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política neoclássica mobiliza a noção de informação como algo natural,<br />
imaterial e homogêneo, que cria um conhecimento objetivo do real<br />
como base de referência a escolhas, que desta maneira serão racionais,<br />
baseadas em um cálculo. No capitalismo contemporâneo, marcado por<br />
incerteza e singularização dos produtos, dos produtores e dos consumidores,<br />
os mercados ignoram a informação porque ela é substituída<br />
pelo conhecimento: a escolha se torna o fato de uma atividade reflexiva<br />
de julgamento, e não uma arbitragem instrumental a partir dos preços.<br />
A informação permitia instaurar um mesmo mundo que os atores<br />
compartilhavam com base na mensurabilidade e equivalência generalizada:<br />
aquela dos preços. A informação é a característica de base de um<br />
conhecimento funcional à produção de bens com base na subordinação<br />
do trabalho vivo (capital variável) pelo trabalho morto (o capital fixo).<br />
O conhecimento diz respeito a uma multiplicidade de mundos. O<br />
que caracteriza o conhecimento é de ser uma produção de mundos.<br />
O cálculo (quantitativo − informacional) deve “fazer as contas” com o<br />
julgamento (qualitativo − comunicativo): os saberes sociais, longe de<br />
serem unitários e indiscutíveis, são múltiplos e controvertidos. Será<br />
o julgamento, ou seja, uma atividade reflexiva de world making, por<br />
meio de sua dimensão comunicativa, que juntará a singularidade e o<br />
conjunto, o valor e o conhecimento: “Quando o mercado inclui a diversidade<br />
qualitativa das obras humanas e a diversidade qualitativa<br />
dos critérios de avaliação, a escolha toma a forma de um julgamento”<br />
(Karpik: 2007, p.58-62).<br />
O relatório da comissão sobre a economia do imaterial encomendado<br />
pelo Ministério da Fazenda francês apresenta o caso da empresa<br />
norte-americana Nike: o custo de produção de seus sapatos esportivos é<br />
estimado em não mais de 4% do preço de venda total; o resto é remuneração<br />
dos ativos imateriais (marca, pesquisa, patentes e o know how da<br />
empresa) (Lévy e Jouyet: 2006, p.12). Enzo Rullani apresenta os mesmos<br />
resultados na análise da composição do valor dos bens de consumo: “Se<br />
uma armação de óculos custa 70 euros ao consumidor final, seu conteúdo<br />
material é igual – no máximo – a 7 euros (o valor pago à fábrica do<br />
produtor manufatureiro)”. O bem material (7 euros) é suporte de algo<br />
intangível que vale 7 vezes mais. Mas não se trata só disso.<br />
Se o produtor material for chinês, o peso relativo do conteúdo tangível<br />
pode cair para 3,5 euros (apenas 5% do valor total). Na direção<br />
oposta, se a armação consegue atrelar-se a uma griffe, seu valor final<br />
pode ser multiplicado por dois (140 euros), dando lugar a uma maisvalia<br />
incomensurável. Estamos, pois, no âmbito da desmedida. De<br />
onde vem esse suplemento de valor para o mesmo objeto de consumo?<br />
Com certeza não se trata mais da tradicional extração de um tempo de<br />
trabalho excedente. Não apenas o conteúdo tangível pesa apenas 5 a<br />
10% do valor pago pelo consumidor final, mas ele gera uma verdadeira<br />
“guerra entre pobres” para defender as partes de manufatura (produto-<br />
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