As tensões temporais em Mrs Dalloway
As tensões temporais em Mrs Dalloway
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perfectly true that she had not asked Ellie Henderson to her party; but<br />
she had done it on purpose. Now <strong>Mrs</strong> Marsham wrote: ‘She had told<br />
Ellie Henderson she would ask Clarissa – Ellie so much wanted to<br />
come’ 191<br />
No mesmo momento <strong>em</strong> que a hora soa irritante para Clarissa, devido ao seu sentimento<br />
presente de irritação e preocupação, o momento soa musical para Richard, que está prestes a<br />
d<strong>em</strong>onstrar seu amor por Clarissa. A forma de apreender a t<strong>em</strong>poralidade cronológica<br />
depende da afetividade de cada um, por isso essas t<strong>em</strong>poralidades não estão separadas entre<br />
si, apenas intensificam sua tensão. O momento de plenitude de Richard – “It is this” –<br />
contrasta com o t<strong>em</strong>po irrevogável das horas, que r<strong>em</strong>ete ao futuro e ao passar do t<strong>em</strong>po,<br />
enquanto ‘perda’ de t<strong>em</strong>po, muito mais do que ao presente. A sensação de simplesmente dizer<br />
à Clarissa que a ama, começa a carregar um peso de dever, através das batidas insistentes do<br />
relógio. A simples tarefa de Richard parece tornar-se cada vez mais complicada. Enquanto<br />
isso, Clarissa pensava nos seus deveres: por quê convidar todas as mulheres chatas de Londres<br />
para a sua festa? Por que a interferência de <strong>Mrs</strong> Marsham? E pensava <strong>em</strong> Elizabeth, trancada<br />
no quarto com Doris Kilman, rezando a esta hora do dia. Não havia nada que lhe causasse<br />
mais náusea.<br />
And the sound of the bell flooded the room with its melancholy<br />
wave; which receded, and gathered itself together to fall once more,<br />
when she heard, distractingly, something fumbling, something<br />
scratching at the door. Who at this hour? Three, good Heavens! Three<br />
already! For with overpowering directness and dignity the clock<br />
struck three; and she heard nothing else; but the door handle slipped<br />
round and in came Richard! What a surprise! In came Richard,<br />
holding out flowers [...] (but he could not bring himself to say he<br />
loved her; not in so many words). 192<br />
191 Id<strong>em</strong>, p. 86. “É isto, disse consigo, ao entrar <strong>em</strong> Dean’s Yard. O Big Ben começava a ressoar, primeiro a<br />
advertência, musical; depois a hora; irrevocável. Os almoços fora faz<strong>em</strong> perder toda a tarde, pensou,<br />
aproximando-se da sua porta. <strong>As</strong> batidas do Big Ben inundavam o salão de Clarissa, que estava sentada,<br />
aborrecida, à sua escrivaninha; mal-humorada; aborrecida. Era b<strong>em</strong> verdade que não convidara Ellie<br />
Henderson para a sua festa; mas fizera-o de propósito. E agora <strong>Mrs</strong>. Marsham escrevia: ‘Dissera a Ellie<br />
Henderson que pediria a Clarissa... Ellie tinha tanta vontade de ir...’” p. 114.<br />
192 Id<strong>em</strong>. “E o som do sino inundava a sala com a sua vaga melancolia, que se retirava e novamente alvoroçavase<br />
para investir uma vez mais, quando ouviu, distraidamente, alguma coisa tateando, alguma coisa arranhando<br />
a porta. Qu<strong>em</strong> seria, àquela hora? Três, Meu Deus! Já três horas! Pois, com imponente decisão e dignidade, o<br />
relógio bateu três horas; e ela não ouviu mais nada; mas o trinco da porta girou e entrou Richard! Que<br />
surpresa! Entrou Richard, trazendo flores. [...] (Mas não conseguia dizer que a amava; não com essas mesmas<br />
palavras.)”. Id<strong>em</strong>.<br />
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