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avesso as clivagens entre: (1) trabalho e ação e (2) trabalho intelectual<br />

produtivo e improdutivo. A inversão diz respeito às transformações do<br />

intelecto: tornando-se público, o intelecto passa ter como figura emblemática<br />

aquela do executor virtuoso.<br />

Diferentemente da poiesis (trabalho da produção), que é repetitiva,<br />

taciturna, previsível e instrumental, a práxis (ação) diz respeito não às<br />

relações com a matéria (com a natureza), mas às próprias relações sociais.<br />

A ação lida com o possível e o imprevisto, e modifica o contexto<br />

no qual evolui e acontece. Diferentemente do bios theoretikos (pensamento<br />

puro), que é solitário e não aparente, a ação é pública, entregue<br />

à exterioridade, à contingência, ao murmúrio da multidão.<br />

Habermas desenvolveu os temas da colonização do mundo da vida<br />

(e seu agir comunicativo) pela razão instrumental. De maneira parecida,<br />

Arendt afirmava que o capitalismo industrial determina a colonização<br />

da ação pelo trabalho. A práxis se tornava poiesis, um processo de fabricação<br />

cujos produtos são o partido, o Estado, a História. Já na passagem<br />

do fordismo ao pós-fordismo, isto se deu em direção oposta: é a práxis<br />

que coloniza o trabalho. Ou seja, o trabalho introjetou os traços da ação<br />

política, tornou-se práxis. Ao mesmo tempo, esse deslocamento fica em<br />

aberto, como que diante de uma alternativa radical: entre o eclipse da<br />

política (apontada, por exemplo, por Agamben) e a difusão geral de um<br />

novo horizonte político.<br />

É exatamente aqui que entra a discussão sobre o terceiro termo de<br />

comparação, quer dizer, sobre a dinâmica do pensamento puro. É com<br />

relação às formas de vida relacionadas ao intelecto (bios theoretikon)<br />

que se define uma alternativa entre um intelecto difuso (mas fragmentado)<br />

e um intelecto público constituído por novas formas de atividade<br />

livre. Nesse nível, Virno propõe a metáfora do executor virtuoso, deslocando<br />

a distinção que Marx fazia entre trabalho intelectual produtivo<br />

e improdutivo.<br />

Para Marx, o trabalho intelectual produtivo é aquele que se objetiviza<br />

em uma obra que existirá independentemente do ato de produzi-la.<br />

O ato de produzir separa-se do produto: práxis e poiesis se separam. A<br />

produção é mais importante do que a práxis. A mercadoria se separa do<br />

produtor, em objetos distintos das prestações artísticas. São os livros,<br />

os quadros, as estátuas, de quem escreve, pinta ou cria. Esse trabalho<br />

intelectual, dizia Marx, é produtivo porque ele produz mais-valia.<br />

Ao contrário, há um segundo tipo de trabalho intelectual, que não<br />

se objetiviza em obra nenhuma: trata-se das atividades cujos produtos<br />

são inseparáveis do ato de produzir. Nesse caso, a práxis coincide<br />

com a poiesis e a sobredetermina. Estamos falando das atividades que<br />

encontram sua realização em si mesmas – como são todas as execuções<br />

virtuosas dos oradores, dos professores, dos médicos, dos padres,<br />

dos bailarinos, dos músicos em um concerto, de um artista em uma<br />

performance etc. Nesses casos, dizia Marx, temos um trabalho intelec-<br />

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