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Google da digitalização universal). Um evento material pode ser facilmente<br />
traduzido no plano imaterial, e, inversamente, o imaterial pode<br />
ser incorporado no material. Esta segunda passagem é a passagem de<br />
um mal-entendido milenar e a antropologia tem muito a dizer sobre a<br />
relação entre magia e logocentrismo. Economicamente, o digitalismo<br />
acredita que quase toda a reprodução de dados digitais livre de gasto<br />
de energia pode emular a produção de material de alto dispêndio<br />
energético. Certamente, o digital pode desmaterializar qualquer tipo<br />
de comunicação, mas não pode afetar a produção de biomassa. Politicamente,<br />
o digitalismo acredita em uma economia de troca (dádiva)<br />
mútua. A Internet seria, supostamente, livre de qualquer exploração e<br />
tende naturalmente a um equilíbrio social. Nesse contexto, o digitalismo<br />
funciona como uma política desencarnada sem reconhecimento<br />
do trabalho off-line que está sustentando o mundo on-line (a divisão<br />
de classes que precede qualquer brecha digital). Ecologicamente, o digitalismo<br />
se autopromove como ambientalmente amigável e uma maquinaria<br />
de emissão nula contra a poluição do antigo fordismo. No entanto,<br />
parece que um avatar do Second Life consome mais eletricidade<br />
que o brasileiro médio [CARR, 2006].<br />
Como Marx evidencia o fetichismo pela mercadoria, logo no início<br />
do Capital, um fetichismo do código deve ser colocado na base da<br />
economia de rede. “Deus é a máquina” foi o título do manifesto digitalista<br />
de Kevin Kelly cujos pontos proclamou claramente: a computação<br />
pode descrever todas as coisas, todas as coisas podem computar,<br />
toda computação é uma só [KELLY, 2002]. Digitalismo é um daqueles<br />
modelos políticos inspirado pela tecnologia e não por conflitos sociais.<br />
Como McLuhan uma vez disse: “Nós moldamos nossas ferramentas,<br />
e depois as nossas ferramentas nos moldam.” [MCLUHAN, 1964]<br />
A Internet, em particular, foi alimentada pelos sonhos políticos da<br />
contracultura americana dos anos 1960. Atualmente, de acordo com<br />
a tradição Autonomista Marxista [NEGRI; HARDT, 2004 e ROSSITER,<br />
2006], a rede é ao mesmo tempo, a estrutura do Império e a ferramenta<br />
para a auto-organização das multidões. Mas apenas a cultura anglo-<br />
-americana concebeu a fé no primado da tecnologia sobre a política.<br />
Se hoje os ativistas aplicam o modelo de Software <strong>Livre</strong> para artefatos<br />
tradicionais e falam de uma “sociedade GPL” 4 e da “produção P2P”<br />
[BAUWENS, 2005], eles o fazem, tão precisamente, porque acreditam<br />
em uma simetria pura do tecnológico sobre o social. Neste sentido,<br />
a definição de <strong>Cultura</strong> <strong>Livre</strong> reúne todas as subculturas que formam<br />
uma agenda quase política em torno da livre reprodução de arquivos<br />
digitais. O pontapé de saída foi o slogan “A informação quer ser livre”<br />
[CLARKE, 2000] lançada por Stewart Brand na Primeira Conferência<br />
Hacker em 1984. Mais tarde, a cultura hacker underground impulsionou<br />
o movimento do Software <strong>Livre</strong> e, em seguida, uma cadeia de<br />
novas palavras-chave foi gerada: Código aberto, conteúdo aberto, eco-<br />
4. “Sociedade<br />
GPL significa a<br />
formação de uma<br />
sociedade baseada<br />
nos princípios do<br />
desenvolvimento<br />
do Software <strong>Livre</strong>”<br />
definição do Projeto<br />
Oekonux, .<br />
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