As tensões temporais em Mrs Dalloway
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struck – the quarter to twelve” 114 . Nesta passag<strong>em</strong>, a palavra ‘time’ pronunciada por Rezia,<br />
carrega sua materialidade no espaço, d<strong>em</strong>onstra seu peso de referência, no mesmo t<strong>em</strong>po da<br />
aparição de Evans, que carrega sua materialidade da morte ou de um passado que está e estará<br />
eternamente presente. <strong>As</strong> t<strong>em</strong>poralidades estão presentes <strong>em</strong> seus contrastes: t<strong>em</strong>poralidade<br />
cronológica <strong>em</strong> contraste com outro t<strong>em</strong>po - da morte -, t<strong>em</strong>poralidade da exclusão de<br />
qualquer medida e qualquer saber instituído. A frase “It is time” pode estar marcando a<br />
t<strong>em</strong>poralidade cronológica, mas também o momento da revelação de outras t<strong>em</strong>poralidades,<br />
tensionadas.<br />
No caminho do consultório de Sir William Bradshaw, a voz anônima do narrador<br />
relata a trajetória do casal Warren Smith pela cidade de Londres e adentra na história de<br />
Septimus. Algo de seu passado é transposto para o presente através de uma voz externa a ele,<br />
atestando que Septimus não consegue mais falar de si e de sua história. Pode-se pensar que<br />
seu contato com o passado, através da m<strong>em</strong>ória, sofreu ruptura s<strong>em</strong>elhante à da sua<br />
comunicação: falta de lugar para si no mundo e na própria trajetória de vida. A defasag<strong>em</strong> da<br />
Erfahrung benjaminiana equivale a uma defasag<strong>em</strong> de si <strong>em</strong> suas diversas t<strong>em</strong>poralidades. É<br />
necessário que um narrador fale de Septimus, pois talvez não haja mais lugar para que sua voz<br />
traumática se enuncie.<br />
[He] [...] had left home, a mere boy, because of his mother; she<br />
lied; because he had come down to tea for the fiftieth time with his<br />
hands unwashed; because he could see no future for a poet in Stroud;<br />
and so, making a confidant of his little sister, had gone to London<br />
leaving an absurd note behind him, such as great men have written,<br />
and the world has read later when the story of their struggles has<br />
become famous.<br />
London has swalled up many millions of young men called Smith;<br />
thought nothing of fantastic Christian names like Septimus with<br />
which their parents have thought to distinguish th<strong>em</strong>. 115<br />
Septimus não é mais o mesmo. Sua condição existencial era outra. Sonhava <strong>em</strong> ser poeta. Mas<br />
Londres, e especificamente a Inglaterra, o havia engolido. Seu sonho de trabalhar com as<br />
114 Id<strong>em</strong>, p. 53. “– Vou dizer-te a hora – disse Septimus, devagar, sonolentamente, sorrindo com ar misterioso<br />
para o morto de gris. Enquanto ele se sentava, a sorrir, o quarto de hora bateu – um quarto para as doze”. p. 70.<br />
115 Id<strong>em</strong>, p. 63. “[…] deixara a casa <strong>em</strong> menino, por causa da sua mãe; esta não se mostrava sincera; porque<br />
descera ele para o chá, pela qüinquagésima vez, de mãos sujas; porque não via nenhum futuro para um poeta<br />
<strong>em</strong> Stroud; e assim, tomando como confidente a sua irmãzinha, deixando um absurdo bilhete <strong>em</strong> casa, desses<br />
que os grandes homens escreveram e o mundo lê mais tarde, quando se torna famosa a história das suas lutas.<br />
Londres tragara muitos milhões de jovens chamados Smith; não acha nada de fantástico <strong>em</strong> nomes como<br />
Septimus, com que os pais pensaram distingui-lo”. p. 83.<br />
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