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As tensões temporais em Mrs Dalloway

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Peter, for example, thinking her so brilliant), had a hollowness; at<br />

arm’s length they were, not in the heart; and it might be that she was<br />

growing old, but they satisfied her no longer as they used [...] 220<br />

Ao acompanhar a realeza, Clarissa sente a intensidade do momento, que lhe oferece o<br />

reconhecimento de ser parte da sociedade aristocrática, representando a anfitriã perfeita. No<br />

entanto, a duração desta intoxicação é passageira; estes momentos já não a satisfaz<strong>em</strong> mais.<br />

Com o envelhecimento de Clarissa, o reconhecimento social anteriormente tão almejado, é<br />

percebido como vazio de sentidos, oco. Logo lhe veio a l<strong>em</strong>brança de Miss Kilman, sua<br />

inimiga. Isto, sim, era satisfatório, real, significante. Pensava <strong>em</strong> como a odiava por ter<br />

“seduzido” sua Elizabeth; amava-a e odiava-a, simultaneamente. Deduziu que as pessoas<br />

quer<strong>em</strong> ter inimigos, não amigos. Enxergou seu velho amigo, Sir Harris, hom<strong>em</strong> que produziu<br />

os piores filmes enquanto cursava a St John Wood’s. Estavam rindo de uma de suas histórias,<br />

que não poderia ser contada a Clarissa, devido ao seu status social; circulava numa classe<br />

muito superior. Apareceu, então, <strong>Mrs</strong> Hilbery, que ouvia a risada de Sir Harry “[...] as she<br />

heard it across the room, se<strong>em</strong>ed to reassure her on a point which sometimes bothered her if<br />

she woke early in the morning and did not like to call her maid for a cup of tea: how it is<br />

certain we must die”. 221<br />

O pensamento sobre a morte invade a festa, pela primeira vez. Para <strong>Mrs</strong> Hilbery, a<br />

morte representa a certeza mais angustiante da vida. O fim desta acabaria com a distinção<br />

entre classes e funções sociais, entre o poder de um gênero sobre o outro. Talvez, para <strong>Mrs</strong><br />

Hilbery, que ocupava um lugar privilegiado na sociedade, apesar de ser mulher – afinal,<br />

estava na festa de <strong>Mrs</strong> <strong>Dalloway</strong> – a vida era muito boa, pois seu lugar está posicionado acima<br />

de muitos outros, como, por ex<strong>em</strong>plo, o lugar de sua <strong>em</strong>pregada, que vive para servi-la 222 .<br />

220 Id<strong>em</strong>, p. 126-127. “[...] sentira ela a <strong>em</strong>briaguez do momento, essa dilatação dos nervos do próprio coração,<br />

que parecia palpitar, crescer, elevar-se... sim, pois afinal era isso o que os outros sentiam; pois, <strong>em</strong>bora<br />

gostasse daquilo e o sentisse espicaçá-la e estimulá-la, o fato é que aquelas aparências, aqueles triunfos (que o<br />

querido velho Peter, por ex<strong>em</strong>plo, a julgasse tão brilhante), tudo eram coisas completamente ocas; coisas de<br />

fora, não do coração; podia ser que estivesse ficando velha, mas na verdade não a satisfaziam mais como de<br />

costume; [...]” p.167.<br />

221 Id<strong>em</strong>, p. 127. “[..] tendo-o ouvido através do salão, considerou um alívio, talvez, para a angústia que sentia às<br />

vezes, ao despertar de manhã cedo, e que a impedia até de encomendar o chá à criada; a certeza de que t<strong>em</strong>os<br />

que morrer”. p. 168.<br />

222 Um dos movimentos no campo da teoria f<strong>em</strong>inista foi o de analisar as diferenças que constitu<strong>em</strong> a categoria<br />

da “mulher”, ou seja, unificar as d<strong>em</strong>andas dos diversos grupos de mulheres <strong>em</strong> um só movimento político a<br />

favor da valorização da diferença, incluindo aí as outras áreas de pesquisa, como a crítica literária. Para<br />

Richard, “se nos situamos no campo da crítica literária, s<strong>em</strong> dúvida alguma que a revolução desconstrutiva<br />

teve o inquestionável valor de revisar as teses de uma primeira crítica f<strong>em</strong>inista que, baseada na naturalização<br />

da diferença sexual, afirmava que ‘a escritura das mulheres’ devia expressar ‘o f<strong>em</strong>inino’, como se esse

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