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As tensões temporais em Mrs Dalloway

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do espírito e, pensando de outra forma, como força de resistência à t<strong>em</strong>poralidade na qual o<br />

indivíduo é habituado a viver:<br />

[...] toda imag<strong>em</strong>-l<strong>em</strong>brança capaz de interpretar nossa<br />

percepção atual insinua-se nela, a ponto de não podermos mais<br />

discernir o que é percepção e o que é l<strong>em</strong>brança. [...] <strong>As</strong>sim, criamos<br />

ou reconstruímos a todo instante. 63<br />

Atualizar a experiência de um t<strong>em</strong>po passado <strong>em</strong> sua máxima vivacidade – ou na sua<br />

melhor condição de pureza - possibilita ao indivíduo moderno viver uma extra-t<strong>em</strong>poralidade<br />

e, dessa forma, escapar “brev<strong>em</strong>ente” - ou <strong>em</strong> vários “agoras” – à t<strong>em</strong>poralidade que o<br />

condena a um padrão de existência impessoal e solitário. A abertura à extra-t<strong>em</strong>poralidade<br />

possibilita o encontro não só com outras t<strong>em</strong>poralidades, mas com a unicidade t<strong>em</strong>poral<br />

oferecida pelo ser-t<strong>em</strong>po. De acordo com Benjamin, a filosofia de Bergson ganha importância<br />

ao d<strong>em</strong>onstrar que “[...] a estrutura da m<strong>em</strong>ória é considerada como decisiva para a estrutura<br />

filosófica da experiência” 64 , ou seja, na t<strong>em</strong>poralidade moderna não existe mais a<br />

possibilidade de viver uma experiência coletiva, a não ser através deste pensamento filosófico<br />

ou de algumas narrativas literárias. Para Benjamin, além da filosofia, a obra Em Busca do<br />

T<strong>em</strong>po Perdido, de Proust 65 , por ex<strong>em</strong>plo, possibilita ao seu leitor o contato com a abertura<br />

t<strong>em</strong>poral, através da atualização das l<strong>em</strong>branças-imagens de seu personag<strong>em</strong>. A abertura do<br />

t<strong>em</strong>po presente <strong>em</strong> sua plenitude, quando da atualização da m<strong>em</strong>ória mais pura, d<strong>em</strong>onstra<br />

que o t<strong>em</strong>po marcado cronologicamente constitui apenas uma função social, não uma maneira<br />

de experimentar o mundo. A filosofia de Bergson e a literatura de Proust oferec<strong>em</strong> a<br />

possibilidade de tornar presente o contato com outros t<strong>em</strong>pos, efetuando uma rede de<br />

comunicabilidade que, mesmo não podendo mais ser vivida na realidade, ainda pode ser<br />

acessada e experimentada através da linguag<strong>em</strong>.<br />

De acordo com Jeanne-Marie Gagnebin 66 , Benjamin preocupa-se com a recuperação<br />

de “[...] uma m<strong>em</strong>ória e uma palavra comuns[...]” 67 que possam restituir ao indivíduo<br />

moderno um lugar na rede coletiva. A ausência, na Modernidade, da m<strong>em</strong>ória comum e da<br />

tradição seria o motivo da impossibilidade da Erfahrung, pois estas “[...] garantiriam a<br />

63<br />

Id<strong>em</strong>, p. 82.<br />

64<br />

BENJAMIN, Walter. Sobre Alguns T<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Baudelaire. Charles Baudelaire. Um lírico no auge do<br />

capitalismo, op. cit., p. 105.<br />

65<br />

<strong>As</strong> considerações sobre a obra de Proust advém do ensaio de Gagnebin, citado acima.<br />

66<br />

GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Walter Benjamin ou a história aberta. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica,<br />

arte e política. Ensaios sobre a literatura e história da cultura, op. cit..<br />

67<br />

Id<strong>em</strong>, p. 9.<br />

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