As tensões temporais em Mrs Dalloway
As tensões temporais em Mrs Dalloway
As tensões temporais em Mrs Dalloway
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
against the rocks up here. It is a motor horn down in the street, he<br />
muttered. 111<br />
No entanto, trata-se de um presente fragmentado, s<strong>em</strong> um fio de ligação, s<strong>em</strong> sentido que<br />
possa fabricar uma rede constelatória de contatos. Septimus vive a beleza do mundo, mas não<br />
consegue narrá-la. Eis sua grande condição agonística produzida pelo acontecimento<br />
específico da guerra na t<strong>em</strong>poralidade histórica da Modernidade. A beleza do mundo, sua<br />
constelação, ainda instaura alguma esperança <strong>em</strong> Septimus. “[...] - all of this, calm and<br />
reasonable as it was, made out of ordinary things as it was, was the truth now; beauty, that<br />
was the truth now. Beauty was everywhere” 112 . E o t<strong>em</strong>po presente marca-se na abertura<br />
t<strong>em</strong>poral, <strong>em</strong> sua transparência, mas também na ef<strong>em</strong>eridade do momento.<br />
“It is time,” said Rezia.<br />
The word ‘time’ split its husks; poured its riches over him; and from<br />
his lips fell like shells, like shabings from a plane, without his making<br />
th<strong>em</strong>, hard, white, imperishable words, and flew to attach th<strong>em</strong>selves<br />
to their places in an ode to Time; an immortal ode to Time. He sang.<br />
Evans answered from behind the tree. The dead were in Thessaly,<br />
Evans sang, among the orchids. There they waited till the War was<br />
over, and now the dead, now Evans himself - 113<br />
A força da t<strong>em</strong>poralidade cronológica, que carrega consigo os valores sociais e<br />
morais, varre o momento da expansão e instaura sua condição imperial. Para Septimus, o<br />
limite imposto à unicidade do ser-t<strong>em</strong>po é insuportável, ocasionando seu rompimento. <strong>As</strong><br />
horas reflet<strong>em</strong> o poder dos homens, de suas instituições e de suas destruições. A guerra<br />
retorna, atualiza-se trazendo seus mortos. A t<strong>em</strong>poralidade cronológica corrompe mais uma<br />
vez qualquer possibilidade de comunicação para Septimus, na medida <strong>em</strong> que atualiza sua<br />
condição traumática. Na presença de Evans e de outras t<strong>em</strong>poralidades, a única coisa a fazer é<br />
brincar com a idéia do t<strong>em</strong>po. “‘I will tell you the time’, said Septimus, very slowly, very<br />
drowsily, smiling misteriously, at the dead man in grey suit. <strong>As</strong> he sat smiling, the quarter<br />
111 Id<strong>em</strong>, p. 51. “A terra vibrava debaixo dele. Flores vermelhas cresciam-lhe através da carne; as folhas rígidas<br />
murmuravam junto à sua cabeça. Ali <strong>em</strong> cima, na rocha, começou a ouvir-se música. É uma buzina de auto, lá<br />
<strong>em</strong>baixo, na rua, disse ele; [...]”. p. 68.<br />
112 Id<strong>em</strong>, p. 52. “[…] tudo aquilo, assim tranqüilo e razoável, constituído de coisas ordinárias, era a verdade;<br />
beleza, esta era a verdade. A beleza estava <strong>em</strong> toda a parte”. p. 69.<br />
113 Id<strong>em</strong>. “- Está na hora – disse Rezia. A palavra ‘hora’ rebentou sua casca; derramou seus tesouros sobre ele; e<br />
de seus lábios tombaram, como escamas, como limalhas, s<strong>em</strong> que ele nada fizesse para isso, duras, brancas,<br />
imortais palavras, que voaram, colocando-se por si mesmas no seu devido lugar <strong>em</strong> uma ode ao T<strong>em</strong>po; uma<br />
imortal ode ao T<strong>em</strong>po. Cantou. Evans respondia por detrás da árvore. Os mortos estavam na Tessália, Evans<br />
cantava, entre as orquídeas. Ali tinham esperado que a guerra terminasse, e agora os mortos, agora o próprio<br />
Evans...” Id<strong>em</strong>.<br />
52