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Mesmo defensores do capitalismo, como o jurista Stephan Kinsella,<br />

reconhecem este problema. Conforme o autor afirma no trabalho<br />

“Contra a Propriedade Intelectual”, publicado pelo conservador Instituto<br />

Ludwig Von Mises, seria “injusto recompensar inventores mais<br />

práticos e provedores de entretenimento, tais como o engenheiro e o<br />

compositor, e deixar pesquisadores mais teóricos de ciência e matemática<br />

e filósofos sem recompensas”.<br />

Para a consagração deste mito da originalidade pura, a noção de<br />

plágio foi marginalizada na cultura ocidental moderna. Porém, a cópia<br />

e não-citação das fontes já foram práticas comuns na produção<br />

literária. “Um poeta inglês podia se apropriar de um soneto de Petrarca,<br />

traduzi-lo e dizer que era seu. De acordo com a estética clássica da<br />

arte enquanto imitação, esta era uma prática perfeitamente aceitável.<br />

O verdadeiro valor dessa atividade estava mais na disseminação da<br />

obra para regiões onde de outra forma ela provavelmente não teria<br />

aparecido, do que no fortalecimento da estética clássica. As obras de<br />

plagiadores ingleses como Chaucer, Shakespeare, Spenser, Sterne, Coleridge<br />

e De Quincey ainda são uma parte vital da tradição inglesa, e<br />

continuam a fazer parte do cânone literário até hoje”, afirma o coletivo<br />

Critical Art Ensemble no trabalho ‘Plágio Utópico, Hipertextualidade e<br />

Produção <strong>Cultura</strong>l Eletrônica’.<br />

Durante a Idade Média, os copistas faziam constantes acréscimos e<br />

alterações nas obras com as quais trabalhavam. Segundo o livro ‘Textos<br />

Medievais e Sua Primeira Aparição na Imprensa’ do pesquisador E. Goldschmidt,<br />

citado por McLuhan no clássico ‘A Galáxia de Guttenberg’,<br />

havia uma verdadeira “indiferença dos eruditos medievais pela exata<br />

identidade dos autores, em cujos livros estudavam”. Quando os raros<br />

escritores da época faziam textos inéditos se sentiam livres para incorporar<br />

trechos de terceiros, nem sempre com aspas ou com a referência<br />

da fonte original. Do mesmo modo, na cultura oral, a falta de autoria de<br />

uma narração de tempos imemoriais não compromete a credibilidade<br />

da mesma. Pelo contrário, enfatiza suas raízes na tradição e, portanto, a<br />

expressão não apenas de uma inteligência autoral, mas coletiva.<br />

Já a impressão tipográfica dos textos traz uma nova maneira de lidar<br />

com a cultura. Antes, cada livro era fruto de um trabalho individual<br />

de criação e reprodução, do autor do ponto de vista do conteúdo<br />

imaterial do discurso e do copista na forma material do produto. Cada<br />

um comportava variações mínimas de sentido e era dono de certa singularidade.<br />

Já o paradigma tipográfico moderno introduz a noção de<br />

uma obra matriz, que servirá como uma forma ideal platônica para as<br />

demais reproduções materiais. Neste paradigma, as variações de outrora<br />

são agora entendidas como um erro ou desvio. O plágio re-surge<br />

então na modernidade como um atentado à autoria. A história da arte<br />

fornece vários exemplos nos quais a mais ousada inovação estética se<br />

aproximou mais da ideia do plágio e da aproriação do que da criação<br />

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