As tensões temporais em Mrs Dalloway
As tensões temporais em Mrs Dalloway
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funcionamento disciplinar da t<strong>em</strong>poralidade cronológica. Sir William Bradshaw é o modelo a<br />
ser seguido pelos homens, de acordo com seu senso de proporção, o que instaura uma prática<br />
de padronização. Da mesma maneira, Lady Bradshaw, sua esposa, deve ser a referência da<br />
padronização às mulheres, de acordo com sua exatidão t<strong>em</strong>poral nos afazeres domésticos.<br />
Esta passag<strong>em</strong> oferece outra tensão referente ao amor à pátria. Septimus se expôs à<br />
guerra devido ao seu amor pela Inglaterra, país de Shakespeare e Miss Pole. No entanto, seu<br />
desfecho foi mais trágico. Nesta t<strong>em</strong>poralidade histórica, é Sir William <strong>em</strong> sua proporção<br />
qu<strong>em</strong> prospera. Diversas <strong>tensões</strong> estão presentes no ser-t<strong>em</strong>po e nenhuma é excludente da<br />
outra. Logo após a afirmação da proporção, a narrativa instala outra tensão, pressupondo que<br />
este sentido tão disciplinar e tão exato, seja o senso da própria loucura. “Sir William with his<br />
thirty years’ experience of these kinds of cases, and his infallible instinct, this is madness, this<br />
sense: his sense of proportion” 135 . O contraste entre os sentidos se presentifica: o “sense of<br />
proportion” de Sir William não oferece lugar à falta de sentido do Septimus, pois quando o<br />
sentido falta, não é possível lhe oferecer qualquer proporção. Seguir o modelo de Sir William<br />
não é possível. Seguir uma proporção tão exata <strong>em</strong> um mundo tão múltiplo também não é<br />
possível. “This is madness”. Eis que aparece na narrativa a Conversão, irmã da Proporção.<br />
Estas duas forças, que se entrelaçam, oprim<strong>em</strong> a força singular do indivíduo e d<strong>em</strong>andam sua<br />
conversão a uma verdade alheia e imposta. O poder do saber médico, dado pela medida de<br />
proporção singular do Sir William, produz um indivíduo identificado ao sentido alheio e cada<br />
vez mais alienado de seu próprio sentido. <strong>As</strong>sim, a constelação de uma possível multidão se<br />
desfaz e o indivíduo é convertido à homogeneidade da massa. Poder producente do hábito.<br />
Conversion is her name and she feasts on the wills of the<br />
weakly, loving to impress, to impose, adoring her own features<br />
stamped on the face of the populace. At Hyde Park Corner on a tub<br />
she stands preaching; shrouds herself in white and walks penitentially<br />
disguised as brotherly love through factories and parliaments; offers<br />
help, but desires power; smites out of her way roughly the dissentient,<br />
or dissatisfied; bestows her blessings on those who, looking upward,<br />
catch submissively from her eyes the light of their own. 136<br />
135 Id<strong>em</strong>, p. 74. “Sir William, com os seus trinta anos de experiência desses casos, o seu infalível instinto: isto é<br />
loucura, isto é senso; o seu senso da medida”. Id<strong>em</strong>.<br />
136 Id<strong>em</strong>. “Conversão é o seu nome, e regala-se na vontade dos débeis, pois ama convencer, impor-se, e adora as<br />
próprias feições estampadas na face do populacho. Em Hyde Park Corner, predica, sobre um barril; veste-se de<br />
branco e vai penitencialmente disfarçada de fraternidade, por fábricas e parlamentos; oferece auxílio, mas<br />
deseja poder; afasta brutalmente do caminho o dissidente ou o insatisfeito; outorga a sua bênção àqueles que,<br />
erguendo a cabeça, receb<strong>em</strong> submissamente, dos olhos dela, a luz dos próprios olhos”. p. 98.<br />
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