14.04.2013 Views

As tensões temporais em Mrs Dalloway

As tensões temporais em Mrs Dalloway

As tensões temporais em Mrs Dalloway

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

muitas vividas no breve século XX, de acordo com Hobsbawm 23 – que rasgariam um lapso na<br />

t<strong>em</strong>poralidade dominada pelos “vencedores”, permitindo a abertura para novas configurações.<br />

Como ilustração e metáfora, Benjamin utiliza o quadro de Paul Klee - Angelus Novus - no<br />

qual aparece a figura de um anjo que poderia estar representando o anjo da história concebido<br />

na t<strong>em</strong>poralidade da Modernidade. Em seu eterno movimento <strong>em</strong> direção ao futuro - através<br />

da t<strong>em</strong>pestade que representa o t<strong>em</strong>po do progresso e que o carrega - o anjo da história<br />

acumula diversos fragmentos aos seus pés. Estes seriam as ruínas dos “agoras” que são<br />

esquecidas ou deixadas de lado. Benjamin descreve sua expressão catastrófica:<br />

Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas<br />

abertas [...] Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós v<strong>em</strong>os<br />

uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que<br />

acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos<br />

pés. 24<br />

O t<strong>em</strong>po de uma possível pausa nesta t<strong>em</strong>pestade para o recolhimento de ao menos alguns<br />

destes restos acumulados, não é possibilitado. A permanente força do “progresso” faz com<br />

que muita História se torne pura ruína.<br />

Benjamin concebe a História como possibilidade de recuperação destas ruínas, ou, das<br />

outras histórias que são esquecidas pois são oprimidas pela história oficial e institucionalizada<br />

como verdadeira. O anjo de Klee estaria imerso <strong>em</strong> um estado catastrófico, enquanto<br />

impossibilitado de recorrer ao amontoado s<strong>em</strong>pre excedente das ruínas <strong>t<strong>em</strong>porais</strong>. A<br />

t<strong>em</strong>poralidade da Modernidade, ou seja, uma t<strong>em</strong>poralidade social, pode ser pensada como o<br />

reflexo deste anjo. A idéia do progresso é o motor dos ideais modernos. Em “Paris do<br />

Segundo Império” e “Sobre Alguns T<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Baudelaire” 25 , Walter Benjamin relata alguns<br />

movimentos - impulsionados pelo l<strong>em</strong>a do progresso - que constitu<strong>em</strong> e transformam a<br />

t<strong>em</strong>poralidade moderna. <strong>As</strong> revoluções decorridas de diversos movimentos de lutas sociais, a<br />

invenção de variadas tecnologias, o novo sist<strong>em</strong>a de trabalho, as novas formas de expressão<br />

cultural – entre outras renovações deste período - permit<strong>em</strong> pensar a Modernidade enquanto<br />

23<br />

HOBSBAWM, Eric. Era dos extr<strong>em</strong>os. O breve século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,<br />

1995.<br />

24<br />

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. Magia e técnica, arte e política, op. cit., p. 226.<br />

25<br />

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire. Um lírico no auge do capitalismo. Obras Escolhidas III - 3 ed. São<br />

Paulo: Brasiliense, 1994.<br />

18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!