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mento de energia, inconscientemente empregado pelas escolas críticas<br />

da mídia? Qual o papel da tecnologia na produção, consumo e<br />

sacrifício do mais-valor? E, mais exatamente, quais os tipos de mais-<br />

-valor estão envolvidos: energia, libido, valor, dinheiro, informação?<br />

Observando o discurso atual da mídia, Bataille é mobilizado apenas<br />

para justificar uma espécie de potlatch digital – uma reprodução furiosa,<br />

porém estéril, de cópias digitais. Ao contrário, sob sua “economia<br />

geral”, a energia parece flutuar no entorno e no interior das máquinas,<br />

atravessando e alimentando uma multidão de dispositivos. Para superar<br />

seu destino endogâmico, a cultura da mídia deveria ser redefinida<br />

em torno de um entendimento radical do mais-valor. O próprio Bataille<br />

considerava a tecnologia como uma extensão de vida para acumular<br />

energia e prover melhores condições de reprodução. Como “galhos de<br />

árvore e asas de pássaros na natureza”, a tecnologia abre novos espaços<br />

a serem povoados [Batailles, 1988, p. 36. ]. No entanto, algo novo<br />

ocorreu quando as redes de informação entraram na biosfera. Que tipo<br />

de energia as máquinas digitais encarnam? Serão elas mais uma extensão<br />

da energia bioquímica como no caso das tecnologias clássicas que<br />

Bataille tinha em mente? As máquinas digitais são uma clara bifurcação<br />

do filo maquínico: os domínios semiótico e biológico representam dois<br />

extratos diferentes. A energia dos fluxos semióticos não é a energia dos<br />

fluxos materiais e econômicos. Elas interagem, mas não em um sentido<br />

simétrico e especular, como vem sendo propagado pela difundida<br />

ideologia do digital (que eu mais tarde introduzirei como digitalismo).<br />

A energia sempre flui em uma direção. Familiarizado com o cenário<br />

da sociedade em rede e com a celebração de seu espaço de fluxos 2 ,<br />

um safari com Bataille pelos ecossistemas do excesso pode ser útil para<br />

recordar a natureza distópica do capitalismo. Em Bataille, o mais-valor<br />

econômico está estritamente relacionado com excesso libidinal, prazer<br />

e sacrifício. Ainda assim, entre fluxos sem fim e seus “gastos gloriosos”<br />

[Batailles, 1985], um modelo específico que explica como o mais valor<br />

é acumulado e a troca é perdida. Em seu livro inspirador e seminal<br />

O parasita, Michel Serres capta a assimetria da vida universal na figura<br />

conceitual do parasita: jamais há uma troca simétrica de energia, mas<br />

sempre um parasita roubando energia e alimentando outro organismo.<br />

No começo da era computacional (o livro foi publicado em 1980),<br />

o parasita inaugura uma crítica materialista de todas as formas de pensamento<br />

baseadas em um modelo binário de energia: os semicondutores<br />

de Serres roubam energia ao invés de computá-las.<br />

O homem é um piolho para outros homens. Logo, o homem<br />

é um hospedeiro para outros homens. O fluxo segue em uma<br />

direção, nunca na outra. Dou a isso o nome de semicondução,<br />

essa válvula, essa seta simples, essa relação sem direção inversa,<br />

“parasitária”. [Serres, 1982, p. 5.]<br />

2. Space of flows” é<br />

um conceito introduzido<br />

por Manuel<br />

Castells em The Informational<br />

City (1989)<br />

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