14.04.2013 Views

As tensões temporais em Mrs Dalloway

As tensões temporais em Mrs Dalloway

As tensões temporais em Mrs Dalloway

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

106<br />

‘Come and talk to Aunt Helena about Burma,’ said Clarissa. And yet<br />

he had not had a word with her all the evening. ‘We will talk later,’<br />

said Clarissa, leading him up to Aunt Helena, in her white shawl,<br />

with her stick. 225<br />

Clarissa deixa Peter e Miss Parry sozinhos, l<strong>em</strong>brando do passado, e sai para<br />

conversar com Lady Bruton. Esta trajetória efetuada por Clarissa não permite que ela consiga<br />

realmente conversar com seus convidados. Parece que ela só passa entre eles, de um ao outro,<br />

d<strong>em</strong>onstrando a fragilidade desses laços, amarrados quase que unicamente pelo locus social.<br />

Lady Bruton nunca sabia o quê falar à Clarissa, mesmo gostando dela. Acreditava não haver<br />

absolutamente nada <strong>em</strong> comum entre elas – será que não se dava conta de que ambas são<br />

mulheres? -, então falou de Peter Walsh, que lá estava, com Miss Parry. Lady Bruton gostava<br />

de conversar sobre política e sobre a Índia, com Peter. Gostaria de marcar um almoço com ele<br />

para discutir certas questões. Ela era patriota ao extr<strong>em</strong>o, para além da própria noção de vida.<br />

“To be not English even among the dead – no, no! Impossible!” 226 . Se Millicent Bruton não<br />

fosse mulher, seria o melhor de todos os soldados e defenderia sua pátria até o fim da vida.<br />

[...] and if ever a woman could have worn the helmet and shot<br />

the arrow, could have led troops to attack, ruled with indomitable<br />

justice barbarian hordes and lain under a shield noseless in a church,<br />

or made a green grass mound on some primeval hillside, that woman<br />

was Millicent Bruton. 227<br />

Se Lady Bruton não estivesse amarrada a um corpo f<strong>em</strong>inino, ela teria possibilidade de<br />

realizar, verdadeiramente, seu amor à pátria. Enquanto mulher, sua participação <strong>em</strong> causas<br />

políticas –ela possuía um nome de grande valor e uma boa quantidade de dinheiro -, era<br />

necessariamente intermediada pelos homens. Por isso, a importância dos seus almoços, nos<br />

quais só eram convidadas pessoas com grande influência social, ou com conhecimento sobre<br />

os acontecimentos para além da metrópole londrina. Lady Bruton era, certamente, uma<br />

mulher à frente do seu t<strong>em</strong>po.<br />

225 Id<strong>em</strong>, p. 129-130. “ – V<strong>em</strong> conversar com tia Helena sobre Burma – disse Clarissa. E ele ainda não havia<br />

trocado nenhuma palavra com ela toda a noite. – Falar<strong>em</strong>os mais tarde – disse Clarissa, levando-o para onde se<br />

achava tia Helena, com o seu xale branco e o seu bastão”. Id<strong>em</strong>.<br />

226 Id<strong>em</strong>, p. 131. “Deixar de ser inglesa, mesmo entre os mortos... nunca!” p. 173.<br />

227 Id<strong>em</strong>. “[...] e se jamais uma mulher fosse capaz de cingir o elmo e arr<strong>em</strong>essar a flecha, conduzir tropas ao<br />

ataque, governar as hordas bárbaras com indomável justiça e repousar depois, sob um escudo roto, numa<br />

igreja, ou sob a verde relva de uma colina antiga – essa mulher seria Millicent Bruton”. Id<strong>em</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!