14.04.2013 Views

As tensões temporais em Mrs Dalloway

As tensões temporais em Mrs Dalloway

As tensões temporais em Mrs Dalloway

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

3 A AGONIA TEMPORAL EM CLARISSA<br />

<strong>Mrs</strong>. <strong>Dalloway</strong> said she would buy the flowers herself.<br />

For Lucy had her work cut out for her. The doors would be taken off<br />

their hinges; Rumpelmayer’s men were coming. And then, thought<br />

Clarissa <strong>Dalloway</strong>, what a morning – fresh as if issued to children on<br />

the beach.<br />

What a lark! What a plunge! For so it had always se<strong>em</strong>ed to her<br />

when, with a little squeak of the hinges, which she could hear now,<br />

she had burst open the French windows and plunged at Bourton into<br />

the open air. 151<br />

Clarissa inicia sua trajetória dizendo que irá, ela mesma, comprar as flores. Sua frase<br />

inicia também a entrada do leitor no universo de <strong>Mrs</strong> <strong>Dalloway</strong>, narrativa que lhe oferece a<br />

possibilidade de participar de um dia da vida de uma mulher, o dia de sua festa,<br />

acontecimento que d<strong>em</strong>arcará o ponto de encontro entre diversos personagens, que também<br />

atravessam este mesmo espaço de t<strong>em</strong>po, mas de maneiras singulares. <strong>Mrs</strong> <strong>Dalloway</strong><br />

relativiza a noção t<strong>em</strong>poral do dia, não só <strong>em</strong> relação às experiências de seus personagens,<br />

mas <strong>em</strong> relação à intensidade da força da m<strong>em</strong>ória. Neste primeiro parágrafo, Clarissa se<br />

desloca dos “deveres” 152 que lhe são impostos dentro da t<strong>em</strong>poralidade cronológica e flui à<br />

manhã esplêndida de Bourton, tão s<strong>em</strong>elhante à manhã deste dia, possibilitada pela força<br />

presente da l<strong>em</strong>brança. A s<strong>em</strong>elhança entre a percepção passada e a presente condiz com o<br />

que Bergson afirma <strong>em</strong> sua teorização sobre a atualização da l<strong>em</strong>brança-imag<strong>em</strong>; quanto<br />

maior a s<strong>em</strong>elhança entre as percepções, maior a possibilidade de retorno de uma experiência<br />

passada, <strong>em</strong> sua máxima vivacidade. Bourton torna-se intensamente presente através do<br />

barulho das portas, que abr<strong>em</strong> as janelas para a beleza da manhã. A saída deste pequeno fluxo<br />

r<strong>em</strong><strong>em</strong>orativo ocorre quando Clarissa pensa <strong>em</strong> Peter, na possibilidade de encontrá-lo no<br />

futuro: “He would be back from India one of these days, June or July, for his letters were dull;<br />

it was his sayings one r<strong>em</strong><strong>em</strong>bered [...]” 153 . Seu pensamento é pontuado pela referência dada<br />

através da t<strong>em</strong>poralidade cronológica, na qual o futuro aparece como t<strong>em</strong>po de incertezas,<br />

151 WOOLF, Virginia. <strong>Mrs</strong> <strong>Dalloway</strong>, op. cit., p. 3. “<strong>Mrs</strong>. <strong>Dalloway</strong> disse que ela própria iria comprar as flores.<br />

Quanto a Lucy, já estava com o serviço determinado. <strong>As</strong> portas seriam retiradas dos gonzos; <strong>em</strong> pouco<br />

chegaria o pessoal de Rumpelmayer. Mas que manhã, pensou Clarissa <strong>Dalloway</strong> – fresca como para crianças<br />

numa praia! Que frêmito! Que mergulho! Pois s<strong>em</strong>pre assim lhe parecera quando, com um leve ringir de<br />

gonzos que ainda agora ouvia, abria de súbito as vidraças e mergulhava ao ar livre, lá <strong>em</strong> Bourton”. p. 7.<br />

152 Que lhes são dados fundamentalmente <strong>em</strong> função de seu gênero.<br />

153 WOOLF, Virginia. <strong>Mrs</strong> <strong>Dalloway</strong>, op. cit., p. 3. “Regressaria da Índia por um dia desses, <strong>em</strong> junho ou julho,<br />

não se l<strong>em</strong>brava b<strong>em</strong>, pois as suas cartas eram incrivelmente aborrecidas; os seus ditos é que ficavam na<br />

m<strong>em</strong>ória; [...]”. Id<strong>em</strong>.<br />

71

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!