As tensões temporais em Mrs Dalloway
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momento. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, ela fazia isto acontecer, permitia às pessoas saír<strong>em</strong> de suas vidas<br />
e “realidades” cotidianas. “Every time she gave a party she had this feeling of being<br />
something not herself, and that everyone was unreal in one way; much more real in<br />
another” 215 . É possível pensar que, ao adentrar esta outra realidade – tal como o ator ou a<br />
atriz, no palco -, o indivíduo pode ser outro, para além de ser o que lhe é prescrito a ser, ao<br />
menos por um breve espaço de t<strong>em</strong>po. Entre os convidados que chegam, Clarissa ouve um<br />
nome estranho: Lady Rosseter.<br />
102<br />
But who on earth was Lady Rosseter?<br />
‘Clarissa!’ That voice! It was Sally Seton! Sally Seton! After all these<br />
years! She loomed through a mist. For she hadn’t looked like that,<br />
Sally Seton, when Clarissa grasped the hot water can. To think of her<br />
under this roof, under this roof! Not like that! 216<br />
A l<strong>em</strong>brança que Clarissa t<strong>em</strong> de Sally não está de acordo com sua percepção atual. Toda<br />
<strong>em</strong>oção daquele t<strong>em</strong>po havia se passado, com o passar do t<strong>em</strong>po. O momento – aquele mais<br />
feliz da vida de Clarissa, no qual é beijada por Sally – aconteceu uma única vez; naquele<br />
momento de então. Agora, Sally é outra. A percepção atual não encontra s<strong>em</strong>elhança<br />
suficiente com a percepção passada, e a l<strong>em</strong>brança-imag<strong>em</strong> deixa de se atualizar. Aquele<br />
momento arruinou-se. Clarissa, então, percebe que o t<strong>em</strong>po é outro. Esta mulher, que um dia<br />
foi Sally, agora é Lady Rosseter. “Yet it was extraordinary to see her again, older, happier,<br />
less lovely” 217 . Sally lhe disse que tinha cinco filhos homens. Logo depois, chega o Primeiro<br />
Ministro.<br />
One couldn’t laugh at him. He looked so ordinary. You might<br />
have stood him behind a counter and bought biscuits – poor chap, all<br />
rigged up in gold lace. And to be fair, as he went his rounds, first<br />
with Clarissa, then with Richard escorting him, he did it very well.<br />
He tried to look somebody. It was amusing to watch. Nobody looked<br />
at him. They just went on talking, yet it was perfectly plain that they<br />
215 Id<strong>em</strong>. “De cada vez que dava uma festa, vinha-lhe aquela sensação de não ser ela própria e de que cada<br />
pessoa era irreal <strong>em</strong> certo sentido; e muito mais real por outro lado”. Id<strong>em</strong>.<br />
216 Id<strong>em</strong>. “Mas qu<strong>em</strong> era Lady Rosseter neste mundo? – Clarissa! – Oh! aquela voz! Era Sally Seton! Sally<br />
Seton! depois de tantos anos! Aparecia como através de um nevoeiro. Pois ela não era assim, Sally Seton,<br />
quando Clarissa lhe levava água quente. Pensar que ela estava sob aquele teto, sob aquele mesmo teto! Mas<br />
não como outrora!” p. 164.<br />
217 Id<strong>em</strong>. “Mas era tão extraordinário vê-la de novo, mais feliz, menos encantadora”. Id<strong>em</strong>.