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As tensões temporais em Mrs Dalloway

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A vida metropolitana, assim, implica uma consciência elevada<br />

e uma predominância da inteligência no hom<strong>em</strong> metropolitano. A<br />

reação aos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que<br />

é menos sensível e bastante afastado da zona mais profunda da<br />

personalidade. A intelectualidade, assim, se destina a preservar a vida<br />

subjetiva contra o poder avassalador da vida metropolitana. 45<br />

De acordo com Simmel, o intelecto está associado às relações racionais, objetivas e<br />

mensuráveis do indivíduo <strong>em</strong> seu meio. Daí também a importância do funcionamento<br />

econômico da metrópole - valorização do dinheiro como objeto de troca calculado de forma<br />

precisa, e do funcionamento habitual de seus habitantes pelos ponteiros certeiros do relógio.<br />

Através da natureza calculativa do dinheiro, uma nova<br />

precisão, uma certeza na definição de identidades e diferenças, uma<br />

ausência de ambigüidade nos acordos e combinações surgiram nas<br />

relações de el<strong>em</strong>entos vitais – tal como externamente esta precisão<br />

foi efetuada pela difusão universal dos relógios de bolso. 46<br />

Esta forma extr<strong>em</strong>amente determinista e objetiva da vida metropolitana tornou seus<br />

indivíduos mais massificados, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que mais singulares. Simmel concebe este<br />

novo fenômeno psíquico na atitude blasé, que,<br />

resulta <strong>em</strong> primeiro lugar dos estímulos contrastantes que, <strong>em</strong> rápidas<br />

mudanças e compressão concentrada são impostos aos nervos. [...].<br />

Uma vida <strong>em</strong> perseguição desregrada ao prazer torna uma pessoa<br />

blasé porque agita os nervos até seu ponto de mais forte reatividade<br />

por um t<strong>em</strong>po tão longo que eles finalmente cessam completamente<br />

de reagir. [...] Surge assim a incapacidade de reagir a novas sensações<br />

com a energia apropriada. 47<br />

Esta atitude consiste basicamente numa pobreza de discriminação das percepções<br />

externas, fazendo com que os objetos sejam todos nivelados <strong>em</strong> um mesmo plano, tal como a<br />

homogeneidade dos indivíduos na massa. A reserva na relação entre os indivíduos<br />

metropolitanos, então, possibilita a auto-preservação dos mesmos enquanto singularidades,<br />

dando-lhes resistência à indicação da homogeneização oferecida pelas pontuações do capital e<br />

45<br />

SIMMEL, Georg. A Metrópole e a Vida Mental. In: VELHO, Otávio Guilherme (org.). O Fenômeno Urbano.<br />

São Paulo: Zahar, 1979. p. 15.<br />

46<br />

Id<strong>em</strong>, p. 16-17.<br />

47<br />

Id<strong>em</strong>, p. 18.<br />

26

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