e sua posterior captura por<br />

meio da mediação introduzida por estes entes (da fragmentação: isolamento<br />

dos ‘elementos’ mais radicais, quer dizer, autônomos; passando<br />

pela modulação dos camelôs em diferentes categorias: com ou sem licença<br />

/ permissão de trabalho; à subordinação dos camelôs a estratégias<br />

empresariais de mercado: obrigação de negociar com uma única empresa,<br />

uniformização da “força de trabalho” e subcontratação).<br />

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