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As tensões temporais em Mrs Dalloway

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<strong>As</strong>sim, ele começa a fazer um movimento de distanciamento do mesmo, enclausurando-se <strong>em</strong><br />

um mundo cada vez mais próprio e solitário. É ainda neste processo de atualização de sua<br />

m<strong>em</strong>ória, <strong>em</strong> confronto com o t<strong>em</strong>po presente que Septimus, enfim, desiste da tentativa de<br />

recuperar qualquer coisa que possa ter sobrevivido à experiência detonadora da guerra.<br />

At last, with a melodramatic gesture which he assumed<br />

mechanically and with complete consciousness of its insincerity, he<br />

dropped his head on his hands. Now he had surrended; now other<br />

people must help him. People must be sent for. He gave in. 120<br />

De forma mecânica, quase como uma máquina, Septimus desiste das ruínas de sua<br />

singularidade e se entrega aos valores descritivos e exatos aplicados pelo saber médico. Tal<br />

como o movimento massificado do hom<strong>em</strong> na multidão, Septimus deixa-se levar pelas forças<br />

da relação entre saber e poder instituídas na sociedade, perdendo-se mais ainda de si mesmo.<br />

Este fluxo t<strong>em</strong>poral da narrativa, efetivado pela atualização do passado, possibilita ao<br />

leitor o conhecimento da história de Septimus e até mesmo de seu destino. A desconstrução<br />

da linearidade t<strong>em</strong>poral, instituída pela t<strong>em</strong>poralidade cronológica, conduz a outra forma de<br />

contar uma história: é somente o meio da narrativa que comprova, ou direciona, seu início e<br />

antecede seu fim. É neste momento do processo narrativo que Septimus aparece antes de sua<br />

experiência traumática e, antes, no sentido da antecipação de sua morte. Sua desistência<br />

marca uma segunda morte, posterior à efetuada pelo trauma de sua experiência na guerra.<br />

Uma terceira morte, ou a finalização destas marcações de morte, antecipa-se cada vez mais. O<br />

momento presente pode ser lido como um ponto de condensação das t<strong>em</strong>poralidades vividas<br />

por Septimus. A quebra t<strong>em</strong>poral na narrativa d<strong>em</strong>onstra o entrecruzamento das<br />

t<strong>em</strong>poralidades nas experiências da própria vida e faz jus à concepção do ser-t<strong>em</strong>po enquanto<br />

existência s<strong>em</strong>pre no presente. Enclausurado na verdade do diagnóstico médico, Dr Holmes<br />

coloca Septimus <strong>em</strong> uma espécie de terapia de repouso, na medida <strong>em</strong> que não há nada de<br />

“errado” com ele, apenas sintomas dos nervos. Septimus, no entanto, atesta novamente sua<br />

morte. “So there was no excuse; nothing whatever the matter, except the sin for which human<br />

nature had cond<strong>em</strong>ned him to death; that he did not feel”. 121<br />

120 Id<strong>em</strong>, p. 67. “Afinal, com um melodramático gesto que fazia automaticamente e com inteira consciência da<br />

sua insinceridade, Septimus pendeu a cabeça entre as mãos. Estava rendido, agora; tinham de socorrê-lo. Era<br />

preciso chamar gente. Desmaiou”. p. 88.<br />

121 Id<strong>em</strong>. “De modo que não havia mesmo desculpa; não tinha absolutamente nada, exceto o pecado pelo qual a<br />

natureza humana o condenava à morte, o pecado de não sentir”. p. 89.<br />

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